Naquele dia três
cruzes foram levantadas no cimo do Calvário. A do meio sustinha Jesus, o
Cristo, cujo crime, como é sabido, consistiu em ensinar ao povo a doutrina da igualdade
de direitos perante a lei natural e divina, que mana de Deus. As laterais justiçavam,
respectivamente, à direita e à esquerda, o bom e o mau ladrão.
Esses três
supliciados são, ao mesmo tempo, três realidades históricas e três símbolos.
Jesus
Crucificado é a imagem do amor e da dor, elementos que, conjugados, determinam
e promovem a evolução dos homens. É a figura da justiça aliada à misericórdia.
O bom e o mau
ladrão representam a Humanidade pecadora em sua generalidade. O primeiro,
reflete com admirável justeza os pecadores confessos, as almas simples, compenetradas
de suas faltas, que suportam os sofrimentos e as angústias da existência com
resignação e humildade, sem murmúrios nem revoltas, porque vêem nessas vicissitudes
o efeito das causas criadas por elas próprias. Crendo firmemente na justiça, tiram
preciosos ensinamentos das provações cuja aspereza é amenizada pela maneira com
que são recebidas.
O segundo
espelha com notória fidelidade os pecadores relapsos, impenitentes e orgulhosos,
que recebem a dor revoltados, murmurando e blasfemando. Descrendo do amor e da
justiça, julgam-se vítimas de inexorável iniqüidade, pois se consideram isentos
de culpa, vendo-se através do orgulho que lhes oblitera o entendimento e ofusca
a razão.
A Humanidade
compõe-se de Dimas e de Giestas, isto é, de pecadores humildes que,
reconhecendo-se culpados, fazem da cruz instrumento de redenção; e de pecadores
orgulhosos que murmuram e blasfemam continuamente, contorcendo-se e escabujando
na cruz que, para eles, não passa do que realmente é: instrumento de suplício.
Livro: Nas
Pegadas do Mestre.
Vinícius.
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