terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

O pão do céu / JESUS THE BREAD OF LIFE, OR MANNA / La ĉiela pano.

O pão do céu.

50. No dia seguinte, o povo, que permanecera do outro lado do mar, notou que lá não chegara outra barca e que Jesus não entrara na que seus discípulos tomaram, que os discípulos haviam partido sós — e como tinham chegado depois outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde o Senhor, após render graças, os alimentara com cinco pães; — e como verificassem por fim que Jesus não estava lá, tampouco seus discípulos, entraram naquelas barcas e foram para Cafarnaum, em busca de Jesus. — E, tendo-o encontrado além do mar, disseram-lhe: Mestre, quando vieste para cá? — Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não por causa dos milagres que vistes, mas porque eu vos dei pão a comer e ficastes saciados. — Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que dura para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu selo e seu caráter. — Perguntaram-lhe eles: Que devemos fazer para produzir obras de Deus? — Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é que creiais no que ele enviou. — Perguntaram-lhe então: Que milagre operarás que nos faça crer, vendo-o? Que farás de extraordinário? — Nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele lhes deu de comer o pão do céu. — Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu — porquanto o pão de Deus é aquele que desceu do céu e que dá vida ao mundo. — Disseram eles então: Senhor, dá-nos sempre desse pão. — Jesus lhes respondeu: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê não terá sede. — Mas, eu já vos disse: vós me tendes visto e não credes. — Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim tem a vida eterna. — Eu sou o pão da vida. — Vossos pais comeram o maná do deserto e morreram. — Aqui está o pão que desceu do céu, a fim de que quem dele comer não morra. (S. João, 6:22–36 e 47–50.)

51. Na primeira passagem, lembrando o fato precedentemente operado, Jesus dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, careceria de objeto a comparação por ele estabelecida com o fermento dos fariseus: “Ainda não compreendeis, diz ele, e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e que dois pães foram bastantes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus?” Esse confronto nenhuma razão de ser teria, na hipótese de uma multiplicação material. O fato fora de si mesmo muito extraordinário para ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais lembrar-se dele.

É também o que não menos claramente ressalta, do que Jesus expendeu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. “Trabalhai, diz ele, não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará.” Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. “Eu sou, declara ele, o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede.”

Tais distinções, porém, eram por demais sutis para aquelas naturezas rudes, que somente compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná, que alimentara o corpo de seus antepassados, era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, portanto, houvesse ocorrido materialmente o fato da multiplicação dos pães, como teria ele impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, a cujo benefício essa multiplicação se operara poucos dias antes, ao ponto de perguntarem a Jesus: “Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?” Eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era extremamente simples e não se afastava das leis da natureza; as próprias curas não revelavam caráter muito singular, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não apresentavam grande vulto.

A Gênese / Allan Kardec.

JESUS THE BREAD OF LIFE, OR MANNA

50. The next day the crowd that had stayed on the opposite shore of the lake realized that only one boat had been there, and that Jesus had not entered it with his disciples, but that they had gone away alone. Then some boats from Tiberias landed near the place where the people had eaten the bread after the Lord had given thanks. Once the crowd realized that neither Jesus nor his disciples were there, they got into the boats and went to Capernaum in search of Jesus. When they found him on the other side of the lake, they asked him, “Rabbi, when did you get here?” Jesus answered, “I tell you the truth, you are looking for me, not because you saw miraculous signs but because you ate the loaves and had your fill. Do not work for food that spoils, but for food that endures to eternal life, which the Son of Man will give you. On him God the Father has placed his seal of approval.” Then they asked him, “What must we do to do the works God requires?” Jesus answered, “The work of God is this: to believe in the one he has sent.” So they asked him, “What miraculous sign then will you give that we may see it and believe you? What will you do? Our forefathers ate the manna in the desert; as it is written: ‘He gave them bread from heaven to eat.” Jesus said to them, “I tell you the truth, it is not Moses who has given you the bread from heaven, but it is my Father who gives you the true bread from heaven. For the bread of God is he who comes down from heaven and gives life to the world.” “Sir,” they said, “from now on give us this bread.” Then Jesus declared, “I am the bread of life. He who comes to me will never go hungry, and he who believes in me will never be thirsty. But as I told you, you have seen me and still you do not believe. I tell you the truth, he who believes has everlasting life. I am the bread of life. Your forefathers ate the manna in the desert, yet they died. 50. But here is the bread that comes down from heaven, which a man may eat and not die. (John, 6: 22 to 36 and 47 to 50).

51. In the first passage, Jesus, by recalling the effect previously produced, gives us clearly to understand that he was not acting with material bread; otherwise the comparison which he established with the yeast of the Pharisees had been without object. “Don’t you remember the five loaves for the five thousand, and how many basketfuls you gathered? Or the seven loaves for the four thousand, and how many basketfuls you gathered? How is it you don’t understand that I was not talking to you about bread? But be on your guard against the yeast of the Pharisees and Sadducees.” This reproach was given them for having had a material idea of the multiplication. The act had been extraordinary enough in itself to have struck the imagination of his disciples, who however appeared not to have remembered it.

This idea is set forth no less clearly from the speech of Jesus upon the bread from heaven, or manna, in which he tries to make them comprehend in the true sense the value of spiritual nourishment. “Work,” said he, “not for food that spoils, but for food that endures to eternal life, which the Son of Man will give you.” This nourishment is his word, which is the bread descended from heaven, and which gives life to the world. “I am the bread of life,” said he: “he who comes to me will never go hungry, and he who believes in me will never be thirsty.”

But these distinctions were too subtle for these rough natures, who could comprehend only tangible things. The manna which had fed their ancestors was the true bread from heaven to them: there was the miracle. If, then, the act of producing bread had taken place materially, why should these same men, for whose profit it was produced a few days before, say to Jesus: “What miraculous sign then will you give that we may see it and believe you? What will you do?” It is evident they understood miracles to be the mighty works which the Pharisees demanded; i.e., signs from heaven as commanded with the wand of an enchanter. Those which Jesus did were too simple, and did not depart enough from the laws of nature. The cures even were not sufficiently extraordinary. The spiritual miracles were not material enough for them.

GENESIS – Allan Kardec.

La ĉiela pano

50. – La sekvantan tagon, kiam la homamaso, kiu restis trans la maro, vidis, ke nenia ŝipeto estas tie krom unu, kaj ke Jesuo ne eniris kun la disĉiploj en la ŝipon, sed la disĉiploj solaj veturis – (venis tamen ŝipetoj el Tiberias proksime al la loko, kie oni manĝis la panon, post kiam la Sinjoro donis dankon) – kiam do la homamaso vidis, ke Jesuo ne estas tie, nek liaj disĉiploj, ili ankaŭ eniris la ŝipetojn kaj veturis al Kapernaum, serĉante Jesuon. – Kaj trovinte lin trans la maro, ili diris al li: Rabeno, kiam vi venis ĉi tien?

Jesuo respondis al ili kaj diris: Vere, vere, mi diras al vi: Vi min serĉas, ne ĉar vi vidis signojn, sed ĉar vi manĝis el la panoj kaj satiĝis. Laboru ne por la pereema nutraĵo, sed por la nutraĵo, kiu restas ĝis eterna vivo, kiun la Filo de homo donos al vi; ĉar lin Dio, la Patro, sigelis.

Ili do diris al li: Kiel ni agu, por ke ni faru la farojn de Dio? – Jesuo respondis kaj diris al ili: Jen la faro de Dio: kredi al tiu, kiun Li sendis.

Ili do diris al li: Kian signon vi montras, por ke ni vidu kaj kredu al vi? kion vi faras? – Niaj patroj manĝis la manaon en la dezerto, kiel estas skribite: Li donis al ili ĉielan panon por manĝi.

Jesuo do diris al ili: Vere, vere, mi diras al vi: Ne Moseo donis al vi tiun ĉielan panon; sed mia Patro donas al vi la veran ĉielan panon. – ĉar la pano de Dio estas tiu, kiu malsupreniras de la ĉielo kaj donas vivon al la mondo.

Ili do diris al li: Sinjoro, ĉiam donu al ni tiun panon.

Jesuo diris al ili: Mi estas la pano de vivo; kiu venas al mi, tiu neniam malsatos, kaj kiu kredas al mi, tiu neniam soifos. – Sed mi diris al vi, ke vi min vidis, kaj tamen vi ne kredas.

Vere, vere, mi diras al vi: Kiu kredas, tiu havas vivon eternan. – Mi estas la pano de vivo. – Viaj patroj manĝis la manaon en la dezerto, kaj mortis. – Jen la pano, kiu malsupreniris de la ĉielo, por ke oni manĝu el ĝi kaj ne mortu. (Sankta Johano, ĉap. VI, par. 22 ĝis 36 kaj 47 ĝis 50.)

51. – En la unua loko, Jesuo, memorigante la antaŭe okazintan efikon, klare komprenigas, ke tute ne temis pri materiala pano, ĉar alie al lia komparo kun la fermentaĵo de la Fariseoj mankus objekto: “Ĉu vi ankoraŭ ne konscias, li diras, nek memoras, ke kvin panoj sufiĉis por kvar mil homoj, kaj ke sep panoj sufiĉis por kvar mil homoj? Kial vi ne komprenas, ke ne pri panoj mi diris al vi: Gardu vin kontraŭ la fermentaĵo de la Fariseoj?” Tiu komparo havus nenian pravon de ekzisto en la okazo de ia materiala multobligo. La fakto estintus sufiĉe eksterordinara por forte impresi la imagon de liaj disĉiploj, kiuj tamen ŝajne ne plu ĝin memoris.

Tio ne malpli klare elfluas el la parolado de Jesuo pri la ĉiela pano, per kiu li penas komprenigi la veran sencon de la spirita nutraĵo. “Laboru, li diras, ne por la pereema nutraĵo, sed por la nutraĵo, kiu restas ĝis eterna vivo, kiun la Filo de homo donos al vi”. Tiu nutraĵo estas lia parolo, pano, kiu malsupreniris de la ĉielo kaj donas vivon al la mondo. “Mi estas, li diras, la pano de vivo; kiu venas al mi, tiu neniam malsatos, kaj kiu kredas al mi, tiu neniam soifos”.

Sed tiaj distingoj estis tro subtilaj por tiuj krudnaturaj homoj, kiuj nur komprenis palpeblajn aferojn. Por ili, la manao, kiu nutris la korpojn de iliaj prauloj, estis la vera ĉiela pano; ja tie troviĝis la miraklo. Se do la multobligo de panoj materiale okazis, kiel tiuj homoj, por kies bono ĝi fariĝis antaŭ kelke da tagoj, tre malforte impresiĝis de ĝi en tia grado, ke ili demandis Jesuon: “Kian signon vi montras, por ke ni vidu kaj kredu al vi? kion vi faras?” Ili komprenis, kiel miraklojn, la miregindaĵojn petatajn de la Fariseoj, tio estas, signoj, kiuj laŭordone aperus en la ĉielo, same kiel per magiista vergeto. Kion Jesuo faris, tio estis tre simpla kaj ne troviĝis ekster la leĝoj de la Naturo; eĉ la resanigoj ne havis tre strangan, nek tre eksterordinaran karakteron. Ne tre impresaj montriĝis al ili la spiritaj mirakloj.

La Genezo – Allan Kardec.

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