Uma vez que muitos
dos textos de Orígenes foram destruídos, e o restante profundamente alterado,
os estudiosos discutem se ele realmente ensinou a reencarnação. Alguns afirmam que
ele apenas fala sobre a preexistência: a existência da alma antes do corpo.
Mas, no tempo de Orígenes, a preexistência e a reencarnação eram inseparáveis.
Algumas vezes
Orígenes parece confirmar a reencarnação, em outras foge ao assunto e, numa
certa ocasião, ele a nega. Para descobrirmos a verdadeira crença de Orígenes, precisamos
avaliar essa sua única negação no contexto dos seus outros escritos, do tempo em
que viveu e da sua prática deliberada do sigilo. Depois de examinarmos todos
esses elementos, ficará claro que ele ensinou a reencarnação secretamente. Para
Orígenes, a reencarnação fazia parte de um sistema de salvação – uma salvação
baseada no esforço individual e no relacionamento da alma com o Deus interior
que acabaria conduzindo à união com Deus.
Nos séculos II e
III muitas pessoas cultas aceitavam a reencarnação. Sabemos que pelo menos
cinco fontes que afirmavam a reencarnação [e a preexistência?] eram familiares
a Orígenes:
1. As Escrituras
cristãs e judaicas – Orígenes conhecia bem as tradições judaicas sobre a reencarnação
e a divinização e, às vezes, parecia fazer eco às palavras de Filon, que escreveu
sobre a reencarnação. Orígenes acreditava que os judeus ensinavam a reencarnação.[15]
2. Os clássicos
gregos – Os textos de Platão e Pitágoras fizeram parte da educação de Orígenes.
3. O Gnosticismo –
Orígenes absorveu este conceito através de um professor chamado Paulo de
Antioquia.
4. O neoplatonismo
– Orígenes estudou-o com o seu fundador, Amônio Sacas.
5. Clemente de
Alexandria, um professor cristão que dirigiu a escola de catequese antes de Orígenes.
– Diz-se que ele ensinava a reencarnação.[16]
Existe ainda uma
possível sexta fonte para a crença de Orígenes na reencarnação. Ele pode tê-la
aceito por ter-se convencido – através do estudo do Gnosticismo, dos escritos
de Clemente ou de outras escrituras que se perderam – de que a reencarnação
fazia parte dos ensinamentos secretos de Jesus.
Se Orígenes
tivesse rejeitado a reencarnação, teria que ter sido coerente e defendido a sua
posição diante das pessoas cultas da sua audiência, porque muitas, sendo
neoplatônicas e gnósticas, acreditavam na reencarnação. Mas não existe qualquer
registro disto. Ao contrário, perguntava constantemente se os atos das vidas anteriores
não seriam a causa dos problemas que as pessoas enfrentavam.
Em sua obra Sobre
os Primeiros Princípios Orígenes explica que as almas são enviadas para o seu
“lugar, região ou condição” de acordo com os atos realizados “antes da vida
atual”.
Deus “organizou o
universo de acordo com o princípio de uma retribuição totalmente imparcial”,
diz ele[17]. Deus não criou “com favoritismos” mas deu corpos às almas “de acordo
com os pecados de cada uma”. Orígenes pergunta: “Se as almas não existiam previamente,
por que encontramos cegos de nascença que nunca pecaram, enquanto outros nascem
sãos?”[18] Ele responde à sua própria pergunta: “É claro que alguns pecados
existem [isto é, foram cometidos] antes das almas [terem corpos] e, como
resultado, cada alma recebe a recompensa de acordo com o seu mérito”.[19] Em
outras palavras, o destino das pessoas é determinado por suas ações anteriores.
Estas passagens
demonstram que Orígenes ensinou a preexistência da alma. E, certamente, trazem
implícito o conceito da reencarnação. Como observou o teólogo do século XII,
Tomás de Aquino, quem quer que tenha afirmado a preexistência da alma afirmou
implicitamente a reencarnação[20].
Ao dizer que o
nosso destino resulta de nossas ações passadas, Orígenes dá a entender que tivemos
alguma forma de existência anterior que precedeu o nosso corpo atual. Para Orígenes
a conclusão óbvia é que esta existência anterior também foi vivida sob a forma humana.
Livro: REENCARNAÇÃO
NO CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA - (Orígenes x Império Bizantino).
Paulo da Silva Neto Sobrinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário