Hippolyte Léon Denizard Rivail (Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de1869) foi educador, escritor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec,notabilizou-se como o codificador do espiritismo (neologismo por ele criado), também denominado de Doutrina Espírita.
Ludwik Lejzer Zamenhof, por vezes aportuguesado como Lázaro Luiz Zamenhof (Białystok,15 de dezembro de 1859 — Varsóvia, 14 de abril de 1917) foi um oftalmologista e filólogo judeupolonês. Criador do esperanto, a língua artificial mais falada e bem sucedida no mundo. Seus idiomas nativos eram o russo, iídiche e polonês, mas ele também era fluente em alemão. Posteriormente aprendeu francês, latim, grego, hebraico e inglês além de se interessar por italiano, espanhol e lituano.
Carlos Alberto Iglesia
Bernardo
Um fato facilmente observável é o apreço que o
movimento espírita dedica a língua internacional criada pelo Dr. Zamenhof. No
Brasil, por exemplo, qualquer pesquisador poderá constatar que entre os
espíritas poucos são os que nunca ouviram falar do Esperanto, e também poderá
constatar a existência de um grande número de espíritas que se dedicam ao seu
estudo e divulgação. Por estas terras, esperantistas e espíritas tem cooperado
por quase todo este século.
Grupos espíritas por todo o Brasil mantém cursos
regulares de Esperanto, seu principal órgão Federativo no país - a Federação
Espírita Brasileira - é também uma das mais ativas editoras de livros em
Esperanto do mundo, contando com um acervo de livros impressionante nesta
língua. Se encontram traduzidas não só as obras básicas da codificação espírita
como também muitos outros títulos, principalmente da obra mediúnica de
Francisco Cândido Xavier.
Para os espíritas nada seria mais natural do que
utilizar o Esperanto como ferramenta de comunicação entre os povos, se um órgão
de representatividade internacional dentro do movimento, como a CEI, resolvesse
adotar a lingvo internacia como sua língua oficial, nenhum espanto causaria.
Constatada tal ligação entre a Doutrina e a
língua designada para ser instrumento de fraternidade entre os povos, fica-se
curioso em saber qual é a história que os liga, quais os eventos que
aproximaram os adeptos da doutrina espírita da língua neutra. Como isso ocorreu
?
Procurando informações a respeito, recorremos a
amigos espíritas-esperantistas, como o Sr. Arlindo da Associação Paulista de
Esperanto, que nos indicou diversas fontes de informações a respeito do idioma
e de sua história. Também recorremos a artigos da Revista Reformador (FEB), e
recentemente recebemos uma indicação interessante do colega Paulo Cardoso,
participante do GEAE e que está trabalhando conosco na idéia de um boletim GEAE
em Esperanto, sobre o artigo da Revue Spirite citado logo a seguir.
A cooperação entre o Espiritismo e o Esperanto
inicia-se efetivamente antes da existência do próprio Esperanto. A Doutrina
Espírita trazendo novas informações sobre os velhos problemas do ser, do
destino e da dor, retomou com vigor o espírito de fraternidade cristã,
incentivando a solidariedade humana acima das barreiras geográficas, raciais ou
de qualquer outra espécie. O mandamento "Fora da Caridade não há
salvação" não conhece complementação que separe os destinatários da
caridade por local de nascimento, idioma natal ou filiação ideológica. A lógica
interna da doutrina, a realização plena dos ideais propostos a seus adeptos,
leva necessariamente ao desejo de comunicação simples e eficiente entre si.
Também do "Espíritas Instrui-vos" é quase conseqüência a imperiosa
necessidade de comunicação; comunicação de fatos, de análises, de conclusões,
enfim o intercâmbio de idéias.
Assim na Revue Spirite de novembro de 1862, quase
vinte anos antes da obra "Lingvo Internacia, Antaŭparolo
kaj Plena Lernolibro" do D-ro Esperanto, o espírito Erasto, em uma
comunicação dedicada ao surgimento da linguagem dada na "Sociedade de
Estudos Espíritas de Paris" através do médium Sr. D'Ambel, declara: "Uma vez que os homens primitivos, ajudados
pelos missionários do Eterno, emprestaram a certos sons especiais outras tantas
idéias especiais, foi criada a língua falada; e as modificações por ela
sofridas mais tarde o foram sempre em razão do progresso humano.
Consequentemente, conforme a riqueza da língua, pode-se estabelecer-se
facilmente o grau de civilização do povo que a fala. O que posso acrescentar é
que a humanidade marcha para uma língua única, como conseqüência forçada de uma
comunidade de idéias em moral, em política e, sobretudo, em religião.
Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo,
que hoje ensinamos." (trad. de Julio Abreu Filho, EDICEL)
Na seqüência dos fatos, encontramos entre os
primeiros adeptos do Esperanto um espírita Checo que viria a tornar-se
posteriormente famoso no Brasil, Francisco Valdomiro Lorenz. Democrata,
Espírita e Esperantista em uma época que sua pátria estava sobre o domínio do
conservador Império Áustro-Hungaro, viu-se obrigado a emigrar para o sul de
nosso país. Seu primeiro livro dedicado ao Esperanto foi publicado ainda em sua
terra natal, foi um manual para ensino da língua aos Checos: "Plena
Lernolibro de Esperanto por Ĉeĥoj" (1890).
Em 1908 aparece reproduzido no periódico "La Vie d' Otre-Tombe" um
artigo de autoria de Camilo Chaigneau, intitulado "O Espiritismo e o
Esperanto". Este artigo foi em fevereiro de 1909 traduzido e publicado na
"Revista Reformador" da FEB. Lê-se nesse artigo:
"(...) Pensando na quantidade de fato que a
nós espíritas nos escapam por falta de tradução, na demora que essa mesma
tradução traz á nossa documentação, parece que o Espiritismo deve ter todo o
interesse em constituir uma revista central em que os fatos mais salientes
possam agrupar-se, graças a uma língua comum a todos os países. É preciso,
pois, que o Espiritismo aproveite dessas vantagens. Somente o fato de se servir
do Esperanto estabelece um laço fraterno entre todos os esperantistas, e
favorece a intercomunicação das doutrinas escritas ou faladas. É de absoluta
utilidade para toda idéia sincera (...)".
A partir de 1937 começa a atuar o
"Departamento de Esperanto" da "Federação Espírita
Brasileira", departamento criado por iniciativa de Ismael Gomes Braga e
que contaria com a cooperação do Prof. Porto Carreiro Neto e de Francisco
Valdomiro Lorenz, entre outros. Os trabalhos do departamento enfocaram
inicialmente a publicação de livros didáticos, que permitissem o aprendizado da
lingvo internacia, dentre eles se destacando o "Esperanto sem Mestre"
de I.G.B. (1937).
Finalmente, de 1945 em diante, o departamento
passou a editar livros Espíritas em Esperanto, iniciando-se pelo "Preĝlibro
per Spiritistoj", capítulo final do Evangelho do Espiritismo (1945). Ainda
em 1945 surge o "La Libro
de La Spiritoj "
e em 1947 "La
Evangelio Laŭ
Spiritismo".
Nesse período histórico ocorre um fato
fundamental, em janeiro de 1940, Ismael Gomes Braga, visitando o médium
Francisco Cândido Xavier, recebe do espírito Emmanuel uma mensagem intitulada
"A Missão do Esperanto", em que se lê: "Sim, o ESPERANTO é lição de fraternidade.
Aprendemo-la, para sondar, na Terra, o pensamento daqueles que sofrem e
trabalham noutros campos. Com muita propriedade digo: "aprendamo-la",
porque somos também companheiros vossos que, havendo conquistado a expressão
universal do pensamento, vos desejamos o mesmo bem espiritual, de modo a
organizarmos, na Terra, os melhores movimentos de unificação."
A mensagem de Emmanuel não teve somente impacto
entre os espíritas encarnados, a partir dela outros espíritos passaram a
manifestar-se a favor do aprendizado e uso da língua. Manifestaram-se não só
poetas desencarnados como "Cruz e Souza" e "Castro Alves",
enaltecendo a Lingvo Internacia, mas também cronistas do Além, como Camilo
Castelo Branco (Memórias de um Suicida - 1954, médium Yvonne A. Pereira).
O ano de 1975 marca o nascimento da "Spirita
Eldona Societo F. V. Lorenz", surgida de uma idéia discutida no
Departamento de Esperanto da FEB, pelos amigos Nelson e Délio Pereira de Souza
com Getúlio Soares de Araújo, a Sociedade passou a dedicar-se a tradução de
livros espíritas para o Esperanto e sua distribuição pelo mundo, trabalhando de
forma semelhante a um "Clube do Livro". Seus periódicos
"Almanako Lorenz" (Anual) e "Komunikoj" também são
dedicados a artigos sobre a Doutrina.
Novamente em 1976 o plano espiritual se manifesta
a respeito, o espírito Francisco Valdomiro Lorenz, através do médium Francisco
Cândido Xavier, transmite o livro "O Esperanto como Revelação"
(publicado pelo Instituto de Difusão Espírita), em que os esforços do Doutor
Zamenhof são apresentados no contexto maior do progresso da humanidade. O
Esperanto é parte fundamental do trabalho de transformação do nosso mundo de
expiação e provas em um mundo de regeneração.
Eis o resumo do que encontramos, é apenas um
esboço de uma história muito mais rica, faltam-nos dados sobre a participação
das Federações Estaduais, sobre outros eventos e declarações importantes, como,
por exemplo, a palestra proferida por Divaldo Pereira Franco em 19 de julho de
1979 (no XIV Seminário Brasileiro de Esperanto, intitulada "A Missão do
Esperanto").
Bibliografia:
- Volume IV -
Revue Spirite 1862 - da coleção das obras completas de Allan Kardec
publicada pela Editora Edicel;
- Fotocópia do
artigo "O Espiritismo e o Esperanto", publicado em fevereiro de
1909 na Revista Reformador, fornecida pela FEB;
- Artigo de
Afonso Soares, "O Esperanto e o Futuro", publicado em maio de
1995 na Revista Reformador (FEB);
- O Esperanto
como Revelação, Francisco Valdomiro Lorenz, médium Francisco Cândido
Xavier, Instituto de Difusão Espírita;
- "A
Missão do Esperanto", Folheto distribuído pela Spirita Eldona Societo
Francisco Valdomiro Lorenz;
- Biografia de
Ismael Gomes Braga publicada no periódico Komunikoj número 89
(janeiro/março 1998);
- Folheto
distribuído pela Spirita Eldona Societo F. V. Lorenz com sua história;
- Memórias de
um Suicida, Camilo Castelo Branco, médium Yvonne A. Pereira;
- Grandes
Espíritas do Brasil, Zêus Wantuil, FEB;
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