Na essência
dos ensinamentos das religiões, existe uma tendência comum em torno de se
alcançar a atitude moral equilibrada.
Em todas
elas, pode-se observar uma pregação constante na permanente busca pelo inefável, incognoscível e
transcendente.
Nem sempre
o caminho a ser percorrido pelos adeptos consegue atingir esse alvo, pois cada
ser humano possui seu repertório de experiências que balizará sua relação com a
religião.
Fundamental
é que se perceba, além do aspecto concreto que existe do divino até o ser
humano, o que há psiquicamente, isto é, o repertório de experiências acumuladas
no inconsciente humano, que interferem no caminho a ser percorrido.
O ser
humano constrói uma Religião Pessoal, independentemente do que lhe acontece
externamente, por conta da percepção própria a respeito do sagrado.
Os termos
religião, atitude religiosa, religiosidade, espiritualismo, inquietação
mística, ascese mística, entre outros, nem sempre se referem aos mesmos objetos
de interesse.
A criatura
humana, mesmo estando consciente de que busca algo superior para a compreensão
de si mesmo e do universo que a cerca, nem sempre sabe de fato o que quer.
Sofre influências inconscientes, oriundas de suas próprias experiências
pregressas, que a levam a acreditar cada vez mais em algo distinto do que
conscientemente deseja. Medos
e anseios pueris interferem na sua compreensão, levando-a muitas vezes a buscar
salvações mágicas e inconseqüentes.
A adoção de
uma religião parece ser um ato exclusivamente aleatório de seu livre-arbítrio
ou resultante de um chamado divino, neste caso externo.
Deve ser
também considerada uma necessidade psicológica, portanto, interna.
Nesse
último aspecto, uma condição coletiva contra a qual não se pode resistir.
Uma
tendência humana forjadora da cultura e dos valores. Nesse sentido, de existir um imperativo psicológico
inconsciente, a autoridade religiosa que norteia a busca espiritual do ser
humano não deve ser externa (um livro, um líder religioso, um depoimento de
alguém, um governo etc.), muito embora possa se iniciar dessa maneira.
A autoridade real deve ser a própria
consciência humana, a partir das experiências adquiridas em suas vidas
sucessivas, conduzidas pelo sentido que atribui a sua vida atual e futura.
Sobre a
tendência inconsciente deve prevalecer uma atitude consciente.
Nas
organizações religiosas de pequenas comunidades, as escolhas individuais se
estruturam contaminadas pelo arquétipo dominante que atua em seus líderes. Só a
maturidade do ego pode fazer a consciência assumir a atitude religiosa.
Religiosidade
é a tendência ao sagrado, isto é, ao que transcende o humano para além dele
mesmo.
Necessariamente
não obriga o ser humano à adoção de uma religião.
Quando a
religião é adotada, a religiosidade adequou-se, podendo resultar, ou não, em
estagnação da consciência que deseja realizar-se.
A religião
formal tende a permitir um certo alívio da tensão provocada pelo inconsciente, que impulsiona o ego na
direção do sagrado.
A religiosidade o impulsiona para a
compreensão de si mesmo, assimilando os conteúdos inconscientes, direcionando
sua energia para a compreensão da realidade e de sua existência no mundo.
O
conhecimento a respeito das coisas do espírito, vindo do Espiritismo ou de
outras religiões mediúnicas, do Hinduísmo, do Cristianismo ou de crenças
esotéricas, deve ser utilizado para a formação da Religião Pessoal.
Por
enquanto ele ainda é elemento da curiosidade da consciência pueril da
humanidade, usado como sistema de proteção contra o medo e o desconhecido.
Em face da
infância espiritual do ser humano, tal conhecimento é misturado com crendices e
superstições, que apenas atendem ao anseio coletivo de aliviar as tensões
inconscientes.
Ainda não
estão a serviço da religiosidade nem da formação da Religião Pessoal, muito
embora sirvam à atualização do arquétipo, necessitando da conscientização
adequada pelo ego para a internalização do resultante das experiências vividas.
É
importante ressaltar que a religião coletiva não se constituiu num conjunto
coeso de normas e regras interpretadas e aceitas integralmente por todos.
Tampouco se deve pensar que a totalidade dos adeptos de uma religião tem a
mesma consciência de seus princípios, bem como a praticam da mesma forma.
Na
realidade, os adeptos das grandes religiões vivenciam o sagrado de diferentes
formas, mas preferem estar abrigados sob o manto protetor da coletividade a
assumir, cada um, sua singularidade.
Pode-se
dizer que não existe religião uniforme, pois na realidade seus diversos nomes
são denominações oriundas de algum fato gerador numinoso. Foram geradas por um
fenômeno místico e transcendente e se diversificaram quando se confrontaram com
o processo de simbolização da psiquê de cada indivíduo. O novo (clima,
tradições, linguagem, etc.), as experiências coletivas de cada povo e as
experiências de vidas passadas são responsáveis pela multiplicidade de
expressões religiosas.
O número de
religiões cresce ao surgimento de cada novo paradigma que se estabelece. Essa
tendência é fruto do processo de amadurecimento da psiquê, bem como do
distanciamento do mito que deu origem àquela religião.
Todos
possuem sua Religião Pessoal, muito embora não tenham consciência ou coragem de
assumir. Vivem-na na intimidade de sua consciência, muitas vezes receosa de
manifestar autenticamente o que pensa e sente.
A religião
formal deve favorecer a construção de uma religiosidade madura, capaz de fazer
face aos anseios psíquicos inconscientes de realização pessoal, de descoberta
do Si-Mesmo e de encontro com Deus.
Quanto mais
o indivíduo assuma sua Religião Pessoal e construa uma religiosidade que
suporte todo o mal inerente à natureza humana, mais cedo alcançará a
compreensão de sua existência e viverá sua essência.
Por não suportar o mal, a religião exclui
parte da natureza humana.
Uma
religião que ofereça uma perspectiva de continuidade da existência do eu, que,
por conta disso, impulsione as pessoas à comunicação interdimensional
(mediúnica), que reforce a obrigação ética, que pugne pela responsabilidade
social pessoal e que convide as pessoas a vivenciar o amor não pode ser vivida
simplesmente para uma suposta salvação pessoal ou para encher os templos de
adeptos.
Uma
religião que se fixe em estabelecer o que é moral, bem como em condenar uma
imoralidade formal, que não compreende o dinamismo do Universo tende a
estagnar, falir ou alienar seus adeptos. É necessário que se entenda que o
imoral, com o tempo, pode se transformar em moral ou vice-versa.
É preciso
viver religiosamente, porém sem se alienar do mundo, sem deixar de considerar
que todos estão num mesmo momento evolutivo e que isso os nivela
espiritualmente.
A Religião
Pessoal deve ser capaz de proporcionar uma vida pacífica, harmoniosa e com amorosidade.
Uma
religião que não resiste à mínima imoralidade é apenas uma conveniência humana.
A religião não é para formar crentes, mas para fazer evoluir consciências.
Sua missão
é libertar as consciências, também de seus próprios egos.
Religião
sem religiosidade torna-se um movimento intelectual, frio e tendente à
alienação.
Religião Pessoal/Adenáuer Novaes.