Uma situação
constrangedora:
Cumprimentar, em
velórios, os familiares do falecido.
À falta de algo
mais original, assumimos expressão grave, compungida, estendemos amão e
pronunciamos o indefectível:
- Meus
pêsames...
Se o desenlace
ocorreu após longa enfermidade, acrescentamos:
- Sofreu muito!
Finalmente descansou...
Há quem consiga,
simultaneamente, lamentar a morte e promover o morto:
- Coitado! Tão
bom!... Morreu!
Seria a morte o
castigo dos maus?
O contrário
também acontece. Se era jovem, comentam:
- Os bons morrem
cedo! - idéia nada lisonjeira para os idosos.
* * *
A ignorância em
torno do assunto é generalizada, inspirando temores terríveis nos que partem e
angústias insuperáveis nos que ficam.
Há pessoas que
parecem incapazes de tomará normalidade quando falece um ente querido,
principalmente se envolve circunstâncias trágicas. Pesquisas demonstram que um ou
dois anos após a separação, é comum os viúvos serem acometidos por graves
problemas de saúde que, não raro, culminam com sua morte.
Pessoas
conturbadas, nervosas e doentes, em virtude do desencarne de afeto caro ao seu
coração, aportam no Centro Espírita. Procuram não apenas a cura para seus males
mas, sobretudo, uma mensagem de conforto e esperança, que lhes restitua a
vontade de viver.
A Doutrina
Espírita tem muito a nos oferecer nesse sentido, tanto que é notório o comportamento
mais tranquilo dos espíritas diante da morte.
Conversamos,
certa feita, com um oncologista (médico especialista em câncer), habituado a
lidar com doentes terminais (que estão no fim da existência). Empenhado em ajudá-los
a enfrentar com serenidade os últimos dias, encontra insuperável dificuldade:
os pacientes, em sua maioria, recusam-se a encarar a perspectiva de sua própria
morte.
Disse-nos ele
que com os espíritas não há esse problema.
Por quê? Seriam,
porventura, mais evoluídos os profitentes da Doutrina Espírita?
Evidente que
não!
Ocorre que o Espiritismo
oferece-nos uma visão mais objetiva, eliminando fantasias que fazem da morte
algo terrível, tétrico, assustador, como se fosse o que de pior pudesse acontecer
à criatura humana.
* * *
Sob a ótica
espírita não há por que dizer “meus pêsames” aos familiares do morto.
Seria o mesmo
que oferecer condolências ao prisioneiro de uma penitenciária, cujo companheiro
de cela, após cumprir sua pena, ganhou a liberdade.
A morte é a
nossa porta de libertação. Em tempo oportuno, na infância, juventude, madureza ou
velhice, segundo os programas de Deus, no instituto das experiências necessárias
à nossa evolução, deixamos o corpo denso, pesado, que limita nossos movimentos,
que inibe nossas iniciativas, que restringe nossas percepções, e retornamos à amplidão,
à vida em plenitude.
* * *
Ante familiares
que falecem, muitos, embora aceitando princípios religiosos que consagram a
imortalidade, desesperam-se per sentir que, de certa forma, os perderam, porquanto,
segundo suas concepções aqueles que partem permanecem irremediavelmente distantes,
às voltas com béatitudes celestes ou tormentos infernais.
Para essas
pessoas o Espiritismo tem excelentes notícias, demonstrando que nossos amados
continuam ligados a nós. Eles nos vêem, nos visitam, nos estimulam, nos
sustentam nos momentos difíceis e, sobretudo, nos esperam... E tanto mais feliz
será o reencontro quando chegar a nossa hora, quanto maior o nosso empenho em
enfrentar com serenidade, firmeza e equilíbrio o desafio de viver sem eles na
Terra.
A esse propósito
vale destacar a observação de um agonizante à esposa que, em desespero,
dizia-lhe não ter condições para continuar vivendo. Buscaria o suicídio tão
logo ele expirasse.
- Por favor,
minha querida, livre-se dessa idéia infeliz. O suicídio tornaria impossível nossa
união na Espiritualidade. E isso é o que mais desejo, tanto quanto você.
* * *
Ante o conhecimento
espírita é uma impropriedade afirmar, à guisa de conforto, que o falecido
“descansou”. Isto sim, seria terrível, em perturbadora estagnação. Para sua felicidade
ele continuará a movimentar-se em novos planos, em múltiplas experiências, trabalhando,
estudando, adquirindo conhecimentos, lutando, sofrendo, sonhando, vivendo enfim,
nos caminhos da evolução.
Da mesma forma
não há por que o considerarmos “coitado”, porque morreu.
Coitados são
aqueles que se comprometem com a irresponsabilidade, a indolência, a corrupção,
o vício, o crime... Estes, sim, devem ser lamentados, porque semeiam espinhos que
fatalmente serão chamados a colher.
** *
Com a
disseminação dos princípios espíritas, temores e dúvidas a respeito da morte serão
superados, compreendendo-se que ela, em verdade, não existe. A vida é eterna, alternando-se
no plano físico e espiritual, de conformidade com nossas necessidades evolutivas.
E se quisermos a
fórmula ideal para enfrentar nossa própria morte, é simples: Vivamos cada dia
como se fosse o último.
Imaginemos todo
o bem que praticaríamos e todo mal que evitaríamos, se aprouvesse a Deus
chamar-nos amanhã...
- Habitue-se à
idéia de que estamos em trânsito pela Terra. A morte não nos assustará se a
identificarmos como mero passaporte para a espiritualidade, na viagem eterna da
Vida.
- Encare o fato
de que mais cedo ou mais tarde ver-se-á às voltas com o falecimento de
familiares. Admitindo essa fatalidade ficará mais fácil aceitar a separação
quando chegar a hora.
- Ante o afeto
que parte, cultive submissão aos desígnios divinos. Revolta, desespero, inconformação,
desequilíbrio, que exacerbam terrivelmente todas as dores, só têm acesso ao nosso
coração quando não confiamos em Deus.
Livro: UMA RAZAO
PARA VIVER
Richard
Simonetti.
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