"Desde os
dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado à força, e os violentos
são os que o conquistam." (Evangelho.)
O reino dos céus
é dos fortes. Os abúlicos, os pusilânimes e os covardes jamais o alcançarão. Sua
posse depende de uma porfiada conquista. A obra da salvação é obra de educação.
Educar é desenvolver os poderes latentes do espírito, dentre os quais sobressai
a Vontade. É com o poder da Vontade que se alcança o céu. A Vontade, disse um
eminente educador, é a força principal do caráter, é, numa palavra, o próprio
homem.
Tomás de Aquino, interpelado por certa
senhora de alta sociedade sobre o que se fazia preciso para ganhar o céu,
respondeu: Querer.
A maioria dos
erros que cometemos são atos de fraqueza moral. Os vícios dominam-nos, a cólera
arrebata-nos, o ciúme consome-nos, a ambição perturba-nos, o orgulho cega-nos,
o egoísmo envilece-nos. Dissimulamos a cada passo, abafando a verdade,
preterindo a justiça, pactuando com a iniqüidade. E tudo porquê? — por fraqueza.
Uma vontade
frouxa, deseducada, é a causa dos fracassos, dos desapontamentos, das quedas e
das humilhações por que passamos na trajetória da existência. O reino dos céus
há de ser tomado à força. É o único caso em que a violência se justifica. Sem energia
de vontade não se doma a animalidade que nos degrada, não se sobe a simbólica escada
de Jacob. Sem coragem moral não se abraça a verdade, nem se vive segundo a justiça.
O Apocalipse, em
sua linguagem parabólica, diz: "Não és frio, nem quente, oxalá fosses frio
ou quente: És morno, por isso estou para te vomitar de minha boca. Ao vencedor,
fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus".
O morno é o
fraco, é o tíbio, o indeciso, o medroso, que não sabe porfiar, que foge espavorido
das lutas e das pelejas.
Jesus disse aos
seus discípulos:
— Ide. Eu vos
envio como ovelhas no meio de lobos.
Ele queria,
portanto, homens resolutos, dispostos a enfrentar obstáculos, e a conjurar
perigos. A ovelha no meio da alcateia corre risco iminente. E o Mestre aponta e
salienta esse perigo ordenando peremptoriamente: "Ide". Referindo-se
ao caminho da salvação, disse que esse caminho é estreito como estreita é a
porta que lhe dá acesso. Para melhor elucidar o caso, acrescenta: "Quem
quiser ser meu discípulo renuncie a tudo, inclusive à própria vida, tome sua
cruz e siga-me".
Os dizeres acima
não dão margem a mal-entendidos. Eles exprimem clara e positivamente que, para
ser cristão, o homem precisa tornar-se forte, corajoso, intrépido.
E o Mestre o
exemplificou dando perfeito testemunho, na sua vida terrena, de integridade de
caráter, de valor moral e de intrepidez.
"Ninguém me
convence de pecado. — Eu venci o mundo. — Seja o teu falar sim, sim; não, não.
Não temais os homens. — Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito"
— são frases de um Espírito forte e valoroso. A expulsão dos vendilhões do templo,
dadas as condições e o meio em que se operou, foi mais do que um ato de coragem
moral, foi um cartel de desafio atirado pelo Mestre a uma horda de inimigos ferozes
e poderosos.
O homem atual
carece de valor moral.
O parasitismo
crescente comprova tal asserção. Atravessamos uma época de crise de energia.
Não de energia elétrica, como clama a imprensa de nossos dias, mas de energia
moral, de coragem cívica, de inteireza de caráter. Semelhante crise é de conseqüências
gravíssimas para a Humanidade. A crise de energia elétrica acarreta males
relativos e sanáveis, enquanto que a crise de energia moral, se não for
conjurada, trará a dissolução social, determinará um verdadeiro cataclismo
mundial.
Salvar é educar.
O reino dos céus é conquista dos fortes. Eduquemos a vontade libertando nosso
espírito da ignominiosa servidão, do negregado cativeiro do vício e das paixões.
Imaginar a
salvação fora da auto-educação de nossas almas, é utopia dogmática incompatível
com a atualidade .
Salvemos o
mundo, salvando-nos a nós mesmos.
"SURSUM
CORDA!"
Livro: Nas
Pegadas do Mestre.
Vinícius.