domingo, 15 de novembro de 2015

Magnífica lição de tolerância - Rodolfo Calligaris

“Como se aproximasse o tempo em que havia de ser arrebatado do mundo, ele de semblante resoluto, pôs-se a caminho para ir a Jerusalém. Enviou adiante alguns mensageiros que de passagem entraram numa aldeia de samaritanos a fim de lhe prepararem pousada. Estes, porém, não quiseram receber, por dar ele mostras de que ia para Jerusalém. Vendo isso, seus discípulos Tiago e João disseram: Senhor, queres tu que digamos desça fogo do céu e os consuma? Jesus, voltando-se para eles, respondeu-os, dizendo: não sabeis de que espírito sois? O filho do homem não veio para perder e sim para salvar os homens. E foram para outra povoação.” – Jesus / Lucas, 9:51-56.
Sabem os versados em assuntos bíblicos que Samaria era umas das quatro divisões da Palestina e que, após o cisma das dez tribo de Israel, os samaritanos formaram um reino dissidente.
Para não precisarem ir a Jerusalém por ocasião das festas religiosas com que, anualmente, os judeus comemoravam a saída do Egito, os samaritanos construíram um templo em sua província, onde celebravam, em particular, as mesmas cerimônias.
Malgrado a origem comum, os dois povos passaram a hostilizar-se reciprocamente, sendo que os judeus, tidos como ortodoxos do Moisaísmo, tachavam os samaritanos de heréticos, devotando-lhes o maior desprezo.
Essa a razão, até certo ponto compreensível, de os samaritanos se haverem recusado a oferecer hospedagem a Jesus, tão logo o identificaram como um judeu em trânsito para a Capital.
A reação dos discípulos que o acompanhavam não se fez esperar. Queriam nada menos que fulminá-los, atraindo sobre ele o fogo do céu.
Jesus, entretanto, longe de autorizar tal violência, repreendeu-os severamente, dizendo-lhes que viera ao mundo para salvar os homens e não para exterminá-lo, e que, como membros do seu colégio apostólico, também eles deveriam usar de caridade para com todos, retribuindo o ódio com o amor e as ofensas como o perdão, consoante o espírito da doutrina que pregavam.
Dirigindo-se em seguida a outra aldeia, em que busca a pousada, deixando em paz os que se recusaram a recebê-lo, deu Jesus mais um de seus magníficos exemplos de mansuetude e tolerância, comprovando, assim, a perfeição de seu caráter.
***
Vezes sem conta tem Jesus batido à nossa porta, sem entretanto encontrar guarida, porque, à semelhança dos samaritanos, nossos corações igualmente estão cheios de animosidade.
Ele então se vai, porque não é de seu feitio violentar o livre-arbítrio de quem quer que seja.
Quando, afinal, acolhermos o celeste amigo, para que ele, com sua inefável presença, nos inunde a casa de alegria e felicidade.
Livro: Páginas do Espiritismo Cristão.
Rodolfo Calligaris.

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