Lembra-se do instante em que gritou
fortemente, antes do almoço?
Por insignificante questão de vestuário,
você pronunciou palavras feias em voz alta, desrespeitando a paz doméstica.
Ah! meu filho, quantos males foram
atraidos por seu gesto de cólera!...
A Mamãe, muito aflita, correu para o
interior, arrastando atenções de toda a casa. Voltou-lhe a dor-de-cabeça e o
coração tornou a descompassar-se.
- As duas irmãs, que cuidavam da
refeição, dirigiram-se precipitadamente para o quarto, a fim de socorrê-la, e
duas terças partes do almoço ficaram inutilizadas.
Em razão das
circunstâncias provocadas por sua irreflexão, o papai, muito contrariado, foi
compelido a esperar mais tempo em casa, chegando ao serviço com grande atraso.
Seu chefe não
estava disposto a tolerar-lhe a falta e recebeu-o com repreensão áspera.
Quem o visse,
erecto e digno, a sofrer essa pena, em virtude da sua leviandade, sentiria
compaixão, porque você não passa de um jovem necessitado de disciplina, e ele é
um homem de bem, idoso e correto, que já venceu muitas tempestades para amparar
a família e defendê-la. Humilhado, suportou as consequências de seu gesto
impulsivo, por vários dias, observado na oficina qual se fora um menino vadio e
imprudente.
Os resultados de
sua gritaria foram, porém, mais vastos.
A Mãezinha
piorou e o médico foi chamado. Medicamentos de alto preço, trazidos à pressa,
impuseram vertiginosa subida às despesas, e o papai não conseguiu pagar todas
as contas de armazém, farmácia e aluguel de casa.
Durante seis
meses, toda a sua família lutou e solidarizou-se para recompor a harmonia
quebrada, desastradamente, por sua ira infantil.
Cento e oitenta
dias de preocupações e trabalhos árduos, sacrifícios e lágrimas! Tudo porque
você, incapaz de compreender a cooperação alheia, se pôs a berrar,
inconscientemente, recusando a roupa que lhe não agradava.
Pense na lição,
meu filho, e não repita a todos estamos unidos, reciprocamente, através de
laços que procedem dos desígnios divinos. Ninguém se reúne ao acaso. Forças
superiores impelem-nos uns para os outros, de modo a aprendermos a ciência da felicidade,
no amor e no respeito mútuos.
O golpe do
machado derruba a árvore de vez.
A ventania
destrói um ninho de momento para outro.
A ação impensada
de um homem, todavia, é muito pior.
O grito de
cólera é um raio mortífero, que penetra o círculo de pessoas em que foi
pronunciado e aí se demora, indefinidamente, provocando moléstias, dificuldades
e desgostos.
Porque não aprende
a falar e a calar, a benefício de todos?
Ajude em vez de
reclamar.
A cólera é força
infernal que nos distancia da paz divina.
A própria
guerra, que extermina milhões de criaturas, não é senão a ira venenosa de
alguns homens que se alastra, por muito tempo, ameaçando o mundo inteiro.
Livro: Alvorada
Cristã.
Néio Lúcio /
Chico Xavier.
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