III – Criação
10.
Deus é o Criador de todas as coisas.
Esta
proposição é corolário da prova da existência de Deus (no 1).
11.
O princípio das coisas reside nos arcanos de Deus.
Tudo
diz que Deus é o autor de todas as coisas, mas como e quando as criou Ele? A
matéria existe, como Ele, de toda a eternidade? Ignoramo-lo. Acerca de tudo o
que Ele não julgou conveniente revelar-nos, apenas se podem erguer sistemas
mais ou menos prováveis. Dos efeitos que observamos, podemos remontar a algumas
causas. Há, porém, um limite que não nos é possível transpor. Querer ir além é,
simultaneamente, perder tempo e cair em erro.
12.
O homem tem por guia, na pesquisa do desconhecido, os atributos de Deus. Para a
investigação dos mistérios que nos é permitido sondar por meio do raciocínio,
há um critério certo, um guia infalível: os atributos de Deus.
Desde
que se admite que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente,
supremamente justo e bom, que ele é infinito em suas perfeições, toda doutrina
ou teoria, científica ou religiosa, que tenda a lhe tirar qualquer parcela de
um só dos seus atributos, será necessariamente falsa, pois que tende à negação
da divindade mesma.
13.
Os mundos materiais tiveram começo e terão fim.
Quer
a matéria exista de toda a eternidade, como Deus, quer tenha sido criada numa
época qualquer, é evidente, segundo o que se passa cotidianamente às nossas
vistas, que são temporárias as transformações da matéria e que dessas
transformações resultam diferentes corpos, que incessantemente nascem e se
destroem.
Como
produtos que são da aglomeração e da transformação da matéria, os diversos
mundos hão de ter tido, como todos os corpos materiais, começo e terão fim, na
conformidade de leis que desconhecemos. Pode a Ciência, até certo ponto,
formular as leis que lhes presidiram à formação e remontar ao estado primitivo
deles. Toda teoria filosófica em contradição com os fatos que a Ciência
comprova é necessariamente falsa, a menos que prove estar em erro a Ciência.
14.
Criando os mundos materiais, também criou Deus seres inteligentes a que damos o
nome de Espíritos.
15.
Desconhecemos a origem e o modo de criação dos Espíritos; apenas sabemos que
eles são criados simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento
do bem e do mal, porém perfectíveis e com igual aptidão para tudo adquirirem e
tudo conhecerem com o tempo. A princípio, eles se encontram numa espécie de
infância, carentes de vontade própria e sem consciência perfeita de sua
existência.
16.
À medida que o Espírito se distancia do ponto de partida, desenvolvem-se-lhe as
ideias, como na criança, e, com as ideias, o livre-arbítrio, isto é, a
liberdade de fazer ou não fazer, de seguir este ou aquele caminho para seu
adiantamento, o que é um dos atributos essenciais do Espírito.
17.
O objetivo final de todos os Espíritos consiste em alcançar a perfeição de que
é suscetível a criatura. O resultado dessa perfeição está no gozo da suprema
felicidade que lhe é consequente e a que chegam mais ou menos rapidamente,
conforme o uso que fazem do livre-arbítrio.
18.
Os Espíritos são os agentes da potência divina; constituem a força inteligente
da Natureza e concorrem para a execução dos desígnios do Criador, tendo em
vista a manutenção da harmonia geral do Universo e das leis imutáveis que regem
a Criação.
19.
Para colaborarem, como agentes da potência divina na obra dos mundos materiais,
os Espíritos revestem transitoriamente um corpo material. Os Espíritos
encarnados constituem a Humanidade. A alma do homem é um Espírito encarnado.
20.
A vida espiritual é a vida normal do Espírito: é eterna; a vida corporal é
transitória e passageira: não é mais do que um instante na eternidade.
21.
A encarnação dos Espíritos está nas Leis da Natureza; é necessária ao
adiantamento deles e à execução das obras de Deus. Pelo trabalho, que a
existência corpórea lhes impõe, eles aperfeiçoam a inteligência e adquirem,
cumprindo a Lei de Deus, os méritos que os conduzirão à felicidade eterna.
Daí
resulta que, concorrendo para a obra geral da Criação, os Espíritos trabalham
pelo seu próprio progresso.
22.
O aperfeiçoamento do Espírito é fruto do seu próprio labor; ele avança na razão
da sua maior ou menor atividade ou da sua boa vontade em adquirir as qualidades
que lhe falecem.
23.
Não podendo o Espírito, numa só existência, adquirir todas as qualidades morais
e intelectuais que hão de conduzi-lo à meta, ele chega a essa aquisição por
meio de uma série de existências, em cada uma das quais dá alguns passos para a
frente na senda do progresso e se escoima de algumas imperfeições.
24.
Para cada nova existência, o Espírito traz o que ganhou em inteligência e em
moralidade nas suas existências pretéritas, assim como os germens das
imperfeições de que ainda se não expungiu.
25.
Quando um Espírito empregou mal uma existência, isto é, quando nenhum progresso
realizou na senda do bem, essa existência lhe resulta sem proveito, ele tem que
a recomeçar em condições mais ou menos penosas, por efeito da sua negligência
ou má vontade.
26.
Devendo o Espírito, em cada existência corpórea, adquirir alguma coisa no
sentido do bem e despojar-se de alguma coisa no sentido do mal, segue-se que,
após certo número de encarnações, ele se acha depurado e alcança o estado de
puro Espírito.
27.
É indeterminado o número das existências corpóreas; depende da vontade do
Espírito reduzir esse número, trabalhando ativamente pelo seu progresso moral.
28.
No intervalo das existências corpóreas, o Espírito é errante e vive a vida
espiritual. A erraticidade carece de duração determinada.
29.
Quando, num mundo, os Espíritos têm realizado a soma de progresso que o estado
desse mundo lhe faculta efetuar, deixam-no e passam a encarnar noutro mais
adiantado, onde entesouram novos conhecimentos e assim por diante, até que, de
nenhuma utilidade mais lhe sendo a encarnação em corpos materiais, entram a
viver exclusivamente a vida espiritual, em que também progridem noutro sentido
e por outros meios. Galgando o ponto culminante do progresso, gozam da
felicidade suprema. Admitidos nos Conselhos do Onipotente, identificam-se com o
pensamento deste e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos para o
governo dos mundos, tendo sob suas ordens os outros Espíritos ainda em
diferentes graus de adiantamento.
Livro:
Obras Póstumas – Allan Kardec.
III.
Kreado
10.
Dio estas la kreinto de ĉiuj ekzistaĵoj.
Ĉi
tiu propozicio estas sekvo de la pruvo pri la ekzistado de Dio.
11.
La principo de la ekzistaĵoj sidas en la sekretoj de Dio.
Ĉio
diras, ke Dio estas la aŭtoro de ĉiuj ekzistaĵoj, sed kiam kaj kiel li kreis
ilin? Ĉu la materio ekzistas, kiel li, de la tuta eterna tempo?
Tion
ni ne scias. Pri ĉio, kion li trovis ne revelaciinda al ni, oni povas nur starigi
pli aŭ malpli probablajn sistemojn. De la efikoj, kiujn ni vidas, ni povas
alpaŝi al iuj kaŭzoj. Estas tamen ia limo al ni ne transpasebla. Voli iri
transen estus samtempe tempoperdo kaj sin elmetado al eraro.
12.
La homo havas, kiel gvidilon en la esplorado de l’ nekonataĵo, la atributojn de
Dio.
Por
la esplorado de la misteroj, kiujn al ni eblas sondi per rezonado, estas ia
certa kriterio, ia neerariva gvidilo, nome la atributoj de Dio.
Se
oni akceptas, ke Dio estas eterna, senŝanĝa, nemateria, unika, ĉiopova,
superege justa kaj bona, ke li estas senfina en siaj perfektaĵoj, ĉia doktrino
aŭ teorio, scienca aŭ religia, celanta depreni de li unu solan el liaj
atributoj, nepre estas falsa, ĉar ĝi celus la neadon de la Diaĵo mem.
13.
La materiaj mondoj havis komencon kaj havos finon.
Ĉu
la materio ekzistas, kiel Dio, de la tuta eterna tempo, ĉu ĝi estis kreita iam
ajn, ja evidentas, laŭ ĉio ĉiutage okazanta antaŭ niaj okuloj, ke la
transformiĝoj de la materio estas nedaŭraj kaj ke el tiuj transformiĝoj rezultas
la diversaj korpoj, kiuj senĉese naskiĝas kaj sin reciproke detruas.
Estante
produktoj de la aglomeriĝo kaj transformiĝo de la materio, la diversaj mondoj,
kiel ĉiuj materiaj korpoj, nepre havis komencon kaj havos finon, laŭ leĝoj al
ni ne konataj. La Scienco povas, ĝis certa limo, formuli la leĝojn, kiuj regis
ilian formiĝon, kaj alpaŝi al ilia primitiva stato. Ĉia filozofia teorio,
kontraŭdiranta faktojn elpruvitajn de la Scienco, nepre estas falsa, krom se ĝi
pruvas, ke la Scienco eraras.
14.
Krom krei la materiajn mondojn, Dio ankaŭ kreis inteligentajn estulojn, kiujn
ni nomas Spiritoj.
15.
Estas al ni nekonataj la origino de la Spiritoj kaj la maniero kiel ili estas
kreitaj; ni nur scias, ke ili estas kreitaj simplaj kaj sensciaj, tio estas,
sen ia scio kaj sen konado de bono kaj malbono, tamen perfektigeblaj kaj kun
egala kapablo por, kun la tempo, ĉion akiri kaj ĉion scii.
Komence
ili troviĝas en iaspeca infaneco, sen propra volo kaj sen plena konscio pri sia
ekzisto.
16.
Laŭgrade kiel la Spirito malproksimiĝas de sia deirpunkto, liaj ideoj, kiel ĉe
infano, disvolviĝas kaj, kun la ideoj, ankaŭ la libera volo, tio estas, la
libereco fari aŭ ne fari, sekvi tiun aŭ tiun alian vojon por sia progreso, kio
estas unu el la esencaj atributoj de la Spirito.
17.
La fina celo de ĉiuj Spiritoj estas atingi la perfektecon eblan al kreito. La
rezultato de tiu perfekteco konsistas en la ĝuo de la superega feliĉo, kiu el
ĝi sekvas kaj kiun ili pli aŭ malpli rapide atingas laŭ tio, kiel ili uzis sian
liberan volon.
18.
La Spiritoj estas la perantoj de la dia potenco; ili konstituas la inteligentan
forton de la Naturo kaj kunhelpas por la plenumiĝo de la projektoj de la
Kreinto, cele al subteno de la ĝenerala harmonio de la de la Universo kaj de la
neŝanĝeblaj leĝoj regantaj la kreaĵaron.
19.
Por kunhelpi, kiel perantoj de la dia potenco, ĉe la verko de la materiaj
mondoj, la Spiritoj kelkatempe surmetas materian korpon.
La
enkarniĝintaj Spiritoj konsistigas la homaron. La homa animo estas enkarniĝinta
Spirito.
20.
La spirita vivo estas la normala vivo de la Spirito: ĝi estas eterna; la enkorpa
vivo estas nedaŭra kaj pasema: nenio alia ol momento en la eterneco.
21.
La enkarniĝo de la Spiritoj troviĝas en la leĝoj de la Naturo; ĝi estas necesa
al ilia progreso kaj al la plenumiĝo de la verkoj de Dio.
Per
la laboro, kiun al ili necesigas la enkorpa vivo, ili perfektigas sian inteligenton
kaj akiras, observante la leĝon de Dio, la meritojn, kiuj ilin kondukos al la
eterna feliĉo.
El
tio rezultas, ke, kunhelpante por la ĝenerala verko de la kreado, la Spiritoj
laboras por sia propra progreso.
La
perfektiĝado de la Spirito estas frukto de lia propra laboro; li progresas laŭ
sia pli aŭ malpli granda diligento, aŭ sia bonvolo por akiri la kvalitojn, kiuj
mankas al li.
Ne
povante havigi al si, en unu sola enkorpa ekzistado, ĉiujn moralajn kaj
intelektajn kvalitojn, kiuj lin kondukos al la celo, la Spirito ĝin atingas tra
sinsekvo da ekzistadoj, en kiuj li faras po kelke da paŝoj antaŭen sur la vojo
de la progreso kaj puriĝas je kelkaj el siaj neperfektaĵoj.
Ĉe
ĉiu nova ekzistado, la Spirito kunportas, kion li akiris laŭ inteligenteco kaj
laŭ moraleco en siaj antaŭaj ekzistadoj, krom ankaŭ la ĝermoj de tiuj
neperfektaĵoj, de kiuj li ankoraŭ ne seniĝis.
Kiam
Spirito malbone uzis iun ekzistadon, tio estas, se li faris nenian progreson
sur la vojo de bono, tiu ekzistado estas al li senprofita, kaj li devas ĝin
rekomenci en pli aŭ malpli penigaj kondiĉoj pro siaj malzorgemo kaj malbonvolo.
Ĉar
la Spirito, en ĉiu enkorpa ekzistado, nepre akiras ion rilate al bono kaj
seniĝas je io rilate al malbono, el tio sekvas, ke, post certa nombro da
enkarniĝoj, li troviĝas purigita kaj atingas la staton de pura Spirito.
Nedifinita
estas la nombro de la enkorpaj ekzistadoj: dependas de la volo de la Spirito
ĝin malgrandigi per diligenta laborado por sia morala perfektiĝo.
En
la intertempo de la enkorpaj ekzistadoj, la Spirito estas vaganta kaj vivas la
spiritan vivon. La vaganteco ne havas difinitan daŭron.
Kiam
la Spiritoj akiris sur iu mondo la ĉiomon da progreso, kiun al ili ebligas la
stato de tiu mondo, ili ĝin forlasas por enkarniĝi en alia pli progresinta, kie
ili akiras novajn sciojn, kaj tiel plu sinsekve ĝis ili, ne plu bezonante
enkarniĝon en materia korpo, ekskluzive vivas la spiritan vivon, en kiu ili
ankoraŭ progresas en alia senco kaj per aliaj rimedoj. Atinginte la kulminon de
la progreso, ili ĝuas la superegan feliĉon. Akceptite en la konsilioj de la
Ĉiopova, ili identiĝas kun lia penso kaj fariĝas liaj kurieroj, liaj senperaj
ministroj por la regado de l’ mondoj, havante sub sia estreco Spiritojn en
malsamaj gradoj de progreso.
Libro:
POSTMORTAJ VERKOJ – Allan Kardec.
El
la franca lingvo tradukis Affonso Soares kaj Paulo Sérgio Viana.