10. Deus é o
criador de todas as coisas.
Esta proposição
é a consequência da prova da existência de Deus.
11. O princípio
das coisas está nos segredos de Deus.
Tudo diz que
Deus é o autor de todas as coisas, mas quando e como as criou? É a matéria de toda
a eternidade como ele?
É o que
ignoramos. Sobre tudo o que não julgou oportuno nos revelar, não se pode
estabelecer senão sistemas mais ou menos prováveis. Dos efeitos que vemos,
podemos remontar a certas causas; mas há um limite que nos é impossível
transpor, e seria, ao mesmo tempo, perder seu tempo e se expor e desviar -se
querendo ir além.
12. O homem tem
por guia, na pesquisa do desconhecido, os atributos de Deus.
Na procura dos
mistérios, que nos são permitidos sondar, pelo raciocínio, há um critério
certo, um guia infalível: são os atributos de Deus.
Desde que se
admite que Deus deve ser eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente
justo e bom, que é infinito em suas perfeições, toda doutrina ou teoria, científica
ou religiosa, que tendesse a lhe tirar uma parcela, de um único de seus
atributos, seria necessariamente falsa, uma vez que tenderia à negação da
própria divindade.
13. Os mundos
materiais tiveram um começo e terão um fim.
Que a matéria
seja de toda a eternidade como Deus, ou que ela haja sido criada numa época qualquer,
é evidente, segundo o que se passa diariamente sob os nossos olhos, que as transformações
da matéria são temporárias, e que dessas transformações resultam os diferentes
corpos, que nascem e se destroem sem cessar.
Sendo os
diferentes mundos os produtos da aglomeração e da transformação da matéria, devem,
como todos os corpos, ter tido um começo e ter um fim, segundo as leis que nos
são desconhecidas. A ciência pode, até um certo ponto, estabelecer as leis de
sua formação e remontar ao seu estado primitivo. Toda teoria filosófica em contradição
com os fatos mostrados pela ciência, é necessariamente falsa, a menos que se
prove que a ciência está em erro.
14. Criando os
mundos materiais, Deus também criou seres inteligentes, a que chamamos Espíritos.
15. A origem e o
modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; sabemos somente que são criados
simples e ignorantes, quer dizer, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal,
mas perfectíveis e com uma igualdade de aptidão para tudo adquirir e tudo
conhecer com o tempo. No princípio, estão numa espécie de infância, sem vontade
própria e sem consciência perfeita de sua existência.
16. À medida que
o espírito se afasta do ponto de partida, as ideias se desenvolvem nele, como
na criança, e com as ideias, o livre arbítrio, quer dizer, a liberdade de
fazer, ou não fazer, de seguir tal ou tal caminho, para o seu adiantamento, o
que é um do s atributos essenciais do Espírito.
17. O objetivo
final de todos os Espíritos é alcançar a perfeição, da qual a criatura é
suscetível; o resultado dessa perfeição é o gozo da felicidade suprema, que lhe
é a consequência, e à qual chegam, mais ou menos prontamente segundo o uso que
fazem de seu livre arbítrio.
18. Os Espíritos
são os agentes do Poder Divino; constituem a força inteligente da Natureza e concorrem
ao cumprimento dos objetivos do Criador para a constituição da harmonia geral
do Universo e das leis imutáveis da criação.
19. Para
concorrerem, como agentes do poder divino, na obra dos mundos materiais, os Espíritos
revestem, temporariamente, um corpo material.
Os Espíritos
encarnados constituem a Humanidade. A alma do homem é um Espírito encarnado.
20. A vida
espiritual é a vida normal do Espírito; ela é eterna; a vida corpórea é
transitória e passageira; isso não é senão um instante na eternidade.
21. A encarnação
dos Espíritos está nas leis da Natureza; é necessária ao seu adiantamento e ao
cumprimento das obras de Deus. Pelo trabalho que a sua existência corpórea
necessita, aperfeiçoam a sua inteligência e adquirem, em observando a lei de
Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade eterna.
Disso resulta
que, todos concorrendo para a obra geral da criação, os Espíritos trabalham
pelo seu próprio adiantamento.
22. O
aperfeiçoamento do Espírito é o fruto de seu próprio trabalho; ele avança em
razão de sua maior ou menor atividade, ou de boa vontade, para adquirir as
qualidades que lhe faltam.
23. Não podendo
o Espírito adquirir, numa só existência corporal, todas as qualidades morais e intelectuais
que devem conduzi-lo ao objetivo, ele o alcança por uma sucessão de
existências, em cada uma das quais dá alguns passos à frente na senda do
progresso, e se purifica de algumas de suas imperfeições.
24. A cada nova
existência, o Espírito traz o que adquiriu em inteligência e em moralidade em suas
existências precedentes, assim como os germes das imperfeições das quais ainda
não se despojou.
25. Quando uma
existência foi mal empregada pelo Espírito, quer dizer, se ele não fez nenhum progresso
no caminho do bem, é sem proveito para ele, e deve recomeçá-la em condições mais
ou menos penosas, em razão de sua negligência e de sua má vontade.
26. A cada
existência corpórea, o Espírito devendo adquirir alguma coisa de bem e se
despojar de alguma coisa de mal, disso resulta que, depois de um certo número
de encarnações, ele se encontra depurado e chega ao estado de Espírito puro.
27. O número das
existências corpóreas é indeterminado: depende da vontade do Espírito abreviá-lo
trabalhando ativamente pelo seu aperfeiçoamento moral.
28. No intervalo
das existências corpóreas, o Espírito está errante e vive a vida espiritual. A erraticidade
não é de duração determinada.
29. Quando os
Espíritos adquiriram, sobre um mundo, a soma do progresso que o estado desse
mundo comporta, eles o deixam para se encarnarem num outro mais avançado, onde adquirem
novos conhecimentos, e assim por diante até que a encarnação em um corpo material,
não lhes sendo mais útil, eles vivem exclusivamente a vida espiritual, onde
progridem ainda num outro sentido e por outros meios. Chegados ao ponto
culminante do progresso, gozam da suprema felicidade; admitidos nos conselhos do
Onipotente têm o seu pensamento e se tornam seus mensageiros, seus ministros
diretos para o governo dos mundos, tendo sob as suas ordens os Espíritos de
diferentes graus de adiantamento.
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