Isolado na
concha milagrosa do corpo, o espírito está reduzido em suas percepções a limites
que se fazem necessários.
A esfera
sensorial funciona, para ele, à maneira de câmara abafadora.
Visão, audição,
tato, padecem enormes restrições.
O cérebro físico
é um gabinete escuro, proporcionando-lhe ensejo de recapitular e reaprender.
Conhecimentos
adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos séculos aí jazem na forma
estática de intuições e tendências.
Forças
inexploradas e infinitos recursos nele dormem, aguardando a alavanca da vontade
para se externarem no rumo da superconsciência.
No templo
miraculoso da carne, em que as células são tijolos vivos na construção da forma,
nossa alma permanece provisoriamente encerrada, em temporário olvido, mas não absoluto,
porque, se transporta consigo mais vasto patrimônio de experiência, é torturado
por indefiníveis anseios de retorno à espiritualidade superior, demorando-se,
enquanto no mundo opaco, em singulares e reiterados desajustes.
Dentro da grade
dos sentidos fisiológicos, porém, o espírito recebe gloriosas oportunidades de
trabalho no labor de auto-superação.
Sob as
constrições naturais do plano físico, é obrigado a lapidar-se por dentro, a consolidar
qualidades que o santificam e, sobretudo, a estender-se e a dilatar-se em influência,
pavimentando o caminho da própria elevação.
Aprisionado no
castelo corpóreo, os sentidos são exíguas frestas de luz, possibilitando-lhe observações
convenientemente dosadas, a fim de que valorize, no máximo, os seus recursos no
espaço e no tempo.
Na existência
carnal, encontra multiplicados meios de exercício e luta para a aquisição e fixação
dos dons de que necessita para respirar em mais altos climas.
Pela
necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a luz.
Pela necessidade,
a abelha se transporta a enormes distâncias, à procura de flores que lhe
garantam o fabrico do mel.
Assim também,
pela necessidade de sublimação, o espírito atravessa extensos túneis de sombra,
na Terra, de modo a estender os poderes que lhe são peculiares.
Sofrendo
limitações, improvisa novos meios para a subida aos cimos da luz, marcando a própria
senda com sinais de uma compreensão mais nobre do quadro em que sonha e se agita.
Torturado pela
sede de Infinito, cresce com a dor que o repreende e com o trabalho que o santifica.
As faculdades
sensoriais são insignificantes résteas de claridade descerrando-lhe leves notícias
do prodigioso reino da luz.
E quando sabe
utilizar as sombras do palácio corporal que o aprisiona temporariamente, no
desenvolvimento de suas faculdades divinas, meditando e agindo no bem, pouco a pouco
tece as asas de amor e sabedoria com que, mais tarde, desferirá venturosamente os
vôos sublimes e supremos, na direção da Eternidade.
Livro: Roteiro.
Emmanuel / Chico
Xavier.
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