247. Para verem
o que se passa em dois pontos diferentes, precisam transportar-se a esses
pontos? Podem, por exemplo, ver simultaneamente nos dois hemisférios do globo?
“Como o Espírito
se transporta com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê em toda parte
ao mesmo tempo. Seu pensamento é suscetível de irradiar, dirigindo-se a um
tempo para muitos pontos diferentes, mas esta faculdade depende da sua pureza.
Quanto menos puro é o Espírito, tanto mais limitada tem a visão. Só os
Espíritos superiores podem com a vista abranger um conjunto.”
No Espírito, a
faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo
o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma
espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente
o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem
obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá
pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona. Daí se segue que, não
havendo luz, o homem fica na obscuridade. No Espírito, como a faculdade de ver
constitui um atributo seu, abstração feita de qualquer agente exterior, a visão
independe da luz. (Veja-se: Ubiquidade, n° 92.)
248. O Espírito
vê as coisas tão distintamente como nós?
“Mais
distintamente, pois que sua vista penetra onde a vossa não pode penetrar. Nada
a obscurece.”
249. Percebe os
sons?
“Sim, percebe
mesmo sons imperceptíveis para os vossos sentidos obtusos.”
a) – No
Espírito, a faculdade de ouvir está em todo o seu ser, como a de ver?
“Todas as
percepções constituem atributos do Espírito e fazem parte de seu ser. Quando o
reveste um corpo material, elas só lhe chegam pelo conduto dos órgãos. Deixam,
porém, de estar localizadas, em se achando ele na condição de Espírito livre.”
250. Constituindo
elas atributos do próprio Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se às
percepções?
“O Espírito
unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em
particular, com referência aos Espíritos elevados, porquanto os imperfeitos
muitas vezes ouvem e veem, a seu malgrado, o que lhes possa ser útil ao
aperfeiçoamento.”
251. São
sensíveis à música os Espíritos?
“Aludes à vossa
música? Que é ela comparada à música celeste? A esta harmonia de que nada na
Terra vos pode dar ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem para
uma doce melodia. Não obstante, Espíritos
vulgares podem experimentar certo prazer em ouvir a vossa música, por lhes não
ser dado ainda compreenderem outra mais sublime. A música possui infinitos
encantos para os Espíritos, por terem eles muito desenvolvidas as qualidades
sensitivas. Refiro-me à música celeste, que é tudo o que de mais belo e
delicado pode a imaginação espiritual conceber.”
252. São
sensíveis, os Espíritos, às belezas naturais?
“Tão diferentes
são as belezas naturais dos mundos, que longe estamos de as conhecer. Sim, os
Espíritos são sensíveis a essas belezas, de acordo com as aptidões que tenham
para as apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de
conjunto que, por assim dizer, apagam as das particularidades.”
253. Os
Espíritos experimentam as nossas necessidades e sofrimentos físicos?
“Eles os
conhecem, porque os sofreram; não os experimentam, porém, materialmente, como
vós outros: são Espíritos.”
254. E a fadiga,
a necessidade de repouso, experimentam-nas?
“Não podem
sentir a fadiga, como a entendeis; conseguintemente, não precisam de descanso
corporal, como vós, pois que não possuem órgãos cujas forças devam ser
reparadas. O Espírito, entretanto, repousa, no sentido de não estar em
constante atividade. Ele não atua materialmente. Sua ação é toda intelectual e
inteiramente moral o seu repouso. Quer isto dizer que momentos há em que o seu
pensamento deixa de ser tão ativo quanto de ordinário e não se fixa em um objeto
determinado. É um verdadeiro repouso, mas que não é comparável ao do corpo. A
espécie de fadiga que os Espíritos são suscetíveis de sentir guarda relação com
a inferioridade deles. Quanto mais elevados sejam, tanto menos precisarão de
repousar.”
255. Quando um
Espírito diz que sofre, de que natureza é seu sofrimento?
“Angústias
morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos.”
256. Como é
então que alguns Espíritos se têm queixado de sofrer frio ou calor?
“É reminiscência
do que padeceram durante a vida, reminiscência não raro tão aflitiva quanto a
realidade. Muitas vezes, no que eles assim dizem apenas há uma comparação
mediante a qual, em falta de coisa melhor, procuram exprimir a situação em que
se acham. Quando se lembram do corpo que revestiram, têm impressão semelhante à
de uma pessoa que, havendo tirado o manto que a envolvia, julga, passado algum
tempo, que ainda o traz sobre os ombros.”
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
247. Les Esprits ont-ils besoin de se transporter pour
voir sur deux points différents ? Peuvent-ils, par exemple, voir simultanément sur
deux hémisphères du globe ?
« Comme l'Esprit se transporte avec la rapidité de la
pensée, on peut dire qu'il voit partout à la fois ; sa pensée peut rayonner et
se porter en même temps sur plusieurs points différents, mais cette faculté
dépend de sa pureté : moins il est épuré, plus sa vue est bornée ; les Esprits
supérieurs seuls peuvent embrasser un ensemble. »
La faculté de voir, chez les Esprits, est une
propriété inhérente à leur nature, et qui réside dans tout leur être, comme la
lumière réside dans toutes les parties d'un corps lumineux ; c'est une sorte de
lucidité universelle qui s'étend à tout, embrasse à la fois l'espace, les temps
et les choses, et pour laquelle il n'y a ni ténèbres, ni obstacles matériels. On comprend
qu'il doit en être ainsi ; chez l'homme, la vue s'opérant par le jeu d'un
organe frappé par la lumière, sans lumière il est dans l'obscurité ; chez
l'Esprit, la faculté de voir étant un attribut de lui-même, abstraction faite
de tout agent extérieur, la vue est indépendante de la lumière. (Voy. Ubiquité,
n° 92).
248. L'Esprit
voit-il les choses aussi distinctement que nous ?
« Plus distinctement,
car sa vue pénètre ce que vous ne pouvez pénétrer ; rien ne l'obscurcit. »
249. L'Esprit perçoit-il les sons ?
« Oui, et il en
perçoit que vos sens obtus ne peuvent percevoir. »
- La faculté d'entendre est-elle dans tout son être,
comme celle de voir ?
« Toutes les perceptions sont des attributs de
l'Esprit et font partie de son être ; lorsqu'il est revêtu d'un corps matériel,
elles ne lui arrivent que par le canal des organes ; mais à l'état de liberté
elles ne sont plus localisées. »
250. Les perceptions étant des attributs de l'Esprit
lui-même, lui est-il possible de s'y soustraire ?
« L'Esprit ne voit et n'entend que ce qu'il veut. Ceci
est dit en général, et surtout pour les Esprits élevés, car pour ceux qui sont
imparfaits, ils entendent et voient souvent malgré eux ce qui peut être utile
pour leur amélioration. »
251. Les Esprits
sont-ils sensibles à la musique ?
« Veux-tu parler
de votre musique ? Qu'est-elle auprès de la musique céleste ? de cette harmonie
dont rien sur la terre ne peut vous donner une idée ? L'une est à l'autre ce
qu'est le chant du sauvage à la suave mélodie. Cependant, des Esprits vulgaires
peuvent éprouver un certain plaisir à entendre votre musique, parce qu'il ne
leur est pas encore donné d'en comprendre une plus sublime. La musique a pour
les Esprits des charmes infinis, en raison de leurs qualités sensitives très
développées ; j'entends la musique céleste, qui est tout ce que l'imagination
spirituelle peut concevoir de plus beau et de plus suave. »
252. Les Esprits sont-ils sensibles aux beautés de la
nature ?
« Les beautés de
la nature des globes sont si différentes, qu'on est loin de les connaître. Oui,
ils y sont sensibles selon leur aptitude à les apprécier et à les comprendre ;
pour les Esprits élevés il y a des beautés d'ensemble devant lesquelles
s'effacent, pour ainsi dire, les beautés de détail. »
253. Les Esprits
éprouvent-ils nos besoins et nos souffrances physiques ?
« Ils les connaissent,
parce qu'ils les ont subis, mais ils ne les éprouvent pas comme vous
matériellement : ils sont Esprits. »
254. Les Esprits
éprouvent-ils la fatigue et le besoin du repos ?
« Ils ne peuvent
ressentir la fatigue telle que vous l'entendez, et par conséquent ils n'ont pas
besoin de votre repos corporel, puisqu'ils n'ont pas des organes dont les
forces doivent être réparées ; mais l'Esprit se repose en ce sens qu'il n'est
pas dans une activité constante ; il n'agit pas d'une manière matérielle ; son action
est tout intellectuelle et son repos tout moral ; c'est-à-dire qu'il y a des
moments où sa pensée cesse d'être aussi active et ne se porte pas sur un objet
déterminé ; c'est un véritable repos, mais qui n'est pas comparable à celui du
corps. L'espèce de fatigue que peuvent éprouver les Esprits est en raison de
leur infériorité ; car plus ils sont élevés, moins le repos leur est
nécessaire. »
255. Lorsqu'un
Esprit dit qu'il souffre, quelle nature de souffrance éprouve-t-il ?
« Angoisses
morales qui le torturent plus douloureusement que les souffrances physiques. »
256. D'où vient
alors que des Esprits se sont plaints de souffrir du froid ou de la chaleur ?
« Souvenir de ce
qu'ils avaient enduré pendant la vie, aussi pénible quelquefois que la réalité
; c'est souvent une comparaison par laquelle, faute de mieux, ils expriment
leur situation. Lorsqu'ils se souviennent de
leur corps, ils éprouvent une sorte d'impression, comme lorsqu'on quitte un
manteau, et qu'on croit encore le porter quelque temps après. »
LE LIVRE DES ESPRITS – Allan Kardec.
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