Em verdade,
viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram
na dependência de pessoas ou substâncias.
Tradição é ato
de transmissão oral ou escrita de costumes, lendas ou fatos levados de geração
a geração através dos tempos. Quanto mais antigos, mais notáveis e fora do
comum eles se tornam. Uma vez atingida tal dimensão, transformam-se em crenças
inquestionáveis.
As criaturas
assimilam conceitos simplesmente porque outras que elas julgam importantes e
entendidas, lhes disseram que são verdadeiros. As crenças de toda espécie
começaram geralmente através das histórias e dos costumes criados por alguém. Com
o passar dos séculos, entretanto, tornaram-se regras éticas. Crença é a ação de
acreditar naquilo que convencionamos adotar como verdade. Evidentemente,
algumas são verdadeiras; outras não.
Precisamos
revisar nossas concepções sobre os vícios. Não podemos entendê-los como uma
problemática que abrange, exclusivamente, delinqüentes e vadios. Em verdade,
viciados são todos aqueles que se enfraqueceram diante da vida e se refugiaram
na dependência de pessoas ou substâncias.
Pelas crenças
tradicionalistas, são tachados de criminosos e vagabundos; para nós, no
entanto, representam, acima de tudo, companheiros do caminho evolutivo,
merecedores de atenção e entendimento. Por serem carentes e sofridos,
entregaram sua força de vontade ao poder dos tóxicos, procurando se esquecer de
algo que, talvez, nem mesmo saibam: "eles próprios", pois não
agüentaram suportar seu mundo mental em desalinho.
A ociosidade
pode ser considerada, ao mesmo tempo, "causa e efeito " de todos os
vícios.
Reportando-se
à ociosidade, assim se manifestaram as Entidades Superiores: "Haverá
Espíritos que se conservam ociosos (...) mas esse estado é temporário e
dependendo do desenvolvimento de suas inteligências (...) em sua origem, todos
são quais crianças que acabam de nascer e que obram mais por instinto que por
vontade expressa."
Sob o prisma
do "efeito", tais considerações podem ser analisadas conforme o que
segue abaixo:
Os dependentes
são julgados por muitos como criaturas intencionalmente indolentes; por outros,
de forma precipitada, como "parasitas sociais" , desocupados,
improdutivos e preguiçosos. Mas sem qualquer conotação ou justificativa de
tirar-lhes a responsabilidade por seus feitos e decisões, não podemos nos
esquecer de que o "peso do fardo" que carregam lhes dá tamanha
lassidão energética que passam a viver em constante "embriaguez na
alma", entre fluidos de abatimento, fadiga e tédio.
Não são
inúteis deliberadamente, mas se utilizam, sem perceber, do desânimo que sentem
como "estratégia psicológica" para fugirem à decisão de
"arregaçar as mangas" e enfrentar a parte que lhes cabe realizar na
vida. Adiam sistematicamente seus compromissos, vivem de uma maneira no
presente e dizem que vão viver de outra no futuro.
Aqui está um
possível raciocínio de que se utilizam: "Sei que devo trabalhar para me
realizar, mas, como desconfio de minha capacidade, temo não fazer
direito", Ou mesmo, "O que gosto de fazer não será aprovado pelos
outros; por isso, digo a mim mesmo e aos outros que o farei no futuro. Agindo
assim, não terei que admitir que não vou fazê-lo". Os toxicômanos são
criaturas de caráter oscilante, não desenvolveram o senso de autonomia, vivem
envolvidos numa aura fluídica de indecisão e imobilização por conseqüência da
própria reação emocional em desajuste.
Protelam as
coisas para um dia, talvez, nunca chegará. Fixam-se ao consumo cada vez maior
de produtos narcóticos, enquanto desenvolvem atitudes emocionais que os levam à
subjugação a pessoas e situações.
A ociosidade
como "causa" das viciações pode ser estudada da seguinte maneira:
As velhas
crenças religiosas continuam afirmando que a felicidade dos bem-aventurados consiste
na vida contemplativa, no repouso absoluto nos céus, em contrapartida, que os
infernos são destinados aos espíritos culpados. Conduzidos forçosamente a um
mundo de expiações eternas, sem meios de reparação, ficariam condenados a viver
eternamente as dores do fogo e o sofrimento não menos cruel da eterna
ociosidade.
As crenças no
poder dos "melhores", ou seja, dos aristocratas, fortificaram-se
ainda mais no tempo dos patriarcas, das sociedades greco-romanas.
Expandindo-se, essas idéias fizeram com que os homens formassem unidades
produtivas com base no escravismo. As vilas romanas e gregas possuíam dezenas
de criados/cativos para satisfazer a todas as necessidades dos patrícios, para
que vivessem no fastio e na inutilidade.
Durante
séculos, a escravidão no Brasil foi aceita sem que as classes dominantes
questionassem a legitimidade dos cativeiros. Os senhores de engenho se
justificavam dizendo que resgatavam os negros do paganismo em que viviam para a
conversão cristã, o que lhes facultava a redenção dos pecados e lhes abria as
portas da salvação. Na realidade ocultavam suas verdadeiras intenções: a
mão-de-obra lucrativa, que lhes permitia a vida fácil de esbanjamento com seus
familiares, para manter a aparência social.
Aprendemos com
as sociedades absolutistas do passado que a ociosidade era uma peça importante
na vida. Na corte, as etiquetas, jogos, bailes e saraus eram as atividades mais
comuns da nobreza.
Assim pensavam
os nobres na época de Luiz XV da França: "Somos uma classe que não ganha
dinheiro pelo trabalho, mas o temos pela nossa genealogia; não queremos ser
confundidos com os poupadores vulgares, que são a gentinha da burguesia."
Pode-se afirmar que, até poucas décadas atrás, a grande maioria também assim raciocinava.
As regras e
costumes do passado pesam sobre nós. Somos espíritos milenares, encarnando
sucessivas vezes, adquirindo experiências e assimilando crenças, algumas
verdadeiras, outras não, repetindo o que escrevemos inicialmente. Essa a razão da
necessidade de revisar nossos conceitos.
Disse certa
feita Sócrates: "Não é ocioso apenas o que nada faz, mas também o que
poderia empregar melhor o seu tempo". A ociosidade é uma porta que se abre
os vícios, é uma casa sem paredes; as "serpentes" podem entrar nela
por todos os lados.
Livro: As dores da alma
Hammed / Francisco do Espírito Santo Neto.
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