As
múltiplas experiências humanas pela reencarnação e os repetidos contatos com
ambos os sexos proporcionam ao espírito as tendências sexuais na feminilidade
ou masculinidade e este reencarna com ambas polaridades e se junge, muitas
vezes contrariado, aos impositivos da anatomia genital e da educação sexual que
acolhe em seu ambiente cultural.
Consoante
essas experiências tenderá para qualquer das duas opções e o fará nem sempre de
acordo com sua aspiração interior, que poderá ser inverso ao que determina o
meio socio-cultural.Emmanuel ensina na obra “Vida e Sexo” que o “Espírito passa
por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em
condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais
ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas.” ([1]) Além disso há vários
fatores educacionais que poderiam contribuir para despertar no indivíduo as
tendências sepultadas nas profundezas de seu inconsciente espiritual.
E, ainda
que desempenhe papéis de acordo com a sua anatomia genital e que seu psiquismo
se constitua de acordo com sua opção sexual, poderá ocorrer que se desperte com
desejos de ter experiências afetivas com pessoas do mesmo sexo. Tal ocorrência
poderá lhe tumultuar a consciência caracterizando, por aquele motivo, um
transtorno psíquico-emocional.
A
convivência do espírito com o sexo oposto ao que adotou em cada encarnação, bem
como aquelas na qual exerceu sua opção sexual, irão plasmar em seu psiquismo as
tendências típicas de cada polaridade. Explica Emmanuel, a homossexualidade,
também hoje chamada transexualidade, em alguns círculos de ciência,
definindo-se, no conjunto de suas características, por tendência da criatura
para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra
explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases
materialistas, mas é perfeitamente compreensível, à luz da reencarnação.”([2])
Na questão
202 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec indaga aos Espíritos: "Quando
errante, que prefere o Espírito: encarnar no corpo de um homem, ou no de uma
mulher?" "Isso pouco lhe importa” responderam os Benfeitores, “o que
o guia na escolha são as provas por que haja de passar"([3]) esclareceram
os Espíritos. A genética tem tentado encontrar genes que explicariam a
homossexualidade como sendo desvio de comportamento sexual. A psiquiatria tenta
encontrar enzimas cerebrais que poderiam influenciar no comportamento sexual.
Mas a sede real do sexo não se acha no veículo físico, porém na estrutura
complexa do espírito. É por esse prisma que devemos encarar as questões
relacionadas ao sexo. Dia virá que “a
coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos
de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente
de sinais morfológicos”.[4]
Não podemos
confundir homossexualismo com desvio de caráter, até porque os deslizes sexuais
de qualquer tendência têm procedências diversas. Suas raízes genésicas podem
vir de profundidades íntimas insondáveis. “A própria filogênese([5]) do sexo,
que começa aparentemente no reino mineral, passando pelo vegetal e ao animal,
para depois chegar ao homem, apresenta enorme variação de formas, inclusive a
autogênese[geração espontânea] dos vírus e das células e a bissexualidade dos
hermafroditas”([6]), para alguns pesquisadores justifica o aparecimento de
desvios sexuais congênitos.
A Doutrina
Espírita é libertadora por excelência. Ela não tem o caráter tacanho de impor
seus postulados às criaturas, tornando-as infelizes e deprimidas. A energia
sexual pede equilíbrio no uso e não abuso ou repressão. O Espiritismo não
condena a homossexualidade, contrariamente, recomenda-nos o respeito e fraterna
compreensão para com os que têm preferências homoafetivas. Muitas vezes pode
até ser alguém tangido pelo apelo permissivo que explode das águas tóxicas do
exacerbado erotismo, somados aos diversos incentivadores pseudocientíficos da
depravação, que podem estar desestruturando seu sincero projeto de edificação
moral, através de uma conduta sexual equilibrada.([8]) Por isso mesmo, não pode
ser discriminado, nem rejeitado, pois, como admoesta Jesus, "aquele dentre
vós que não tiver pecados, que atire a primeira pedra"([9])...
Como já
vimos com Emmanuel no início desta exposição, não há masculinidade plena, nem
plena feminilidade na Terra. Tanto a mulher tem algo de viril, quanto o homem
de feminil. Antigamente a educação muito rígida e repressiva contribuía para
enquadrar o indivíduo ambisséxuo, em seu sexo natural.
Assumir a
homossexualidade não significa mergulhar em um universo de atitudes extremadas
e desafiadoras perante seu grupo de relacionamento familiar ou profissional,
“mas fazer um profundo exercício de autoaceitação, asserenar-se por dentro a
fim de poder reconhecer perante si mesmo e todo seu círculo de amigos e
parentes que vive uma situação conflitante. O verdadeiro desafio é a construção
interna para superar os desejos. E não estamos aqui referindo-nos
exclusivamente a desejo sexual e sim a toda espécie de desejos que comandam a
vida das criaturas.” ([10])
Emmanuel
enfatiza que “O mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas
comunidades de irmãos em experiência dessa espécie [homossexual], somando
milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de
igualdade devidos às criaturas heterossexuais.”([11]) O homossexualismo não
deve, pois, ser classificado como uma psicopatia ou comportamento merecedor de
discriminação ou medidas repressivas. O homossexual, especialmente o
"transexual", merece toda a nossa compreensão e ajuda, para que ele
possa vencer sua luta de adaptação ao novo sexo adquirido com o renascimento.
Outra
questão extremamente controvertida, para muitos cristãos, é a possibilidade da
união estável (casamento) entre duas pessoas do mesmo sexo. Ante a miopia
preconceituosa do falso purismo religioso da esmagadora maioria de cristãos
supostamente “puros”, isso é uma blasfêmia. Isto torna o tema bastante complexo
e, portanto, aberto para discussões. Porém, após refletir bastante sobre o
assunto e, sobretudo, tendo como alicerce as opiniões de Chico Xavier,
entendemos que a união estável (casamento) entre homossexuais é perfeitamente
normal, sim.
Só conseguiremos
entender melhor a questão homossexual depois que estivermos livres dos
(pré)conceitos que nos acompanham há muitos milênios. Arriscaríamos a afirmar,
que a legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, é um avanço da
sociedade, que estará apenas regulamentando o que de fato já existe.
Seria
lícito a duas pessoas do mesmo sexo viverem sob o mesmo teto, como marido e
mulher?A propósito, vasculhando fontes sobre esta mesma indagação encontramos
em Folha Espírita a resposta de Emmanuel “A esta indagação o Codificador da
Doutrina Espírita formulou a Questão 695, em O Livro dos Espíritos, com as
seguintes palavras: ‘O casamento, quer dizer, a união permanente de dois seres,
é contrário a lei natural?’ Os orientadores dos fundamentos da Doutrina
Espírita responderam com a seguinte afirmação: ‘É um progresso na marcha da
humanidade.’ Os amigos encarnados no
plano físico com a tarefa de sustentar e zelar pelo Cristianismo Redivivo, na
Doutrina Espírita, estão aptos ao estudo e conclusão do texto em exame.”([12])
(grifamos)
Tanto o
homossexual como o heterossexual devem buscar a sua reforma interior, não
cedendo aos arrastamentos provocados pelos impulsos instintivos e sensuais. O
que é ilícito ao hetero, também o é ao homossexual, ambos precisam “distinguir
no sexo a sede de energias superiores que o Criador concede à criatura para
equilibrar-lhe as atividades, sentindo-se no dever de resguardá-las contra os
desvios suscetíveis de corrompê-las. O sexo é uma fonte de bênçãos renovadoras
do corpo e da alma”([13])
Mister,
portanto, reconhecer que ao serem identificadas os pendores homossexuais das
pessoas nessa dimensão de prova ou de expiação, é imperioso se lhes oferte o
amparo educativo pertinente, nas mesmas condições que se administra instrução à
maioria heterossexual da sociedade.
Acreditamos,
por fim, que estas idéias poderão levar,
a quantos as lerem, a meditar, em definitivo, sobre o assunto , lembrando que o
homossexualismo transcende em si mesmo a simples questão da permuta sexual.
Fontes de Referência
([1])Xavier, Francisco
Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB,
2001.
([2])______, Francisco
Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB,
2001.
([3])Kardec, Allan. O Livro
dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. Feb, 2000, perg. 202
([4])_______, Francisco
Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB,
2001.
([5]) Filogenia (história
evolucionária das espécies) opõe-se à ontogenia (desenvolvimento do indivíduo
desde a fecundação até a maturidade para a reprodução.)
([6])Disponível em
<http://www.espirito.org.br/portal/artigos/gebm/homossexualismo-e-vampirismo.html>acessado
em 21/04/06
([7]) Publicada no Jornal
Folha Espírita do mês de Março de 1984
([8]) A recomendação do
Espiritismo para o respeito e a compreensão para com os irmãos que transitam em
condições sexuais inversivas (homossexualismo) ocorre em função do sentimento
de fraternidade ou caridade que deve presidir o relacionamento humano, mas
igualmente pelo fato de que nenhum de nós tem autoridade suficiente para
condenar quem quer que seja, pois todos temos dificuldades morais e/ou
materiais graves que precisam de educação.
([9])João, cap. VIII, vv. 3 a
11
([10])Disponível em
<http://www.irc-espiritismo.org.br/irc_resp_sexualidade.html>acessado
em 21/04/2006
([11]) _______, Francisco
Cândido. Vida e Sexo, Ditado pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed FEB,
2001.
([12]) Publicada no Jornal
Folha Espírita do mês de Julho de 1984.
([13]) Xavier, Francisco
Cândido. Conduta Espírita, Ditado pelo Espírito André Luiz, Rio de Janeiro: Ed
FEB, 2001.
Artigo gentilmente
cedido por Jorge Luiz Hessen
Servidor público
Federal, Expositor Espírita na região de Brasília e Goiás,
Articulista das
Revistas "Reformador", "O Espírita" e "Brasília
Espírita "
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