A faina incessante da vida
moderna, a sede de conforto supérfluo, a ânsia pelo prazer exorbitante, as
demandas injustificáveis são apresentados invariavelmente como fatores básicos
para explicarem os desequilíbrios da emoção que atormenta o homem.
Não há tempo senão para viver.
Viver bem, fruindo as
concessões aligeiradas que o corpo enseja–a meta para a grande maioria.
E semelhante a aventureiro
ávido de prazer larga-se a criatura no cipoal das lutas, empenhando os valores
de que dispões, continuando, no entanto, inquieta, aflita.
Educa-se ou se vai educando
para o triunfo fácil.
Disciplina-se ou deixa-se
disciplinar antegozando o sabor da vitória em sociedade.
Instrui-se ou deixa-se
instruir para vencer...
Educar-se, no entanto, para
conhecer, peregrinando pelos meandros da dor humana, a fim de solucionar os
milenários enigmas do espírito encarnado; disciplinar- se com o objetivo de
renovar as disposições íntimas, no sentido da evolução espiritual; instruir-se
para vencer a sombra da ignorância tendo em vista o impositivo da vitória sobre
si mesmo, são diretrizes desconsideradas por muitos que, todavia, possibilitam
a felicidade em termos reais e duradouros.
De tal conquista frui o homem
a satisfação da serenidade.
Marco Aurélio, referindo-se à
tranqüilidade, em suas Meditações, denominava como "tranqüilo - um
espírito bem ordenado".
A serenidade é o estado de
ordem que tranqüiliza interiormente.
Ordem que nasce da educação
disciplinada pelo exercício do dever e esclarecida pela instrução que amplia as
possibilidades do conhecimento.
Acredita-se erradamente que
para a serenidade são indispensáveis o conforto, a independência econômica, a
estabilidade conjugal, a saúde e outros ingredientes externos considerados
essenciais e raros de reunir-se num mesmo afortunado indivíduo.
Alguns cristãos, na
atualidade, justificam a falta de silêncio para cultivarem a serenidade. Outros
dizem-se atormentados por problemas e informam que tudo são convites ruidoso ao
desalinho da mente, à enfermidade nervosa, ao desajustamento. ..
Com "olhos de ver" e
"ouvidos de ouvir" naturalmente se podem descobrir fontes ricas de
belezas capazes de banhar a alma de paz e harmonia.
Painéis invulgares se desenham
num raio de sol, numa estrela que fulge, num sorriso de criança, num farfalhar
de folhas levemente balouçadas por brisas ciciantes, no tamborilar da chuva no
telhado, numa ave ligeira bailando no ar, na harmonia e no colorido de uma
flor, em mil nonadas..., convidando à serenidade, a "um espírito bem
ordenado".
"Não vos afadigueis pela
posse do ouro", disse o Mestre.
A posse exaure aquele que
possui.
"O meu reino não é deste
mundo", explicou o Senhor.
Em face de tais lições é que
Jesus, embora sem encontrar entre os companheiros quem se identificasse com a
sua mensagem de amor, amou e serviu a todos indistintamente e quando, mais
tarde, sofreu o desprezo dos que mais se beneficiaram da sua presença, expulso
da compreensão dos que d’Ele dependiam no vozerio da perseguição em invulgar
soledade, manteve-se sereno, acenando com bênçãos para os infelizes e amando os
próprios algozes na mais eminente demonstração de que serenidade com paz íntima
é conquista do espírito, independente das excentricidades do mundo, do mundo das
formas.
Joanna de Ângelis / Divaldo
Franco
Livro: Dimensões da Verdade
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