domingo, 13 de novembro de 2022

DAS OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS / SPIRIT OCCUPATIONS AND MISSIONS. (2)

570. Os Espíritos percebem sempre os desígnios que lhes compete executar?

“Não. Muitos há que são instrumentos cegos. Outros, porém, sabem muito bem com que fim atuam.”

571. Só os Espíritos elevados desempenham missões?

“A importância das missões corresponde às capacidades e à elevação do Espírito. O estafeta que leva um telegrama ao seu destinatário também desempenha uma missão, se bem que diversa da de um general.”

572. A missão de um Espírito lhe é imposta, ou depende da sua vontade?

“Ele a pede e ditoso se considera se a obtém.”

a) — Pode a mesma missão ser pedida por muitos Espíritos?

“Sim, é frequente apresentarem-se muitos candidatos, mas nem todos são aceitos.”

573. Em que consiste a missão dos Espíritos encarnados?

“Em instruir os homens; em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. As missões, porém, são mais ou menos gerais e importantes. O que cultiva a terra desempenha uma missão, como o que governa, ou o que instrui. Tudo na natureza se encadeia. Ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, concorre, sob essa forma, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem neste mundo a sua missão, porque todos podem ter alguma utilidade.”

574. Qual pode ser, na Terra, a missão das criaturas voluntariamente inúteis?

“Há efetivamente pessoas que só para si mesmas vivem e que não sabem tornar-se úteis ao que quer que seja. São pobres seres dignos de compaixão, porquanto expiarão duramente sua voluntária inutilidade, começando-lhes muitas vezes, já nesse mundo, o castigo, pelo aborrecimento e pelo desgosto que a vida lhes causa.”

a) — Uma vez que lhes fora facultada a escolha, por que preferiram uma existência que nenhum proveito lhes traria?

“Entre os Espíritos também há preguiçosos que recuam diante de uma vida de labor. Deus consente que assim procedam. Mais tarde compreenderão, à própria custa, os inconvenientes da inutilidade a que se votaram e serão os primeiros a pedir que se lhes conceda recuperar o tempo perdido. Pode também acontecer que tenham escolhido uma vida útil e que hajam recuado diante da execução da obra, deixando-se levar pelas sugestões dos Espíritos que os induzem a permanecer na ociosidade.”

575. As ocupações comuns mais nos parecem deveres do que missões propriamente ditas. A missão, de acordo com a ideia a que esta palavra está associada, tem um caráter menos exclusivo e, sobretudo, menos pessoal. Deste ponto de vista, como se pode reconhecer que um homem tem realmente na Terra uma determinada missão?

“Pelas grandes coisas que opera, pelos progressos a cuja realização conduz seus semelhantes.”

576. Foram predestinados a isso, antes de nascerem, os homens que trazem uma missão importante? Têm dela conhecimento?

“Algumas vezes, sim. É, porém, mais comum que o ignorem. Baixando à Terra, colimam apenas um vago objetivo. Depois do nascimento e de acordo com as circunstâncias é que suas missões se lhes desenham às vistas. Deus os impele para a senda onde devam executar-lhe os desígnios.”

577. Quando um homem faz alguma coisa útil, age sempre em virtude da missão em que foi anteriormente investido e a que vem predestinado, ou pode suceder que haja recebido missão não prevista?

“Nem tudo o que o homem faz resulta de missão a que tenha sido predestinado. Muitas vezes é o instrumento de que se serve um Espírito para fazer que se execute uma coisa que julga útil. Por exemplo, entende um Espírito ser útil que se escreva um livro, que ele próprio escreveria se estivesse encarnado. Procura então o escritor mais apto a lhe compreender e executar o pensamento. Transmite-lhe a ideia do livro e o dirige na execução. Ora, esse escritor não veio à Terra com a missão de publicar tal obra. O mesmo ocorre com diversos trabalhos artísticos e muitas descobertas. Devemos acrescentar que, durante o sono corporal, o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, entendendo-se os dois acerca da execução.”

578. Poderá o Espírito, por própria culpa, falir na sua missão?

“Sim, se não for um Espírito superior.”

a) — Que consequências lhe advirão da sua falência?

“Terá que retomar a tarefa; essa a sua punição. Também sofrerá as consequências do mal que haja causado.”

579. Pois se é de Deus que o Espírito recebe a sua missão, como se há de compreender que Deus confie missão importante e de interesse geral a um Espírito capaz de falir?

“Não sabe Deus se o seu general obterá a vitória ou se será vencido? Sabe-o, crede, e seus planos, quando importantes, não se apoiam nos que hajam de abandonar em meio a obra. Toda a questão, para vós, está no conhecimento que Deus tem do futuro, mas que não vos é concedido.”

580. O Espírito que encarna para desempenhar determinada missão tem apreensões idênticas às de outro que o faz por provação?

“Não, porque traz a experiência adquirida.”

581. Certamente desempenham missão os homens que servem de faróis ao gênero humano, que o iluminam com a luz do gênio. Entre eles, porém, alguns há que se enganam, que, de par com grandes verdades, propagam grandes erros. Como se deve considerar a missão desses homens?

“Como falseadas por eles próprios. Estão abaixo da tarefa que tomaram sobre os ombros. Contudo, mister se faz levar em conta as circunstâncias. Os homens de gênio têm que falar de acordo com as épocas em que vivem; assim, um ensinamento que parece errôneo ou pueril numa época adiantada pode ter sido o que convinha no século em que foi divulgado.”

582. Pode-se considerar como missão a paternidade?

“É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. Constitui, ao mesmo tempo, grandíssimo dever, que empenha, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização física débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de endireitar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de endireitar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem.”

583. São responsáveis os pais pelo transviamento de um filho que envereda pelo caminho do mal, apesar dos cuidados que lhe dispensaram?

“Não; porém, quanto piores forem as propensões do filho, tanto mais pesada é a tarefa e tanto maior o mérito dos pais, se conseguirem desviá-lo do mau caminho.”

a) — Se um filho se torna homem de bem, não obstante a negligência ou os maus exemplos de seus pais, tiram estes daí algum proveito?

“Deus é justo.”

584. De que natureza será a missão do conquistador que apenas visa satisfazer à sua ambição e que, para alcançar esse objetivo, não vacila ante nenhuma das calamidades que vai espalhando?

“As mais das vezes não passa de um instrumento de que se serve Deus para cumprimento de seus desígnios, representando essas calamidades um meio de que ele se utiliza para fazer que um povo progrida mais rapidamente.”

a) — Nenhuma parte tendo na produção do bem que dessas calamidades passageiras possa resultar, pois que visava um fim todo pessoal, aquele que delas se constitui instrumento tirará, não obstante, proveito desse bem?

“Cada um é recompensado de acordo com as suas obras, com o bem que intentou fazer e com a retidão de suas intenções.”

Os Espíritos encarnados têm ocupações inerentes às suas existências corpóreas. No estado de erraticidade, ou de desmaterialização, tais ocupações são adequadas ao grau de adiantamento deles.

Uns percorrem os mundos, instruem-se e se preparam para nova encarnação.

Outros, mais adiantados, ocupam-se com o progresso, dirigindo os acontecimentos e sugerindo ideias que lhe sejam propícias. Assistem os homens de gênio que concorrem para o adiantamento da humanidade.

Outros encarnam com determinada missão de progresso.

Outros tomam sob sua tutela os indivíduos, as famílias, as reuniões, as cidades e os povos, dos quais se constituem os anjos guardiães, os gênios protetores e os Espíritos familiares.

Outros, finalmente, presidem aos fenômenos da natureza, de que se fazem os agentes diretos.

Os Espíritos vulgares se imiscuem em nossas ocupações e diversões.

Os impuros ou imperfeitos aguardam, em sofrimentos e angústias, o momento em que praza a Deus proporcionar-lhes meios de se adiantarem. Se praticam o mal, é pelo despeito de ainda não poderem gozar do bem.

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec.

570. Do spirits always understand the plans they must carry out?

“No, some are blind instruments, but others fully understand their end goal.”

571. Do only elevated spirits receive missions?

“The importance of a mission is always proportionate to the capacity and elevation of the spirit. A courier who delivers a message fulfills a mission, although it is not equivalent to that of a general.”

572. Is a spirit’s mission forced upon it or chosen by it?

“It asks for it, and is happy to get it.”

a) Can several spirits ask for the same mission?

“Yes, there are often several candidates for the same mission, but they are not all chosen.”

573. What is the mission of incarnate spirits?

“Educating other incarnates, helping their advancement, and improving their institutions through direct, material means. Missions vary in scope and importance, and the individual who works as a farmer accomplishes a mission just as a politician or a teacher does. Everything in nature is connected and all spirits, while purifying themselves through incarnation, contribute to the accomplishment of God’s plans. Each of you has a mission because each of you can be useful in one way or another.”

574. What is the mission of those who are deliberately idle on Earth?

“There are human beings who live only for themselves, and do not make themselves useful in any manner whatsoever. They should be pitied, because they will have to make amends for their voluntary uselessness through severe suffering. Their atonement often begins even in their present life, through their weariness and disgust of life.”

a) Why did they choose a life that could not be of any use to them, since they had the freedom of choice?

“Just like human beings, some spirits are lazy and avoid a life of labor. God leaves them to their devices because they eventually learn the consequences of their uselessness, and then eagerly ask to be allowed to make up for lost time. They may even have chosen a more useful life, but abandoned the trial and allowed themselves to be misled by spirits who encouraged them to remain inactive.”

575. Common occupations seem to be duties rather than missions. A mission, as we define it, is characterized by a less exclusive and personal importance. How can we discover if a person really has a mission on Earth?

“By the great things they accomplish and the progress they bring to their fellow human beings.”

576. Are individuals who have an important mission predestined to this mission before their birth, and are they aware of it?

“In some cases, yes, but they are more often unaware of it. They are only vaguely conscious of arriving on Earth and their mission is revealed to them gradually after birth, depending on the circumstances. God leads them to the road that they should follow in order to be capable of carrying out God’s plans.”

577. When a person does something useful, is it a predestined mission or can it be an unanticipated one?

“Not all productive activities engaged in by human beings are the result of a predestined mission. Individuals are often the instruments of spirits who use them to obtain something they consider useful. For example, a spirit might seek out a writer to publish a book that it considers useful and would write it itself if incarnated. The spirit finds the writer who could best understand and develop its idea, suggests the plan of the book, and direct its completion. In such a case, the writer did not come into the world with the mission of doing this work. It is the same with regard to various works of art or scientifc discoveries. While asleep, the incarnate spirit directly communicates with the errant spirit, and they collaborate in the endeavor.”

578. Can a spirit fail in its mission based on its own fault?

“Yes, if it is not a superior spirit.”

a) What are the consequences of such a failure?

“It must start its task over again as atonement. It also has to suffer the consequences of the harm caused by its failure.”

579. Since each spirit receives its mission from God, how can God have allocated an important mission to a spirit capable of failure?

“Does God not know whether a general will be victorious or defeated? Rest assured that God foresees all things, and that the carrying out of God’s plans is never confded to those who will leave their work half completed, especially when they are important. You have trouble accepting the concept of God’s knowledge of the future because you cannot understand it.”

580. When a spirit incarnates to complete a mission, does it feel the same anxiety as a spirit about to endure a trial?

“No, because it has experience.”

581. It is obvious that those who enlighten the human race by their genius have a mission, but there are many who make mistakes, and while they may discover important truths, they spread serious errors. How should we view their missions?

“As having been falsifed by themselves. They are not ft for the task they have undertaken. In judging them, however, you must take into account the circumstances in which they were placed. People of genius have had to impart knowledge according to the strictures of their time, and while teachings may later appear to be erroneous or foolish, they may have been suitable for the time when they were discovered.”

582. Can parenthood be considered a mission?

 “There is no question that it is a mission. It is a serious duty, the responsibilities of which will exercise a much more signifcant impact on people’s future than a person might think. God has placed children under the guidance of its parents so that they can direct the child to goodness and integrity. God has even facilitated their task by giving the child a weak and gentle physical makeup, completely open to new impressions. However, there are many parents who put more effort into pruning trees in their gardens and making them bear a large crop of fruit, than the time they devote to molding the character of their children. If the child fails and it is the fault of the parents, they will suffer the atonement of their failure, and the suffering of the child in a future life will be assigned to them because they have not done their part in helping the child advance on the road to happiness.”

583. If children go wrong, despite their parents’ care, are the parents responsible?

“No, but the more hateful the disposition of their children and the more diffcult their task, the greater their reward if they succeed in keeping them away from wrongdoing.”

a) If children become good adults, despite the negligence or the bad example of their parents, do the parents obtain any beneft therefrom?

“God is fair.”

584. What is the mission of the conqueror whose only goal is to satisfy his ambition, and who, in order to reach that end, does not finch at inficting the misfortunes and disasters that he leaves in his wake?

“He is only an instrument used by God for the accomplishment of His designs, and these disasters are sometimes a means of making a country advance more rapidly.”

a) The good that may result from these passing events is extraneous to the person who was used to produce them, since it was nothing but a personal goal for him. Despite this, will he proft from that result?

“All are rewarded according to their works, the good they have wished to do, and the honor of their intentions.”

Incarnate spirits have occupations intrinsic to the nature of their physical existence. When errant or dematerialized, their occupations are proportionate to their degree of advancement. Some of them travel from world to world, acquiring education and preparing for a new incarnation. More advanced ones devote themselves to progress of humanity by directing the course of events, and suggesting promising ideas. They assist incarnates of genius who help humankind as a whole advance.

Others incarnate with a mission of progress.

Others watch over individuals, families, societies, cities, countries, and populations, and become their guardian angels, protective spirits and familiar spirits.

Still others supervise the phenomena of nature, of which they are the immediate agents. The lower ranking spirits busy themselves with our engagements, and take part in our pleasures.

Impure and imperfect spirits suffer while waiting for the moment when God will give them the means of advancing. If they cause harm to others, it is out of spite of the happiness that they are not yet able to enjoy.

The Spirits’ Book – Allan Kardec.

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