segunda-feira, 29 de maio de 2023

FELICIDADE – Miramez.

Os extremos, mesmo aparentemente, se confundem. A vida de um homem primitivo tem alguns traços da de um santo: um aceita tudo o que a natureza modela em seu caminho, e o outro aceita tudo o que possa acontecer, sem desespero, sem reclamação, tirando de todos os acontecimentos lições valiosas.

Já na situação intermediária, como no caso em que se encontra a humanidade atual, o estado íntimo é outro; a alma dotada de razão mais desenvolvida, onde o egoísmo e o orgulho participam de toda a sua vida, oferece mais campo à revolta, às blasfêmias, às inquietações, buscando aqui e ali, por todos os meios que dispõe, a própria satisfação pessoal não sendo capaz de encontrar a felicidade, no exterior, ele cai em estafa e a dor o coloca na posição de encontrar notícias da felicidade dentro de si mesmo.

O homem, no estado de natureza, parece que vive feliz, no entanto, a felicidade ainda não é essa; a felicidade verdadeira é aquela onde a consciência se encontra em sintonia com a harmonia divina, a consciência imperturbável, que de tudo tira lições, sem exigir nada dos outros, nem se alterar com nada. Ela nunca se agita com os acontecimentos, por ser consciente da necessidade deles para a massa humana com o seu demorado despertamento espiritual.

A maioria das criaturas não entende felicidade, a não ser a dos brutos, gozando as coisas da Terra, com viagens longas em vários países, com mansões requintadas, com alimentos exóticos e anti-naturais, com roupas luxuosas e assim por diante. Procuram desse modo a felicidade na Terra, e como esses prazeres são transitórios, caem logo na decadência moral, por buscarem igualmente satisfazer as suas paixões inferiores, deturpando os valores das emoções da alma. Esquecem-se de que a felicidade está mais perto dos que pensam, por estar dentro delas mesmas.

O portador desta verdade foi Jesus Cristo, nos mostrando pela própria vida onde se encontra o tesouro maior que interessa a todos os que buscam a Deus.

Lucas nos informa, no capítulo quinze, versículo quatro, de maneira sutil, onde se encontra a ovelha divina que reflete todo o rebanho. Ele registrou as seguintes palavras do Mestre: Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu até encontrá-la?

As noventa e nove são os reflexos daquela que se perdeu no deserto do coração, que se encontra dormindo na intimidade da vida da alma. Então, o homem parte para encontrá-la, e quando a acha a sua alegria é muito grande, porque encontrando-a, todas as outras estão salvas na unidade de Deus.

O Evangelho está escrito em todas as dimensões que se possa alcançar, como fonte de vida, para a vida de todas as criaturas. Quando se diz que Jesus é o Mestre dos mestres, é para compreendermos, sentindo a segurança da Sua presença em nós, que desejamos viver os Seus preceitos. Todas as Suas palavras são de vida, e de vida eterna.

Busquemos a ovelha perdida no nosso mundo interno; ela representa a nossa felicidade e o exemplo edificante para que os outros que ainda não acordaram para tal exercício divino façam o mesmo, nas linhas do nosso proceder. A felicidade verdadeira é aquela que é consciente e sabe porque ama a tudo e a todos.

O bruto é feliz em sua vida rude; muitos homens são felizes comendo e bebendo, mas a felicidade real, aquela cujo caminho o Cristo nos ensinou, é outra, que nos alimenta em Espírito com o pão que veio do céu em forma de Amor.

Livro: Filosofia Espírita – Volume XVI

João Nunes Maia – Miramez.

Estudando O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

777. Tendo o homem, no estado de natureza, menos necessidades, isento se acha das tribulações que para si mesmo cria, quando num estado de maior adiantamento. Diante disso, que se deve pensar da opinião dos que consideram aquele estado como o da mais perfeita felicidade na Terra?

“Que queres! É a felicidade do bruto. Há pessoas que não compreendem outra. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes do que os homens feitos.”

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