Todos podemos
perceber, sem que para isso se faça necessária grande capacidade de observação,
que em qualquer raça, em qualquer família, em qualquer grupo comunitário,
enfim, os indivíduos divergem profundamente entre si, tanto nas aptidões
intelectuais como no senso moral.
Uns demonstram acentuado
interesses por este ou aquele ramo da Indústria ou da ciência, outros
evidenciam irresistível pendor para as Artes plásticas ou para a Literatura,
havendo outros ainda, místicos por natureza, que muito cedo já manifestam forte
propensão para as questões metafísicas, senão mesmo sincera vocação para a vida
religiosa.
A concepção do
Bem e do Mal, assim como a noção do Dever, acha-se, também, mais desenvolvidas
em certas pessoas do que em outras. Enquanto algumas se inclinam
espontâneamente para a prática das virtudes e não se permitem nenhuma ação
menos digna, que pudesse causar dano ou sofrimento ao próximo (nem mesmo aos
animais), não faltam as que, ao contrário, são capazes das maiores crueldades e
torpezas, que praticam a sangue frio, sem a menor hesitação de consciência.
A ciência
oficial tenta explicar essas desigualdades apenas pela leis da hereditariedade
e as influências do meio - que são,
realmente, fatores ponderáveis na formação da personalidade -, mas esbarra com
objeções seríssimas, às quais não sabe com responder.
Com efeito, os
genes podem modelar-nos os caracteres morfológicos, fazendo que sejamos mais ou
menos parecidos, fisicamente, com nossos ancestrais; podem até comunicar-nos
algumas de suas idiossincrasias, mas nunca determinar-nos os predicados
anímicos, com os quais nada têm que ver.
O meio em que vivemos,
ou a educação que nos seja dada, pode, a seu turno, influir em nossa conduta,
mas apenas relativamente, e às vezes nem isso.
Examinemos alguns
casos:
Tomás Édson, “o
gênio de Menlo Parque” (1847-1931), não teve antecessores que se notabilizassem
nas ciências físicas e mecânicas; na linhagem ascendente de Miguel Ângelo
(1475-1564), um dos mais perfeitos e completos artistas da Humanidade, não
houve, tão pouco, ninguém que pudesse haver-lhe transmitido a excepcional
capacidade criadora que o celebrizou; nem Aristóteles (384-322 a.c) pudera herdar
de qualquer de seus avoengos a sabedoria enciclopédica que o imortalizaria como
uma das maiores inteligências de todos os tempos.
De outro lado,
porque a imensa maioria das celebridades não tiveram descendentes que lhes
aperfeiçoassem as obras ou os dons com que granjearam a admiração universal?
Porque, até
hoje, não surgiu um outro Bach, que superasse a João Sebastião (1685-1750) na
composição musical? Um outro Alighieri, que ultrapassasse a Dante (1265-1321)
na poesia? Ou um outro Arquimedes (287-212 a.c) que sobrepujasse o legendário
geômetra grego?
No que tange às
qualidades morais, sobejam igualmente, os exemplos de homens excelentes que
tiveram verdadeiros monstros por filhos e, inversamente, criaturas boníssimas,
que nasceram e se criaram em ambientes onde primavam os instintos grosseiros,
os vícios infamantes e a criminalidade.
A amostra que
vimos de oferecer serve para provar que a hereditariedade e o meio, por si sós,
não bastam para produzir a genialidade nem a santidade, como não podem ser
responsáveis, também, pela vilania de quem quer que seja.
Há que
admitir-se aí, portanto, um terceiro elemento, muitíssimo mais importante: o
cabedal próprio que cada Espírito traz ao renascer.
Somente em
função desse passado individual, dessas experiências adquiridas em encarnações
pregressas, é que podem ser explicadas as faculdades superiores, as
precocidades, as idéias inatas, a extrema facilidade com que assimilamos
determinados conhecimentos, enquanto outros, mais fáceis, nos exigem esforço
maior, bem assim a nobreza de sentimentos e a finura que algumas pessoas
demonstram “desde o berço”.
A pluralidade
das existências impõe-se, assim como verdade inconcussa, pois se constitui o
fator preponderante de nossa personalidade.
Livro: Páginas
de Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
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