Haurido do meio ambiente, esse envoltório varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do polo ao equador. Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do perispírito terrestre e então suas percepções se produzem como nos Espíritos comuns de nosso mundo. Todos, porém, assim os inferiores como os superiores, não ouvem, nem sentem, senão o que queiram ouvir ou sentir. Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa são obrigados a ouvir: os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas, eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são superiores. Nos primeiros instantes que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre turbada e confusa. Aclara-se à medida que ele se desprende, e pode alcançar a nitidez que tinha durante a vida terrena, independentemente da possibilidade de penetrar através dos corpos que nos são opacos. Quanto à sua extensão através do espaço indefinido, do futuro e do passado, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Objetarão,
talvez: “Toda esta teoria nada tem de tranquilizadora. Pensávamos que, uma vez
livres do nosso grosseiro envoltório, instrumento das nossas dores, não mais
sofreríamos, e eis nos informais de que ainda sofreremos. De uma forma ou de
outra, será sempre sofrimento.” Sim! pode dar-se que continuemos a sofrer, e
muito, e por longo tempo, mas também que deixemos de sofrer, até mesmo desde o
instante em que se nos acabe a vida corporal.
Os sofrimentos
deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muitos, contudo, são devidos à
nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais
sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar. Quantos
males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição,
numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre vivesse com sobriedade, que de
nada abusasse, que fosse sempre simples nos gostos e modesto nos desejos, a
muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos
por que passa são sempre a consequência da maneira por que viveu na Terra.
Certo já não sofrerá mais de gota, nem de reumatismo; no entanto, experimentará
outros sofrimentos que nada ficam a dever àqueles. Vimos que seu sofrer resulta
dos laços que ainda o prendem à matéria; que quanto mais livre estiver da
influência desta, ou, por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos
sensações dolorosas experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal
influência desde a vida atual. Ele tem o livre-arbítrio, tem, por conseguinte,
a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Dome suas paixões animais;
não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar
pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não
ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora
revestido do envoltório corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo
da matéria e, quando deixar esse envoltório, não mais lhe sofrerá a influência.
Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja
padecido; nenhuma impressão desagradável eles deixarão, porque apenas terão
atingido o corpo e não o Espírito. Sentir-se-á feliz por se haver libertado
deles, e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral.
Interrogamos, aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as
classes da sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos
os períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo;
acompanhamo-los passo a passo na vida de além-túmulo, para observar as mudanças
que se operavam neles, nas suas ideias, nas suas sensações e, sob esse aspecto,
não foram os que aqui se contaram entre os homens mais vulgares os que nos
proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que os
sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas
consequências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para
os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece
porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no
outro mundo, quer neste.
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
This envelope is drawn from the atmosphere surrounding
the spirit for the time being, and varies according to the nature of the
different worlds. When spirits travel from one world to another, they change
their envelope the same way we change our clothing when we transition from
summer to winter, or travel from the North or South Pole to the equator. When
they come to visit us, the most elevated spirits assume a terrestrial
perispirit. They maintain this perispirit during their stay and their perceptions
are therefore, produced in the same way as lower spirits. All spirits, whether
of high or low ranking, only hear and feel what they choose to hear and feel.
Without possessing sensory organs, spirits can make
their perceptions active or prevent their action. There is only one thing that
they are compelled to hear, and that is the guidance of good spirits. Their
sight is always active and they can make themselves invisible to one another,
depending on their rank. Spirits of higher ranks have the power to hide from
those who are below them. However, a lower-ranking spirit cannot hide from
those who are above it. In the initial moments after death, a spirit’s vision
is obscure and confused; it becomes clearer as it is free from the body. Not
only does it acquire the same clarity it had during life, but also it has now
the power of penetrating images that were opaque to it in physical life. As for
the extension of a spirit’s vision through space, into the future and the past,
that depends entirely on its degree of purity and subsequent elevation.
Some say that this theory is anything but encouraging.
We had thought that, once freed from our rudimentary bodily envelope, the
instrument for all our pain and suffering, we would no longer suffer. Now you
tell us that we continue to suffer in the other life, but the fact that it can
be in a different way does not make it any less painful. We may still have to
suffer greatly, and for a long period of time, but there is also the
possibility that we will no longer suffer, even from the very moment when our
physical life ends.
The pain that we endure in our present life is
sometimes independent of our actions, but it is often the consequence of our
own volition. If we trace the root of our suffering, we see that in most cases
it is due to causes that we could have avoided. How many problems and illnesses
can a person trace back to overindulgence, ambition and the impulses of
numerous passions! If a person could live a completely sober life without ever
overindulging and remaining simple and modest in tastes and desires, such an
individual would escape a large majority of the pain and suffering of human
life.
The same theory applies to the spirit life, in which
suffering is always the consequence of how a spirit lived on Earth. While it no
longer suffers from gout or arthritis in the spirit life, its wrongdoing causes
him or her to experience other woes that are no less painful. This pain is the
result of the bonds that exist between a spirit and matter. The freer it is from
the influence of matter, or the more dematerialized it is, the less pain it
feels. Therefore we are each responsible for freeing ourselves from the
infuence of matter by our actions in this present life. Human beings have free
will, which gives them the power to choose, to do something or not. They must
conquer their animal passions by freeing themselves of hatred, envy, jealousy
and pride, and by breaking the shackles of selfshness, and purifying their
souls by fostering honorable thoughts and ideas. They must do good and only
attribute to physical things the importance that they deserve. Thereby, even in
its corporeal envelope, it will have purifed itself by detaching from matter,
and when it leaves the body behind, it will not suffer any longer from its infuence.
For these individuals, the memory of the physical anguish suffered in the life
they have just left is not painful, and does not produce unpleasant reactions
because they only affected their bodies and left no trace on their souls. They
are happy to be free and the tranquility of a clear conscience exempts them
from moral suffering.
We have spoken with thousands of spirits who once
belonged to every class of society and studied them at every period in their
spirit life, starting from the moment when they left their bodies. We have
followed them step-by-step in life beyond the grave to learn about the changes
that took place in their ideas and sensations. In this respect, the most
ordinary individuals were not the ones who furnished us with the least precious
elements of study. This evaluation has invariably shown us that spirit
suffering is the direct result of their own misconduct, and that their new
existence is a source of overwhelming happiness for those who have followed the
right road. Those who suffer do so as the result of their own choices, and have
only themselves to blame for their suffering, in both this world and the next.
THE SPIRITS' BOOK – Allan Kardec.
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