Certa vez, um jovem procurou-me e expôs o problema que o seu sogro estava vivendo. Era um caso interessante, cujas causas foram criadas nesta vida.
Contou-me:
- Meu sogro é português. Antes de vir para o Brasil,
aconteceu um facto que transtornou a sua vida. Ele tinha um vizinho com o qual
tinha uma intriga muito antiga. Um dia, os dois exaltados se agrediram
fisicamente. Meu sogro desferiu-lhe um golpe com o cabo de um chicote e
decepou-lhe uma orelha. O amigo foi hospitalizado. Depois de recuperado, moveu
uma acção criminal contra o meu sogro que o condenou a cinco anos de cadeia.
Depois de cumprir três anos, foi beneficiado pela lei e foi posto em liberdade.
Seu ódio era tanto que resolveu vir para o Brasil para não matar o vizinho.
Hoje ele está aposentado e vive comigo. Todos os dias,
quando chega da rua um tanto embriagado, entra no banheiro e ali eu o escuto
falando como se estivesse vendo o vizinho lá de Portugal que morreu já faz
algum tempo. Percebo que responde a alguma ameaça, pois ele afirma todas as
vezes:
- Eu não tenho medo de você. Você está morto e vai
continuar no inferno.
Minha esposa está preocupada. O que podemos fazer para
ajudá-lo?
Fundamentado na experiência adquirida nos trabalhos da
desobesessão, orienteilhe:
- Neste caso, percebemos que o desafecto do seu sogro
pretende uma vingança contra ele. Fica difícil intercedermos em favor de ambos,
pois nenhum deles demonstra uma tendência ao perdão. Eu não posso exigir que
esse espírito venha até nós para convencê-lo a perdoar seu sogro. Se pelo menos
um dos envolvidos solicitasse a ajuda de que necessita, poderíamos colaborar na
reconciliação necessária. O máximo que podemos fazer é orar em benefício deles.
Depois de muitos anos, encontrei o jovem em uma
agência bancária e ouvi a narrativa dos acontecimentos:
- O senhor não imagina o que aconteceu! Um dia, meu
sogro estava caminhando na beirada da calçada de uma via expressa e estreita,
um ônibus passou raspando no meio fio e decepou-lhe uma orelha. O senhor
acredita que foi o espírito que se vingou?
- É bem provável, as próprias circunstâncias estão
indicando. E agora ele está melhor? - Ele continua falando no banheiro, só que
agora a conversa é diferente, ele afirma com tal veemência que chega a gritar:
- Jamais vou lhe perdoar! Quero que queime no inferno!
Diante dos factos, percebe-se claramente que o
espírito, depois de ter se vingado, despertou da ignorância em que vivia e,
para reabilitar-se, necessitava do perdão da vítima sobre a qual perpetrou a
vingança. Realmente, o corpo é a prisão da qual se referiu Jesus. Nele, pagamos
nossos débitos até o último ceitil, sofrendo as represálias de nossas vítimas,
ou submetendo-nos às leis de causa e efeito.
Pela falta do perdão, dramas como esse, muitas vezes,
arrastam-se por longos séculos de sofrimentos no mundo espiritual e, por
encarnações sucessivas onde terão que se reencontrar até que consigam vencer o
ódio, transformando-o em perdão e amor.
Em alguns casos, a espíritos como estes, cujo ódio se
perpetua ao longo das encarnações futuras, em dado momento, é possível que a
providência divina, agindo em favor de ambos, promova uma reencarnação compulsória
na condição de xipófagos inseparáveis, a fim de que, vivam uma vida sem se
agredirem mutuamente, como ocorreu e ainda ocorre em muitos casos bastante
conhecidos no mundo inteiro.
Zaqueu, ao receber a visita do Mestre, arrependido e
tocado nos refolhos da alma, reconheceu seus erros e se prontificou a
repará-los em dobro a quem quer que tivesse prejudicado. Assim somos nós quando
estamos no mundo espiritual! Arrependidos e tocados nos refolhos da alma diante
da realidade que nos assombra, à semelhança de Zaqueu, prontificamo-nos a
reencarnarmos e reparar os danos que causamos ao próximo. Quase sempre, rogamos
a Deus que nos permita trazê-los ao convívio do nosso lar, ligados pelos laços consanguíneos,
a fim de facilitar nossa árdua tarefa...
Livro: Perdão – O Caminho da Felicidade!
Aulus / Nelson Moraes.
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