1804 - 1869
O pseudônimo
"Allan Kardec", segundo biografias, foi adotado pelo Prof. Rivail a
fim de diferenciar a Codificação Espírita dos seus trabalhos pedagógicos
anteriores. Segundo algumas fontes, o pseudônimo foi escolhido pois um espírito
revelou-lhe que haviam vivido juntos entre os druidas, na Gália, e que então o
Codificador se chamava "Allan Kardec".
No 4º Congresso
Mundial em Paris (2004), o médium brasileiro Divaldo Pereira Franco psicografou
uma mensagem atribuída ao espírito de León Denis em francês (invertida)
declarando que Allan Kardec fora a reencarnação de Jan Hus, um reformador
religioso do século XV.
Esta informação
já foi dada em diversas fontes diferentes, o que está de acordo com o Controle
Universal do Ensino dos Espíritos, que Kardec definiu da seguinte forma:
"uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos - a concordância
que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de
grande número de médiuns estranhos uns aos outros e em vários lugares."
Biografia - A juventude e a
atividade pedagógica
Nascido numa
antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na
advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da
filosofia.
Fez os seus
estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Zahringenem, em
Yverdon-les-Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais
distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande
influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha. Aos quatorze anos
de idade já ensinava aos seus colegas menos adiantados, criando cursos
gratuitos para os mesmos. Aos dezoito, bacharelou-se em Ciências e Letras.
Concluídos os
seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor da
língua alemã, traduzia para este idioma diferentes obras de educação e de
moral, com destaque para as obras de François Fénelon, pelas quais manifestava
particular atração. Conhecia a fundo os idiomas francês, alemão, inglês e
holandês, além de dominar perfeitamente os idiomas italiano e espanhol
Era membro de
diversas sociedades, entre as quais da Academia Real de Arras, que, em concurso
promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de
estudos mais de harmonia com as necessidades da época?".
A 6 de fevereiro
de 1832 desposou Amélie Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou
um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a
lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real
Academia de Ciências Naturais.
Como pedagogo, o
jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público.
Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos
de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período,
preocupado com a didática, criou um engenhoso método de ensinar a contar e um
quadro mnemônico da História de França, visando facilitar ao estudante
memorizar as datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de
cada reinado do país.
As matérias que
lecionou como pedagogo são: Química, Matemática, Astronomia, Física,
Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês.
Das mesas
girantes à Codificação
Conforme o seu
próprio depoimento, publicado em Obras Póstumas, foi em 1854 que o Prof. Rivail
ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das "mesas girantes",
bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de
longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o
somente ao chamado magnetismo animal de que era estudioso, só em maio de 1855
sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a
frequentar reuniões em que tais fenômenos se produziam.
Durante este período,
também tomou conhecimento do fenômeno da escrita mediúnica - ou psicografia, e
assim passou a se comunicar com os espíritos. Um desses espíritos, conhecido
como um "espírito familiar", passa a orientar os seus trabalhos. Mais
tarde, este espírito iria lhe informar que já o conhecia no tempo das Gálias,
com o nome de Allan Kardec. Assim, Rivail passa a adotar este pseudônimo, sob o
qual publicou as obras que sintetizam as leis da Doutrina Espírita.
Convencendo-se
de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção
de espíritos, Kardec dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão
da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos
científico, filosófico e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar
que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção
do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do Homem.
Tendo iniciado a
publicação das obras da Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio à luz O
Livro dos Espíritos, considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após
o lançamento da Revista Espírita (1 de janeiro de 1858), fundou, nesse mesmo
ano, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.
Os últimos anos
Em seu
sepultamento, o astrônomo francês e amigo pessoal de Kardec, Camille
Flammarion, proferiu o seguinte discurso, ressaltando a sua admiração por
aquele que ali baixava ao túmulo:
“Voltaste a esse
mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés
dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos
para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos
havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a
esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa
esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço.
Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas
mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo
desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro
Allan Kardec, até à vista!” - Camille
Flammarion
Sobre Kardec,
Gabriel Delanne escreveu:
“Substituindo a
fé cega numa vida futura, pela inquebrantável certeza, resultante de
constatações científicas, tal é o inestimável serviço prestado por Allan Kardec
à humanidade.”
Kardec passou os
anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos
simpatizantes, e defendê-lo dos opositores. Faleceu em Paris, a 31 de março de
1869, aos 64 anos (65 anos incompletos) de idade, em decorrência da ruptura de
um aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo
e o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local
de trabalho. Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre
necrópole da capital francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens
druídicos, Acima de sua tumba, seu lema: "Nascer, morrer, renascer ainda e
progredir sem cessar, tal é a lei", em francês.
Obras didáticas
Contracapa da
versão de 1860 d'O Livro dos Espíritos, a principal obra publicada por Kardec.
O professor
Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais destacam-se:
1824 - Curso
prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos
professores e mães de família, com modificações - 2 tomos
1828 - Plano
proposto para melhoramento da Instrução Pública
1831 - Gramática
Francesa Clássica
1831 - Qual o
sistema de estudo mais consentâneo com as necessidades da época?.
1846 - Manual
dos exames para os títulos de capacidade: soluções racionais de questões e
problemas de Aritmética e de Geometria
1848 - Catecismo
gramatical da Língua Francesa
1849 - Programa
dos Cursos ordinários de Química, Física, Astronomia, Fisiologia
1849 - Ditados
normais dos exames da Municipalidade e da Sorbona
1849 - Ditados especiais sobre as
dificuldades ortográficas
Diplomas obtidos
Lista dos
principais diplomas obtidos por Denizard Rivail durante a sua carreira de
professor e diretor de colégio:
Diploma de
fundador da Sociedade de Previdência dos Diretores de Colégios e Internatos de
Paris - 1829
Diploama da
Socidedade para a Instrução Elementar - 1847. Secretário geral: H. Carnot.
Diploma do
Instituto de Línguas, fundado em 1837. Presidente: Conde Le Peletier-Jaunay.
Diploma da
Sociedade de Educação Nacional, constituída pelos diretores de Colégios e de
Internatos da França - 1835. Presidente: Geoffroy de Saint-Hilaire.
Diploma da
Sociedade Gramatical, fundada em Paris em 1807, por Urbain Domergue - 1829.
Diploma da
Sociedade de Emulação e de Agricultura do Departamento do Ain - 1828 (Rivail fora
designado para expor e apresentar em França o método de Pestalozzi).
Diploma do
Instituto Histórico, fundado em 24 de Dezembro de 1833 e organizado a 6 de
Abril de 1834. Presidente: Michaud, membro da academia francesa.
Diploma da
Sociedade Francesa de Estatística Universal, fundada em Paris, em 22 de
Novembro de 1820, por César Moreau.
Diploma da Sociedade de Incentivo à
Indústria Nacional, fundada por Jomard, membro do Instituto.
Medalha de ouro,
1º prêmio, conferida pela Sociedade Real de Arrás, no concurso realizado em
1831, sobre educação e ensino.
Obras espíritas
As cinco obras
fundamentais que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec,
são:
O Livro dos
Espíritos, Princípios da Doutrina Espírita, publicado em 18 de abril de 1857;
O Livro dos
Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores, em janeiro de 1861;
O Evangelho
segundo o Espiritismo, em abril de 1864;
O Céu e o
Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo, em agosto de 1865;
A Gênese, os
Milagres e as Predições segundo o Espiritismo, em janeiro de 1868.
Além delas, como
Kardec, publicou mais cinco obras complementares:
Revista Espírita
(periódico de estudos psicológicos), publicada mensalmente de 1 de janeiro de
1858 a 1869;
O que é o
Espiritismo (resumo sob a forma de perguntas e respostas), em 1859;
Instrução
prática sobre as manifestações espíritas (substituída pelo Livro dos Médiuns;
publicada no Brasil pela editora O Pensamento)
O Espiritismo em
sua expressão mais simples, em 1862;
Viagem Espírita
de 1862 (publicada no Brasil pela editora O Clarim).
Após o seu
falecimento, viria à luz:
Obras Póstumas,
em 1890.
Outras obras
menos conhecidas foram também publicadas no Brasil:
O principiante
espírita (pela editora O Pensamento)
A Obsessão (pela
editora O Clarim)
Citações
"A Doutrina
Espírita transforma completamente a perspectiva do futuro. A vida futura deixa
de ser uma hipótese para ser realidade. O estado das almas depois da morte não
é mais um sistema, porém o resultado da observação. Ergueu-se o véu; o mundo espiritual
aparece-nos na plenitude de sua realidade prática; não foram os homens que o
descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, são os próprios habitantes
desse mundo que nos vêm descrever a sua situação."
Allan Kardec.
"Como meio
de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma forma que as ciências
positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se apresentam, que não
podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e,
remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes
as consequências e busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria
preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção
dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos
princípios da doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa
existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual
maneira quanto aos outros princípios.
Não foram os
fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio
subsequentemente explicar e resumir os fatos. É, pois, rigorosamente exato
dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da
imaginação. As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos
se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse
método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas
metafísicas."
"(…)o
Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na criação,
constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente
todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens
corpóreas e mundanas, sobre as quais o orgulho fundou castas e os estúpidos
preconceitos de cor. O Espiritismo, alargando o círculo da família pela
pluralidade das existências, estabelece entre os homens uma fraternidade mais
racional do que aquela que não tem por base senão os frágeis laços da matéria,
porque esses laços são perecíveis, ao passo que os do Espírito são eternos.
Esses laços, uma
vez bem compreendidos, influirão pela força das coisas, sobre as relações
sociais, e mais tarde sobre a Legislação social, que tomará por base as leis
imutáveis do amor e da caridade; então ver-se-á desaparecerem essa anomalias
que chocam os homens de bom senso, como as leis da Idade Média chocam os homens
de hoje…
Notas
Diz-se
codificador pois o seu trabalho foi o de reunir, compilar e sistematizar textos
recebidos por diversos médiuns naquela época.
Referências
PENSE - Allan Kardec
Esboço biográfico e curiosidades
Mensagem através da psicografia da
médium Ermance Dufaux (uma das médiuns de Kardec) em 1857. Esta mensagem foi
encontrada na livraria Leymarie, na França, por Canuto de Abreu. Esta
informação consta no livro A missão de Allan Kardec, de Carlos Imbassahy.
Holocausto Pela Verdade, palestra de
Divaldo Pereira Franco (em DVD).
Os Luminares Tchecos", obra da
médium Wera Krijanowskaia, pelo espírito de J.W. Rochester.
João Huss na História do Espiritismo,
artigo de Wallace Leal V. Rodrigues, publicado no Anuário Espírita de 1973
(órgão do Instituto de Difusão Espírita (IDE), Ano X, N º 10, Araras, SP, pág.
75 –85).
Allan Kardec. Revista Espírita - Abril
de 1864 e em O Evangelho segundo o Espiritismo, introdução, item II.
Textos - Allan Kardec
Encyclopædia Britannica, 1997. Vol.8.
p.390.
Algumas fontes não confirmadas dizem que
Allan Kardec teria sido médico. Pesquisas posteriores, no entanto demonstraram
que ele foi professor de Anatomia. Retirado do rodapé desta página da FEB:
SOARES, p. 13.
Dados pessoais
KARDEC, Allan. Obras Póstumas (14a.
ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1975. p. 30
Carta de Delanne publicada na Revista
Espírita em 1907. Gabriel Delanne - sua vida, seu apostolado e sua obra (.doc).
Paul Bodier e Henri Regnault. Página visitada em 03/04/2010.
SOARES, p. 14.
SOARES, p. 13
O Céu e o Inferno, Primeira Parte, cap.
2
A Gênese, Capítulo I, item 14
Revista Espírita 1861, pág. 297-298
Bibliografia
ABREU FILHO, Júlio. Biografia de Allan
Kardec. in: O Principiante Espírita. São Paulo: O Pensamento, 1956. p. 7-30.
CARNEIRO, Victor Ribas. ABC do
Espiritismo (5a. ed.). Curitiba (PR): Federação Espírita do Paraná, 1996. 223p.
ISBN 85-7365-001-X p. 47-51.
INCONTRI, Dora. Para Entender Allan
Kardec. São Paulo: Lachâtre, 2004.
INCONTRI, Dora. Pedagogia Espírita, um
Projeto Brasileiro e suas Raízes. Bragança Paulista (SP): Comenius, 2004.
JORGE, José. Allan Kardec no pensamento
de Léon Denis. Rio de Janeiro: Centro Espírita Léon Denis/Departamento
Editorial, 1978. 48p.
S.A.. Revista Espírita, maio de 1869.
in: KARDEC, Allan. Obras Póstumas (14a. ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1975.
SAUSSE, Henri. Biografia de Allan
Kardec. in: O que é o espiritismo (38a. ed.). Rio de Janeiro: FEB, 1997. ISBN
8573281138 p. 9-48
SOARES, Sylvio Brito. Grandes Vultos da
Humanidade e o Espiritismo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1961.
WANTUIL, Zêus, THIESEN, Francisco .
Allan Kardec – o Educador e o Codificador. Rio de Janeiro: FEB, 2004.
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