Não a matéria
morta, e a morte, no sentido comum em que a tomam, não existe. Tudo se
transforma. O que ha é maior ou menor intensidade de vibração molecular. Luz e
sombra, água e o fogo sólido e gasoso não são mais do que estados diferentes de
vibração dos átomos. - Um corpo volta a terra. Entra logo em decomposição e as
células libertas, desassociem-se, e vão voltar aos seus princípios
constituintes.
Deitemos á terra
um cadáver. Cinqüenta anos depois, nem mais os ossos encontraremos. Que foi
feito do corpo inumado? A ciência nos ensina que nada se perdeu. Os elementos
associados do corpo desagregaram-se e os átomos de oxigênio, azoto, água,
ferro, carbono, hidrogênio, etc. foram ressurgir em outras formas animais ou
vegetais, cantando sempre a imortalidade da vida. E assim sendo, o mesmo átomo que
contribuiu para integrar a envergadura dum herói ou de um monarca, pode amanhã
estar vibrando na lama, que corre pelas regueiras da rua. E os elementos
atômicos, que fermentam num monturo pútrido, poderão cantar, pouco tempo mais
tarde, as glorias da imortalidade no físico duma jovem formosa ou nas pétalas
acetinadas duma linda flor!
Pensemos agora na
graciosa lenda do dia do Juízo Final. Que tremendo transtorno, que trágica
confusão, quando soarem as trombetas no vale de Josaphat! As almas andarão,
transloucadamente, catando as partículas dos seus corpos na água, no fogo, na
terra, no mineral, no vegetal, no animal e no próprio homem!
Duma coisa,
todavia, tenhamos nós certeza a ignorância é a causa de todos os males e ela
jamais salvará a alguém. - A maior parte da humanidade tem a cabeça como adorno
do corpo, e recusa-se a raciocinar por estranho comodismo: digere com o próprio
estomago, mas pensa com o cérebro alheio.
Quando, na pira do
Tempo, a Evolução queimar as grilhetas do medo, o Homem se libertará da escravidão
mental, á semelhança da crisálida que rompe o casulo prisão e ganha os espaços
banhados de luz, livrando-se no arco-íris das suas rutilâncias asas!
A Reencarnação tem
como corolário a Evolução. E a única senda que conduz o homem á Sabedoria, á
Felicidade. Torna o indivíduo ciente de que eleva pelas próprias obras, quando
orientadas no sentido de aliviar os sofrimentos da Humanidade, promanados da
própria ignorância. A certeza da pluralidade das existências educa ao espírito humano,
fazendo-o assimilar e praticar o grande ensinamento: faze aos outros o que
queres te façam. Desperta sentimentos nobres, humanitários, que nos distanciam
da animalidade. - Quem estiver intimamente enfronhado da idéia reencarnacionista
pairará sempre, natural e espontaneamente, acima das ingratidões, motejos e
injurias, desses mesmos a quem quer ajudar.
O
reencarnacionista jamais deverá ser um fraco: Deverá entender nitidamente que o
campo batalha existe para os pelejadores. Deve despertar em si tal confiança,
que o ponha a salvo do medo de contacto com os homens menos evoluídos, que se
arrastam pelas sarjetas dos vícios ou pela regueira dos crimes. Para esta caso,
o exemplo edificante do Sol: luz nas flores e nos charcos, ilumina reis e
leprosos, vivifica a águia e o réptil, visita os santuários e os prostíbulos,
acende rutilâncias nas coroas imperiais e nos monturos pútridos... e não se
contamina, não peca, não se degenera!
Ensina-nos a
palingenesia, que para realizar a Deus e ao seu imenso Amor, não é necessário
procurá-los num determinado ponto, nem viver numa região etérea de beatitude,
querubins e músicas dolentes, espécie de céu entorpecente e improdutivo. Podemos
e devemos realizar a obra divina aqui mesmo, lutando, trabalhando, amando. De
que vale a santidade recolhida e temerosa dos que se põem ás margens do rio da vida,
quando é na luta, que se exercitam os músculos e se desenvolvem as
capacidades?! Não é o muito assistir ás competições olímpicas que nos
transforma em atletas. Para sermos bons nadadores, temos que enfrentar as
correntezas, as ondas, as profundidades!...
A Reencarnação,
abrindo novos horizontes rasgando outros rumos, não é um incentivo para as
orações intermináveis, para os suspiros de desalentos, e nem um convite a que o
homem se torne visionário, sonhando com o romance do próprio passado ou fascinando-se
com os encantos do futuros. E' a voz da Vida Infinita que, serena, brada, carinhosa
e enérgica: a vida é o momento que passa, indefinidamente; não vencerás no
"Além" (nesse futuro que, á proporção que se aproxima, se vai
convertendo em presente), enquanto não triunfar aqui e agora, neste mesmo
ambiente onde a tua própria evolução te colocou! Na imensidade dos milênios
decorridos viveste centenas e centenas de personalidades, como agora vives mais
uma. Viverás outras ainda, com novos aspectos exteriores, novos nomes, mas tu,
espírito, viajante do infinito, nunca fenecerás porque, sendo invidualidade, és
a própria imortalidade!
E' a Evolução que
desperta no homem novas forças, animando-o: ergue-te ser imortal! Lembra-te que
ao seu lado, na realização da Justiça e da Verdade, caminham os teus irmãos
mais velhos, os espíritos superiores, que existiram em todos os tempos, em que
vem florescendo a raça humana! Quando olhares em torno de ti, em meio a
batalha, não te surpreenderás, se os teus “amigos” te abandonaram! Caminha
sempre! Estuda, esforça-se e jamais vaciles, porque os paladinos espirituais do
bem estarão sempre ao teu lado e porque a tua vitória será também o seu triunfo!
E é a Reencarnação
que finaliza, corroborando as idéias acima: Humano! que queres tu mais ? cessa agora
de chorar, de lamuriar, e atira-te á luta pelo Bem da tua mãe, que é a
Humanidade! - Deus já te concedeu em excesso, destruindo aos teus olhos o
espectro da Morte, e tu ainda pedes! não realizaste uma centésima parte da
soberba lição que te foi ministrada! animo! para a frente e para o alto, e
quebra essas muletas de pedinte a que te agarras, prejudicando tua própria
Evolução! Lembra-te: o Amor e a Coragem são as qualidades essências na estradada
tua Evolução!
São Paulo, Junho
de 1936.
Livro:
Reencarnação ou Pluralidade das Existências.
Campos Vergal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário