612. Poderia
encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria
retrogradar e o Espírito não retrógrada. O rio não remonta à sua nascente.” (118)
613. Embora de
todo errônea, a ideia ligada à metempsicose não terá resultado do sentimento
intuitivo que o homem possui de suas diferentes existências?
“Nessa, como em
muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O homem, porém, o desnaturou,
como costuma fazer com a maioria de suas ideias intuitivas.”
Seria verdadeira
a metempsicose, se indicasse a progressão da alma, passando de um estado
inferior a outro superior, onde adquirisse desenvolvimentos que lhe
transformassem a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta
da alma do animal para o homem e reciprocamente, o que implicaria a ideia de
uma retrogradação, ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão
operar-se entre os seres corporais das duas espécies mostra que estas são de
graus inassimiláveis, devendo dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as
animam. Se um mesmo Espírito as pudesse animar alternativamente, haveria, como
consequência, uma identidade de natureza, traduzindo-se pela possibilidade da
reprodução material. A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao
contrário, na marcha ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da
sua própria espécie, o que em nada lhe diminui a dignidade. O que o rebaixa é o
mau uso que ele faz das faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida.
Seja como for, a ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose,
assim como a circunstância de a terem professado homens eminentes, provam que o
princípio da reencarnação se radica na própria Natureza. Antes, pois,
constituem argumentos a seu favor, que contrários a esse princípio.
O ponto inicial
do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das coisas e de que
Deus guarda o segredo. Dado não é ao homem conhecê-las de modo absoluto, nada
mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas
mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e,
acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim, por
exemplo, que nem todos pensam da mesma forma quanto às relações existentes
entre o homem e os animais. Segundo uns, o Espírito não chega ao período humano
senão depois de se haver elaborado e individualizado nos diversos graus dos
seres inferiores da Criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria
pertencido sempre à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro
desses sistemas apresenta a vantagem de assinar um alvo ao futuro dos animais,
que formariam então os primeiros elos da cadeia dos seres pensantes. O segundo
é mais conforme à dignidade do homem e pode resumir-se da maneira seguinte:
As diferentes
espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, mediante
progressão. Assim, o espírito da ostra não se torna sucessivamente o do peixe,
do pássaro, do quadrúpede e do quadrúmano. Cada espécie constitui, física e
moralmente, um tipo absoluto, cada um de cujos indivíduos haure na fonte
universal a quantidade do princípio inteligente que lhe seja necessária, de
acordo com a perfeição de seus órgãos e com o trabalho que tenha de executar
nos fenômenos da Natureza, quantidade que ele, por sua morte, restitui ao
reservatório donde a tirou. Os dos mundos mais adiantados que o nosso (ver n°
188) constituem igualmente raças distintas, apropriadas às necessidades desses
mundos e ao grau de adiantamento dos homens, cujos auxiliares eles são, mas de
modo nenhum procedem das da Terra, espiritualmente falando. Outro tanto não se
dá com o homem. Do ponto de vista físico, este forma evidentemente um elo da
cadeia dos seres vivos: porém, do ponto de vista moral, há, entre o animal e o
homem, solução de continuidade. O homem possui sua própria alma ou Espírito,
centelha divina que lhe confere o senso moral e um alcance intelectual de que
carecem os animais; é nele o ser principal, que preexiste e sobrevive ao corpo,
conservando sua individualidade. Qual a origem do Espírito? Onde o seu ponto
inicial? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Tudo isso são
mistérios que seria inútil querer devassar, e sobre os quais, como dissemos,
nada mais se pode fazer do que construir sistemas. O que é certo, o que
ressalta do raciocínio e da experiência é a sobrevivência do Espírito, a
conservação de sua individualidade após a morte, sua faculdade de progredir,
seu estado feliz ou desgraçado de acordo com o seu adiantamento na senda do bem
e todas as verdades morais decorrentes deste princípio. Quanto às relações
misteriosas que existem entre o homem e os animais, isso, repetimos, está nos
segredos de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento atual nada
importa ao nosso progresso e sobre as quais seria inútil determo-nos.
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
612. Can a
spirit that has animated a human body incarnate in an animal?
“No, because
this would be a regression and a spirit never regresses. A river does not fow
back to its source.” (See no. 118)
613. However
fawed the theory of metempsychosis may be, could this doctrine be a result of
an intuitive recollection of the different lives of human beings?
“We fnd the idea
of an intuitive recollection in this theory and in many others, but as in the
case of most of their intuitive ideas, humans have distorted it.”
Metempsychosis
would be true if it were understood to be the progression of the soul from a
lower to a higher state, in which it acquires the new development that
transforms its nature. However, when understood to mean that any animal can
transmigrate directly into a human, and a human into an animal, which would
imply regression or fusion, it is false. The fact that fusion is not possible
between different species is an indication of their contrasting degrees, and
that must also be the case with the spirits that bring life to them. If the
same spirit could animate them interchangeably, it would imply the existence of
something that could manifest itself only by the possibility of physical
reproduction.
The spirits
teach us that reincarnation is founded on nature’s ascending movement and the
development of humans within their own species. This does not undermine the
dignity of humans in no way. What degrades human beings is the bad use they
make of the abilities that God has given them for their advancement. Be what it
may, the antiquity and universality of the doctrine of metempsychosis, and the
number of well-respected individuals who support it proves that the root of
reincarnation is nature itself. Rather than diminishing the likelihood that it
is truth, this fact must be understood as a substantial argument in its favor.
Questions about
the origin of a spirit encompass the origin of all things and God’s secret
designs. Human beings are not meant to fully understand them and can only form
more or less probable hypotheses and theories in this respect. The spirits 232
Allan Kardec - The Spirits’ Book are far from knowing everything and may also
have, in regard to what they do not know, individual opinions that may or may
not be supported by fact.
This is why all
spirits do not think alike with regard to the relations that exist between
humans and animals. According to some, the spirit can only incarnate as a human
after passing through the different degrees of the lower beings of creation.
According to others, people have always belonged to the human race, without
passing through the various degrees of the animal world. The former theory has
the advantage of giving a purpose to the future of animals, which form the
earliest links in the chain of thinking beings. The latter theory is more
consistent with the dignity of human beings, and it is summarized below.
The different
species of animals do not intellectually proceed from one another by
progression. In other words, the spirit of an oyster does not successively
become that of a fsh, bird, quadruped, and quadrumane. Each species is a
physical and moral absolute, and each individual draws the sum of the
intelligent principle that is necessary from the universal source depending on
the nature of its body and the work it has to accomplish in nature. This
intelligent principle is restored to the general mass at its death. Beings from
worlds more advanced than ours (see no. 188) are also distinct races that
correspond to the needs of those worlds, and the degree of advancement of the
individuals who live there. However, they do not spiritually proceed from the
human beings on earth. It is not the same with humans. From a physical
perspective, humans form a link in the chain of living beings, but morally
speaking, there is a solution of continuity between animals and humans. Humans
alone possess the soul, or spirit, the Divine spark that gives them the moral
sense and extended vision that animals sorely lack. This spark is the principal
being within them, preexistent to and surviving their bodies, and preserving
their individuality.
What is the
origin of the spirit? What is its initial starting point? Is it formed from the
individualized intelligent principle? That is a mystery that would pointless to
try to penetrate, and regarding which, as we have said, we can only build
theories. What can be confrmed by both reason and experience is the survival of
each spirit and the persistence of its individuality after death, its ability
to develop, with the happiness of its next life depending on its advancement
and all the moral consequences that fow from this certainty. Like so many other
things that are currently of little signifcance to our advancement and useless
for us to dwell on, the mysterious relation that exists between humans and
animals, we repeat, is one of God’s secrets.
THE SPIRITS’
BOOK – Allan Kardec.
612. Ĉu la
Spirito, iam animinta la korpon de homo, povus enkarniĝi en besto.?
“Li do
malprogresus, kaj la Spirito ne malantaŭen paŝas. Rivero ne refluas supren al sia
fonto.” (118)
613. Kiel ajn
malĝusta estas la ideo ligita al la metempsikozo, ĉu ĝi ne estus rezultato de
la intuicia sento pri la pluraj ekzistadoj de la homo?
“Tiu intuicia
sento estas trovata en tiu kredo, kiel sama devas fariĝi pri la Spiritoj ilin
animantaj.
Se sama Spirito
povus ilin alterne animi, el tio do sekvus naturidenteco, kiu ebligus materian
reproduktadon. La reenkarniĝado, instruata de la Spiritoj, sin bazas, kontraŭe,
sur la supreniranta marŝo de la Naturo kaj sur la progresado de la homo interne
de sia speco mem, kio neniom malpliigas lian dignon.
Kio lin
malaltigas, tio estas la misuzado, kiun li faras, de la kapabloj, al li donitaj
de Dio por lia altiĝo. Kiel ajn la afero estas, la malnoveco kaj la universaleco
de la doktrino pri metempsikozo, kiel ankaŭ la eminentaj homoj, kiuj ĝin akceptis,
pruvas, ke la principo pri reenkarniĝado havas siajn radikojn en la Naturo mem;
tiuj argumentoj ĝin prefere apogas ol kontraŭas.
La deirpunkto de
la Spirito estas unu el tiuj demandoj, ligitaj al la origino de la ekzistaĵoj
kaj troviĝantaj en la sekreto de Dio. Ne estas donite al la homo koni tiujn
demandojn en absoluta maniero; pri tio li povas nur fari supozojn, formuli
pli-malpli probablajn sistemojn. Al la Spiritoj mem multege mankas, ke ili konu
ĉion; pri tio, kion ili nescias, ili povas ankaŭ eldiri pli aŭ malpli saĝajn
opiniojn.
Ne ĉiuj pensas
en sama maniero, ekzemple pri la rilatoj inter homo kaj bestoj. Laŭ la opinio
de kelkaj, la Spirito atingas la homan periodon nur, post kiam li sin
elpreparis kaj ricevis individuecon ĉe la pluraj gradoj de la malsuperaj estaĵoj.
Aliaj opinias, ke la Spirito de la homo ĉiam apartenis al la homa raso, ne
trapasinte la bestan vicon.
La unua el ĉi
tiuj sistemoj havas la meriton, ke ĝi solvas la demandon pri la estonteco de la
bestoj, kiuj, tiel, estus la unuaj eroj de la ĉeno el pensokapablaj estaĵoj; la
dua estas pli konforma al la homa digno, kaj ni povas ĝin resumi jene.
La pluraj specoj
de bestoj ne devenas intelekte unuj de la aliaj pere de progresado; ekzemple,
la spirito de ostro ne aliformiĝas sinsekve en tiun de fiŝo, de birdo, de
kvarpiedulo kaj de kvarmanulo; ĉiu speco estas, fizike kaj morale, absoluta tipo,
kaj ĉiu el ĝiaj individuoj ĉerpas el la universa fonto la kvanton da intelektoprincipo,
kìun li bezonas, laŭ la perfekteco de siaj organoj kaj la laboro, kiun li devas
plenumi ĉe la naturaj fenomenoj; tiun elĉerpitan kvanton li, ĉe sia morto,
redonas al la origina maso. La bestoj de mondoj pli progresintaj ol la nia
(vidu § 188) konsistigas ankaŭ malsamajn rasojn, konformajn al la bezonoj de
tiuj mondoj kaj al la progresostadio de la homoj, al kiuj ili helpas; sed ili
tute ne devenas de la teraj bestoj, el spirita vidpunkto.
Same ne estas
pri la homo. El fiziologia vidpunkto, li estas evidente ero de la ĉeno de l'
vivantaj estaĵoj; sed el la morala, okazas rompo de kontinueco inter homo kaj besto;
la homo posedas propran animon aŭ Spiriton, dian fajreron, kiu havigas al li moralan
kaj intelektan kapablojn, mankantajn al la bestoj; troviĝas en li la precipa
estaĵo, antaŭekzistanta kaj postvivanta la korpon, kaj ĉiam konservanta sian
individuecon. Kiu estas la origino de la Spirito? kie estas lia deirpunkto? ĉu
li ekestas el la intelektoprincipo individuiĝinta? Tio estas mistero, kiun oni
vane penus penetri kaj pri kiu, kiel ni jam diris, oni povas nur imagi sistemojn.
Kio estas konstanta, kaj kio rezultas samtempe el la rezonado kaj el la eksperimenta
praktiko, tio estas la postvivo de la Spirito, la konservo de lia individueco
post morto, lia progresokapablo, lia feliĉa aŭ malfeliĉa stato rilata al lia
pozicio sur la vojo de bono, kaj ĉiuj moralaj veraĵoj, kiuj estas la konsekvenco
de tiu principo.
Koncerne la
misterajn rilatojn inter homo kaj bestoj, tio, ni ripetas, estas sekreto de
Dio, kiel multaj aliaj aferoj, kies nuna kono neniel influus nian progreson kaj
pri kiuj estus senutile insisti.
La Libro de la
Spiritoj – Allan Kardec.
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