Jesus não
dispensou o concurso dos amigos do morto, no processo do
seu levantamento.
Não
indagou deles, contudo, quanto à cultura, nem quanto aos sentimentos.
Não lhes
perguntou se eram judeus ou romanos, rabinos ou pescadores,
senhores ou escravos.
Simplesmente
utilizou-os na ressurreição de um homem, valorizando-os, pois, com a oportunidade
de trabalho, cooperação e serviço. Mas, tão logo estabeleceu contacto
visual com o jovem de Betânia, fala-lhe diretamente, sem reticências. Não mais
intermediários: dá-lhe a ordem, incisiva e categórica.
Intima-lhe, com
bondosa energia, a deixar a sombra do túmulo, num convite a que viesse aspirar
o oxigênio cá de fora; a que viesse reaquecer-se sob a claridade do Sol que
buscava, àquela hora, a linha do horizonte.
“Lázaro, sai
para fora” - determina, de modo irresistível, possivelmente para recordar
o que dissera ainda em Jerusalém, quando Lhe chegara a noticia da doença
do amigo: “Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus; para que
o Filho de Deus seja glorificado por ela.”
Quando o Mestre,
voltando-se, sereno, para os amigos de Lázaro, lhes ordenava que tirassem a
pedra, Jesus estava com Lázaro, mas, por estranho que pareça, Lázaro não
estava com Jesus. Agora, contudo, com a suave claridade que invadira o
interior do sepulcro, Lázaro já podia ouvir, em surdina, a voz do Senhor,
a palavra de comando: — Lázaro, sai para fora. “E o defunto saiu” — relata
o Evangelho. “... e Lázaro, que se ergue do sepulcro, é a vida triunfante que
ressurge imortal” — pondera Emmanuel, referindose ao episódio.
* * *
Também nós
outros, retirada a pedra do egoísmo do sarcófago de nossos enganos milenares,
já podemos ouvir, meio confusos, à maneira de uma sinfonia longínqua, o
verbo amoroso de Nosso Senhor Jesus Cristo. Convocando-nos à Luz.
Requisitando-nos à Verdade. Chamando-nos, enfim, à Vida.
Vacilantes e
indecisos, aturdidos e semi-despertos, fitamos a amplidão dos céus infinitos,
onde cintilam estrelasesperanças de mundos fabulosos, de sublimes e ainda
inabordáveis humanidades que escrevem páginas imortais no universal drama da
evolução.
As nossas
pálpebras estão pesadas. Os pés se encontram doloridos. As mãos ainda
traumatizadas.
Em nossa cabeça
— um vácuo indefinível. Estamos realmente atônitos, mas já começamos a
sentir, no Templo de nosso Espírito, a presença Augusta e Misericordiosa do
Mestre.
Faixas mentais
nos identificam com a morte, mas já estamos erguidos. Não há porque desanimar.
“A evolução é fruto do tempo infinito...”
Livro: Estudando
O Evangelho / Martins Peralva.
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