sábado, 7 de março de 2020

NO LIMIAR DA VIDA DE ALÉM TÚMULO - Maria João de Deus.

 
Para mim, meu caro filho, as últimas impressões da existência terrena e os primeiros dias transcorridos depois da morte foram muito amargos e dolorosos.
Quero crer que a angústia, que naquele momento avassalou a minh’alma, originou-se da profunda mágoa que me ocasionava a separação do lar e dos afetos familiares, pois, apesar de crer na imortalidade, sempre enchiam-me de pavor de crer na imortalidade, sempre enchiam-me de pavor os aparatos da morte; e dentro do catolicismo, que eu professava fervorosamente, atemorizava-me a perspectiva de uma eterna ausência.
Lutei, enquanto me permitiram as forças físicas, contra a influência aniqüiladora do meu corpo; mas foi uma luta singular a que sustentei, como sói acontecer aos corações maternos, quando periga a tranqüilidade dos seus filhos.
Unicamente esse amor obrigava-me ao apego à vida, porque os sofrimentos, que já havia experimentado, desprendiam-me de todo o prazer que ainda pudesse me advir das coisas terrestres.
Livro: Cartas de uma Morta.
Maria João de Deus / Chico Xavier.

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