Não te iludas, amigo,
Por mais se expandam lágrimas contigo,
Todo lamento é vão...
Tudo o que tende para a perfeição,
Todo o bem que aparece e persiste no
mundo
Vive do entendimento harmônico e
profundo,
Através do perdão...
Perdão que lembra o sol no firmamento,
Sem se fazer pagar pelo foco opulento,
A vencer, dia-a-dia,
A escuridão da noite insondável e fria
E a nutrir, no seu longo itinerário,
O verme e a flor, o charco e o pó, o
ninho e a fonte,
De horizonte a horizonte,
Quanto for necessário;
Perdão que nos destaque a lição recebida
Na humildade da rosa,
Bênção do céu, estrela cetinosa,
Que, ao invés de pousar sobre o
diamante,
Desabrocha no espinho,
Como dizer que a vida,
De caminho a caminho,
Não despreza ninguém,
E bela, generosa, alta e fecunda,
Quer que toda maldade se transfunda
Na grandeza do bem...
Perdão que se reporte
À brandura da terra pisoteada,
Esquecida heroína de paciência,
Que acolhe, em toda parte, os detritos
da morte
E sustenta os recursos da existência,
Mãe e escrava sublime de amor mudo,
Que preside, em silêncio, ao progresso
de tudo!...
Amigo, onde estiveres,
Assegura a certeza
De que o perdão é lei da Natureza,
Segurança de todos os misteres.
Perdoa e seguirás em liberdade
No rumo certo da felicidade.
Nas menores tarefas que realizes,
Para lembrar sem sombra os instantes
felizes
Na seara da luz,
Na qual a Luz de Deus se insinua e
reflete,
È forçoso exercer o ensino de Jesus
Que nos manda perdoar
Setenta vezes setes Cada ofensa que
venha perturbar
O nosso coração;
Isso vale afirmar,
Na senda de ascensão,
Que, em favor da vitória,
A que aspiras na luta transitória,
É mais do que importante, é essencial
Que te esqueças, por fim, de todo
mal!...
E que, em tudo, no bem a que te dês,
Seja aqui, mais além, seja agora ou
depois,
Deus espera que ajudes e abençoes,
Compreendendo, amparando e servindo outra
vez!...
Livro: Antologia da Espiritualidade.
Maria Dolores / Chico Xavier.
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