603.
Nos mundos superiores os animais conhecem a Deus?
“Não. Para eles
o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem.”
604. Se os
animais, mesmo os aperfeiçoados, existentes nos mundos superiores, forem sempre
inferiores ao homem, então Deus terá criado seres intelectuais perpetuamente
destinados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e
de progresso que todas as suas obras revelam.
“Tudo na
natureza se encadeia por elos que ainda não podeis apreender. Assim, as coisas
aparentemente mais díspares têm pontos de contato que o homem, no seu estado
atual, nunca chegará a compreender. Por um esforço da inteligência pode
entrevê-los; mas somente quando essa inteligência estiver plenamente
desenvolvida e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância logrará ver
claro na obra de Deus. Até lá, suas ideias restritas lhe fazem observar as
coisas por um mesquinho e acanhado prisma. Sabei não ser possível que Deus se
contradiga e que, na natureza, tudo se harmoniza mediante leis gerais, que por
nenhum de seus pontos deixam de corresponder à sublime sabedoria do Criador.”
a) – A
inteligência é então uma propriedade comum, um ponto de contato entre a alma
dos animais e a do homem?
“É, porém os
animais só possuem a inteligência da vida material. No homem, a inteligência
proporciona a vida moral.”
605.
Considerando-se todos os pontos de contato que existem entre o homem e os
animais, não seria lícito pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e
a alma espírita, e que, se esta última não existisse, só como o bruto poderia
ele viver? Por outra: que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo de menos
a alma espírita? Dessa maneira de ver resultaria serem os bons e os maus
instintos do homem efeito da predominância de uma ou outra dessas almas?
“Não, o homem
não tem duas almas. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes da sensação
peculiar aos órgãos. O que há no homem é, apenas, uma dupla natureza: a
natureza animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza
dos animais e de seus instintos. Por sua alma, participa da dos Espíritos.”
a) – De modo
que, além de suas próprias imperfeições de que cumpre ao Espírito despojar-se,
tem ainda o homem que lutar contra a influência da matéria?
“Sim; quanto
mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à
matéria. Não o vedes? O homem não tem duas almas; a alma é sempre única em cada
ser. São distintas uma da outra a alma do animal e a do homem, a tal ponto que
a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas, conquanto não tenha
alma animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o homem tem o corpo
que, às vezes, o rebaixa até ao nível deles, visto que o corpo é um ser dotado
de vitalidade e de instintos, porém inteligentes estes e restritos ao cuidado
que a sua conservação requer.”
Encarnando no
corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral, que o
torna superior aos animais. As duas naturezas existentes no homem dão às suas
paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal,
provindo as outras das impurezas do Espírito encarnado, que simpatiza mais ou
menos com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se
liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência,
aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação.
606. Donde tiram
os animais o princípio inteligente que constitui a alma de natureza especial de
que são dotados?
“Do elemento
inteligente universal.”
a) – Então
emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais?
“Sem dúvida
alguma, porém no homem passou por uma elaboração que a coloca acima da que
existe no animal.”
607. Dissestes
(190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da
infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia
para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?
“Numa série de
existências que precedem o período a que chamais humanidade.”
a) – Parece que,
assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos
seres inferiores da criação, não?
“Já não dissemos
que tudo na natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja
totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora,
se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme já dissemos.
É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do
qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra
então no período humano, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade
de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da
infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza.
Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão
humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os
geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade
perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para
apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do universo. Reconhecei a
grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na
natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado
seres inteligentes sem futuro, seria blasfemar da sua bondade, que se estende
por sobre todas as suas criaturas.”
b) Esse período
humano principia na Terra?
“A Terra não é o
ponto de partida da primeira encarnação humana. O período humano começa,
geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui
regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito esteja apto a viver na Terra
desde o início de seu período humano. Não é frequente o caso; constitui antes
uma exceção.”
608. O Espírito
do homem tem, após a morte, consciência de suas existências anteriores ao
período humano?
“Não, pois não é
desse período que começa a sua vida de Espírito. Difícil é mesmo que se lembre
de suas primeiras existências humanas, como difícil é que o homem se lembre dos
primeiros tempos de sua infância e ainda menos do tempo que passou no seio materno.
Essa a razão por que os Espíritos dizem que não sabem como começaram.” (78.)
609. Uma vez no
período da humanidade, conserva o Espírito traços do que era precedentemente,
quer dizer: do estado em que se achava no período a que se poderia chamar ante-humano?
“Depende da
distância que medeie entre os dois períodos e do progresso realizado. Durante
algumas gerações, pode ele conservar vestígios mais ou menos pronunciados do
estado primitivo, porquanto nada se opera na natureza por brusca transição. Há
sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos
acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do
livre-arbítrio. Os primeiros progressos só lentamente se efetuam, porque ainda
não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o
Espírito adquire mais perfeita consciência de si mesmo.”
610. Ter-se-ão,
desse modo, enganado os Espíritos que disseram constituir o homem um ser à
parte na ordem da criação?
“Não, mas a
questão não fora desenvolvida. Ademais, há coisas que só a seu tempo podem ser
esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades
que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a
que Deus escolheu para a encarnação do seres que podem conhecê-lo.”
O Livro dos
Espíritos – Allan Kardec.
603. Do animals
have knowledge of God in higher worlds?
“No, human
beings are gods to them, as spirits were once gods to human beings.”
604. As the
advanced animals from higher worlds are inferior to humans, it would seem as though
God created intellectual beings destined for eternal inferiority. Such an
arrangement does not appear to comply with the unity of design and progress
evident in all God’s creation.
“Everything in
nature is connected by a link that your intellect cannot yet grasp, and the
most apparently incongruent things have points of contact that humans will
never understand in their current state. They may catch a brief glimpse of them
by exercising their intelligence, however it is only when that intelligence has
reached its full development and frees itself from the prejudices of pride and
ignorance that human beings will be able to clearly understand God’s work.
Until then, their narrow scope of thought causes them to look at everything
from an inconsequential point of view. God cannot be self-contradictory, and
everything in nature obeys the harmony of general laws that never deviate from
the transcendent wisdom of our Creator.”
a) So, is
intelligence a common property and a point of contact between the souls of
animals and humans?
“Yes, but
animals only have the intelligence of material life. In human beings, intelligence
yields moral life.”
605. If we
consider all the points of contact that exist between humans and animals. Does
it not seem as though human beings have two souls, namely, an animal soul and a
spiritual soul, and that, if they did not have the latter, they might still
live as wild animals? In other words, animals are similar to humans, minus the
spiritual soul. Accordingly, the good and bad instincts of human beings are
results of the predominance of one of these two souls.
“No, human
beings do not have two souls. Their bodies have instincts resulting from the
perception of their bodily organs and they have a dual nature – the animal
nature and the spiritual nature. Through their bodies they participate in the
animal nature and their instincts, while through their souls they participate
in the spiritual nature.”
a) So, besides
their own faws that they must discard, do spirits also have to struggle against
the infuence of matter? “Yes, the lower the spirit, the tighter the link
between spirits and matter. Do you not see? No, humans do not have two souls;
there is only one soul in a single being. The souls of animals and those of
humans are distinct from one another, so that the soul of the one cannot
animate the body created for the other. While human beings do not have animal
souls that place them on the same level as the animals, they do have animal
bodies, which often drag them down. Their bodies are endowed with life and have
instincts that are unintelligent and limited to their survival.”
When they
incarnate in human bodies, spirits contribute the intellectual and moral
principles that make them superior to animals. The two natures in humans,
intellect and morality, constitute two distinct sources of passions, one
springing from the instincts of their animal nature and the other due to the
impurities of the spirit, which are in sympathy with the rudimentary nature of
animal desires. As spirits become purifed, they gradually free themselves from
the infuence of matter. While under that infuence, they come close to the
nature of animals. When delivered from that infuence, they raise to their true
destination.
606. From where
do animals derive the intelligent principle that determines the type of soul
bestowed upon them?
“From the universal
intelligent element.”
a) So, does the
intelligence of humans and animals come from the same principle?
“Of course, but
in humans it has received an extension that raises it above animals.”
607. You have
stated that when the soul of a human being is born, it is in a state equivalent
to that of human infancy, that its intelligence is just beginning to unfurl and
that it is trying to live (See no. 190). Where does the soul accomplish this
initial phase?
“In a series of
existences that come before the period that you call humanity.”
a) Therefore, it
seems that the soul is the intelligent principle of inferior beings of
creation. Is it so?
“Have we not
said that everything in nature is connected and tends towards unity? As we have
explained, it is in those beings, which you are very far from knowing, that the
intelligent principle is created, gradually individualized, and tries to live.
Through its subjection to a preliminary process, like germination, the
principle undergoes a transformation and becomes a spirit. The human phase then
begins for each spirit with the consciousness of its future, the power of
distinguishing between good and evil, and accountability for its actions. After
infancy then comes childhood, youth, adolescence, and fnally mature adulthood.
Do the greatest geniuses feel embarrassed because they were once formless
fetuses in the wombs of their mothers? If anything should humiliate them, it is
their inferiority before God and their inability to probe the depths of the
Divine plans and the wisdom of the laws that regulate harmony in the universe.
Recognize God’s greatness in this awe-inspiring harmony that establishes a
sense of solidarity between everything in nature. Even the thought that God
would have made anything without a purpose and created intelligent beings
without a future, is an insult to the Creator’s goodness, which covers all
creation.”
a) Does the period of humanity begin on Earth? “The Earth is not the frst point of the earliest phase of human incarnation; the human period generally starts in worlds that are even lower than yours. This rule is not unconditional and a spirit, upon entering the human phase, may be ready to live on Earth. Such a case, while possible, is uncommon and would be an exception to the general rule.”
608. After
death, are the spirits of humans aware of the lives that have preceded their
human period?
“No, because it
is only with this period that their lives as spirits began. Human beings can
scarcely recall their earliest existences as humans, just as human beings no
longer remember the earliest days of their childhood, much less the time they
spent in the wombs of their mothers. This is why spirits tell you that they do
not know their origins.” (See no. 78)
609. Once they
have entered the human period, do spirits recall any traces of what may be
called the “prehuman” period?
“That depends on
the distance between the two periods, and the amount of progress accomplished.
Over a few generations, there may be a more or less clear-cut refection of the
primitive state. Remember that nothing in nature ever happens abruptly, and
there are always links uniting the ends of a sequence of beings or events.
Those traces disappear with the development of free will. The frst steps of
progress are slow, because they are not yet supported by the will. As spirits
acquire a more perfect consciousness of themselves, progress accelerates.”
610. There are
spirits who have said that human beings are separate from the rest of creation.
Are they mistaken?
“No, but the
question has not been fully developed. Similarly, there are things that we can
only know at a predetermined time. Humans are distinct beings because they have
abilities that separate them from all others and they have another destiny. God
chose the human species for the incarnation of beings who are capable of
knowing their Creator.”
THE SPIRITS'
BOOK – Allan Kardec.
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