sábado, 11 de abril de 2020

AH! EU MORRERA - Maria João de Deus


Descerrou-se, finalmente, o derradeiro véu que obumbrava o meu ser pensante... Senti-me sã, ativa, ágil, como se despertasse naquele instante... Ah! Eu morrera...
E a morte representava um grande bem, porque eu me sentia outra, trazendo as faculdades integrais, plena de favoráveis disposições para as lutas da vida. Todavia tinha a impressão de estar só, já que ninguém respondia às minhas argüições, embora percebesse que a minha voz nada perdera de seu vigor e tonalidade.
Propositalmente procurava fazer-me vista por todos, mas uma impossibilidade perturbadora correspondia aos meus pensamentos. Refugiei-me, então, nas mais sinceras e fervorosas preces. Foi quando comecei a divisar vultos sutis e ouvir vozes acariciadoras, das quais fugia amedrontada e receosa, na ilusão pueril de que me achava com o corpo físico, trânsita de medo e suscetibilidades...
Livro Cartas de uma Morta - Psicografia Chico Xavier.

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