quarta-feira, 25 de julho de 2018

Riqueza – Martins Peralva.


...é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha...
A Doutrina Espírita oferece aos seus adeptos —  àqueles que lhe procuram observar e sinceramente absorver as luzes santificantes —  adequado conceito  em torno de tão  importante quão difícil aspecto da experiência humana: — a Riqueza.
Há quem enriqueça pelo esforço próprio, no trabalho honesto.
Há quem se torne milionário por efeito de heranças ou doações. Há, contudo, os que trazem suas arcas repletas em consequência de atividades ilícitas, desonestas, espoliando aqui, enganando acolá, defraudando mais adiante.
A fortuna, todavia, em si mesma não é boa nem má. É neutra — absolutamente neutra. Em forma de cintilantes moedas ou  expressando­se por cédulas de alto valor, conserva ela, contudo, a sua neutralidade.
O homem, pela aplicação que lhe dá, é quem a transforma em veículo do bem ou do mal, de salvação ou condenação, alterando­lhe a finalidade. Com ela pode o homem construir soberbos monumentos de benemerência; mas, com ela, também pode cavar, diante de si, abismos de alucinação e crime.
A riqueza bem aplicada, enobrecendo quem a possui, provê de remédio, de alimento, de vestuário, o lar humilde onde, tantas vezes, a vergonha digna se oculta humilhada, retraída.
A riqueza mal aplicada, enclausurando o homem nas teias da ambição, conduzi­lo à miséria espiritual, à demência, à loucura. Como se vê, podemos convertê­la em bênção ou condenação em nossa vida. O homem esclarecido, que se desprendeu do corpo deixando valiosos recursos, econômicos ou financeiros, alegrar­se­á, sentir­se­á ditoso, se notar que tais recursos estão espalhando na Terra o perfume da Caridade, nas suas mais diversas manifestações.
No copo de leite para a criança enferma. No prato de sopa para o necessitado.
No vestuário para o que se defronta com dificuldades.
Na intelectualização e espiritualização do seu semelhante. Se deixou  alguém no mundo largas possibilidades materiais e não se encontra, espiritualmente, em boas condições, as preces de reconhecimento de seus beneficiários alcançar­lhe­ão onde estiver, em forma de consolação e paz, bom ânimo e reconforto, felicitando, destarte, doador e legatários.
Há um tipo de riqueza que constitui, invariavelmente, uma brasa na consciência de quem a deixou  no mundo, embora possam os herdeiros, aplicando­a cristãmente, suavizar­lhe o  sofrimento, abrandar­lhe o remorso.
É a que se adquire por meios excusos, por inconfessáveis empreendimentos, apoiados na exploração dos semelhantes.
Riqueza abençoada é aquela que, obtida no trabalho digno, expande­se, fraternal e operosamente, criando o trabalho e favorecendo a prosperidade.
A que estimula realizações superiores, nos diversos setores da atividade humana, convertendo­se em rosas de luz para o Espírito Eterno nos divinos Jardins do Infinito. Esse tipo de riqueza e essa forma de aplicá­la favorecem a ascensão do homem, uma vez que, possuindo­a, não é por ela possuído.
A riqueza mal adquirida e mal aplicada conservará o seu  detentor em consecutivas repetições de dramas expiatórios, nos caminhos terrestres e nas sombrias regiões da vida espiritual.
Asseverando ser “mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”, não quis o Mestre menosprezar a prosperidade, que é um bem da vida. Nem condenar, irremissivelmente, o companheiro afortunado.
O que o Mestre pretendeu, decerto, foi advertir­nos quanto aos perigos do excesso, do  supérfluo, porque nossas mãos invigilantes estão habituadas ao abuso.
Temos sido, no decurso dos milênios, campeões da extravagância. Reconhecia Jesus que a fortuna em poder de criaturas que estagiam, ainda, no clima do  egoísmo, nas estações da avareza, imersas na insensibilidade, é sempre porta aberta — diríamos melhor — escancarada para o abismo.
A única riqueza, em verdade, que não oferece margem de perigo, é a riqueza espiritual, os tesouros morais que o homem venha a adquirir.
É a riqueza que se não manifesta, exclusivamente, por meio de cofres recheados, nem de palacetes suntuosos e patrimônios incalculáveis, afrontando a indigência. É a que se traduz na posse, singela e humilde, dos sentimentos elevados.
Por esse tipo de riqueza, imperecível e eterna, podemos e devemos lutar, denodada e valentemente. Com toda a força do nosso coração. Com toda a energia de nossa alma.
Livro: Estudando o Evangelho
Martins Peralva.

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