Diante da luta humana, o espírito que amadureceu o
raciocínio e despertou o coração, sente-se cada vez mais só, mais desajustado e
menos compreendido.
Por vagas crescentes de renovação, gerações diferentes
surgem no caminho, impondo-lhe conflitos sentimentais e lutas acerbas.
Estranha sede de harmonia invade-lhe a alma.
Habitualmente, identifica-se por estrangeiro na esfera
da própria família. Ilhado pela corrente escura das desilusões, a se sucederem,
ininterruptas, confias-se ao tédio infinito, guardando enrijecido o coração.
Essa, porém, não é a hora da desistência ou do
desânimo.
O fruto amadurecido é a riqueza do futuro.
Quem se equilibra no conhecimento é o apoio daquele
que oscila na ignorância.
Que será da escola quando o aluno, guindando à condição
de mestre, fugir do educandário, a pretexto de não suportar a insipiência e a
rudeza dos novos aprendizes? E quem estará assim tão habilitado, perante o Infinito,
ao ponto de menoscabar a oportunidade de prosseguir na aquisição da Sabedoria?
A Terra é a venerável instituição onde encontramos os
recursos indispensáveis para atender ao nosso próprio burilamento.
Milhões de vidas formam o pedestal em que nos erigimos
e, alcançando o grande entendimento, cabe-nos auxiliar as vidas iniciantes, por
nossa vez.
Por isso, na plenitude do discernimento, reclamamos
uma fé que nos reaqueça a alma e nos soerga a visão, a fim de que a madureza de
espírito seja reconhecida por nós como o mais belo e o mais valioso período de
nossa romagem no mundo, ensinando-nos a agir sem apego e a servir sem
recompensa.
Situados no cimo da grande compreensão, não
prescindimos da grande serenidade.
Se, com o decurso do tempo, registramos o nosso
isolamento íntimo, quando alimentados pelo ideal superior, depressa observamos
a nossa profunda ligação com a Humanidade inteira.
Informamo-nos, pouco a pouco, de que ninguém é tão
indigente que não possa concorrer para o progresso comum e tomamos, com
firmeza, o lugar que nos compete no edifício da harmonia geral, distribuindo
fragmentos de nós mesmos, no culto da fraternidade bem vivida.
Valendo-nos da ressurreição de hoje para combater a
morte de ontem, encontramos na luta o esmeril que polirá o espelho de nossa
consciência, a fim de nos convertermos em fiéis refletores da beleza divina.
O mundo, por mais áspero, representará para o nosso
espírito a escola de perfeição, cujos instrumentos corretivos bendiremos, um
dia. Os companheiros de jornada que o habitam, conosco, por mais ingratos e
impassíveis, são as nossas oportunidades de materialização do bem, recursos de
nossa melhoria e de nossa redenção, e que, bem aproveitados por nosso esforço,
podem transformar-nos em heróis.
Não há medida para o homem, fora da sociedade em que
ele vive. Se é indubitável que somente o nosso trabalho coletivo pode
engrandecer ou destruir o organismo social, só o organismo social pode
tornar-nos individualmente grandes ou miseráveis.
A comunidade julgar-nos-á sempre pela nossa atitude
dentro dela, conduzindo-nos ao altar do reconhecimento, ao tribunal da justiça
ou à sombra do esquecimento.
O Espiritismo, sob a luz do Cristianismo, vem ao mundo
para acordar-nos.
A Terra é o nosso temporário domicílio.
A Humanidade é a nossa família real.
Todos estamos destinados por Deus a gloriosa
destinação.
Em razão disso, Jesus, o Divino Emissário do Amor para
todos os séculos, proclamou com a realidade irretorquível: - “Das ovelhas que o
Pai me confiou nenhuma se perderá.”
Livro: Roteiro.
Emmanuel / Chico Xavier.
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