Entregue a essas
amargas inquirições, vi-me pequenina e senil a sensação das lágrimas maternas orvalhando
as minhas faces. Recordava-me dos menores detalhes do lar, quando experimentei
sobre os ombros o contato de veludosas mãos. Ergui repentinamente o meu olhar
e, - oh, maravilha! – vi minha mãe a contemplar-me com a melhor das expressões
de ternura e amor.
Como me senti
recompensada, nesse momento inesquecível, de todos os infortúnios que houvera sofrido!
Uma inexpremível sensação de júbilo dominou-me a alma ao recordar os amargores
da Terra longínqua, pois, nesse instante, toda a minha existência estava
concentrada naquela afeição, reencontrada para a ventura imortal.
Eram os meus
temores, as minhas esperanças, os meus afetos, a minha longa saudade; enfim tudo
ali estava nos meus prantos de imensa alegria. E aquele ente querido, que na
Terra para mim fora o anjo do amor maternal, também se sentia sob o império de
grande emoção. Compreendi que os nossos espíritos de há muito se haviam unido
na milagrosa teia das vidas sucessivas, e caí-lhe nos braços amorosos,
misturando os soluços de nossos sentimentos.
- “Minha mãe –
consegui dizer – poderá haver maior felicidade do que esta?...” Percebi, a
seguir, que era envolvida na onda simpática do seu caricioso olhar, ao mesmo
tempo que lhe ouvi a voz repassada de infinita doçura:
- “Maria, estás
fatigada pelas emoções consecutivas... Vem descansar um pouco ao meu lado, aqui,
filha, junto ao meu coração!...”
Ah, minhas
pálpebras, então, cerraram-me para o sono brando e tranqüilo e adormeci como um
pássaro minúsculo, que repousasse sob a proteção carinhosa de grandes asas...
Livro Cartas de
uma Morta - Psicografia Chico Xavier.
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