Despertei
novamente e vi-me ao lado de uma legião de seres, que se achavam genuflexos
como eu. Já outro, porém, era o templo no qual me encontrava. Havia um recinto
amplo e majestoso, construído à base de elementos que não é possível
qualificar, por falta de termos equivalentes no vocabulário humano. Nesse
magnificente interior não existia determinado santuário para orações, mas, sim,
obras de arte sublime, destacando-se uma tribuna formada de matéria luminosa,
como se fosse feita de névoa esvaecentes. Ouvia-se, provinda de um coro
dulcíssimo de vozes meigas e cristalinas, uma prece ao Criador, repleta de
harmonias e de excelsitudes. E aquele cântico melodioso era mais um ciclo de
asas ou murmúrio de favônios unindo as pétalas das flores.
Aí, mais do que
nunca, relembrei dos afetos que me ligavam ao lar; e um incoercível receio inundou
o meu espírito, amedrontado ante a perspectiva de separação eterna, porque,
após as incertezas e as agonias da morte, eu sabia ter sido arrebatada para um
local distante, a menos que estivesse possuída de extremas alucinações.
De onde
provinham aquelas cadências harmoniosas de cavatina celeste, que me faziam
vibrar de emotividade até às lágrimas?
Então, toda
minh’alma chorava de amargura e alegria; havia em meu coração um misto de saudade
e júbilo inexprimíveis.
Livro Cartas de
uma Morta - Psicografia Chico Xavier.
Nenhum comentário:
Postar um comentário