O saber ensoberbece, mas o amor edifica
A cultura
— como todos os dons que felicitam o Espírito no caminho da plenitude evolutiva
— desenvolvese em função das vidas sucessivas.
É uma conquista
que a alma realiza no curso de milênios sem conta. Os gênios do pensamento que
transitaram pelo mundo à maneira de inextinguíveis faróis — Confúcio,
Sócrates, Leonardo Da Vinci, Goethe, Rui Barbosa, Einstein e outros, foram
almas insipientes, nos primórdios da sua evolução.
Inteligências
primárias, que tatearam, também, nas sombras da mediocridade. Tiveram, enfim, a
mesma origem de todos os homens.
O princípio
espírita de que todas as almas “foram criadas simples e ignorantes” revela a inexistência
de favoritismos e privilégios nas leis divinas.
Na balança de
Deus não há, como ocorre na do homem, dois pesos e duas medidas.
A Humanidade
tem, obviamente, origem comum. Viaja para o mesmo destino — a perfectibilidade.
Percorre as variadas e múltiplas estações do aprendizado, neste e noutros
mundos disseminados pelo Universo.
A soma dos
valores culturais, como a dos valores morais, representando aquisições que se perdem
nas brumas do tempo, faz que despontem, aqui e alhures, ontem e hoje, nas
radiosas constelações da Sabedoria, refulgentes estrelas, inconfundíveis
por seu brilho ímpar.
A cultura,
entretanto, pode ser, muita vez — como a fortuna, a beleza física, o
poder, motivo para a desgraça do homem, quando essa cultura, desprovida de
humildade e amor, o conduz, pela presunção, ao detestável vício do
narcisismo intelectual.
O homem rico de
cultura, mas pobre de bons sentimentos, é um infeliz, embora se julgue um deus.
Cultura sem
lastro espiritual significa, em quaisquer circunstâncias, perigo para a
alma.
Por isso, o
apóstolo, que possuía a sabedoria pelo Espírito, advertia, escrevendo aos cristãos
de Corinto: “O saber ensoberbece, mas o amor edifica.” E, mais adiante,
aclarando o seu pensamento: “Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito
não aprendeu ainda como convém saber.”
A reencarnação é
o meio, e a perfeição o fim. Deve o homem prepararse, por ela, no sentido de,
realizandose interiormente, evangelicamente, palmilhar, sem maiores
inconvenientes, a senda do conhecimento, aprendendo “como convém saber”.
É sempre
possível encontrarmos no mundo, reencarnado na condição de idiota incurável, um
gênio do passado que abusou do direito de ser inteligente e culto
para oprimir e matar.
Nunca se há de
encontrar, no entanto, alguém expiando crimes por muito ter amado.
Não é demais
lembrar o Mestre, no episódio com a pecadora que lhe ungira os pés: “Perdoados
lhe são os seus muitos pecados, porque muito ela amou.” O homem, simplesmente
intelectual, usa a inteligência, aplica o conhecimento e emprega a cultura
só e só na satisfação de sua vaidade pessoal. Para enaltecimento do ego —
Vanitas vanitatum et omnia ixtnitas!
O homem
evangelizado, que retém os patrimônios da sabedoria — a que “não incha”
— sabe que nada possui de seu, pois reconhece, com humildade consciente,
que inteligência e cultura são dons celestes que a sua receptividade absorveu na
esteira dos milênios.
Nos estudos da
fenomenologia mediúnica, no campo do Espiritismo Cristão, podem ser encontrados
numerosos exemplos de cientistas que reencarnaram em dolorosas circunstâncias.
Alguns, cegos — sem a bênção da visão física.
Muitos,
inutilizados — torturados na epilepsia ou na lepra. Outros — hidrocéfalos
ou idiotas.
Outros, ainda —
paralíticos, surdosmudos. . Centenas deles cruzam, conosco, as ruas do mundo,
carregando nas profundezas subconscienciais alucinantes visões, quadros
terríveis. Permanecem atormentados ante o alarido das vítimas do passado, que
lhes não perdoaram a perversidade — filha da intelectualidade sem Deus. Vivem
sob o peso das objurgatórias da própria consciência. .
* * *
Aqueles,
contudo, que muito amaram no pretérito, podem estar sofrendo
no mundo — mas sofrendo por amor.
Nos labores
construtivos, na renúncia à vida em gloriosos mundos, continuam na Terra ajudando
aos que permanecem nas retaguardas experienciais.
Essas almas se
acrescem de sublimados valores. Contabilizam, na escrita dos Céus, ilimitados
créditos. Para os que menosprezarem os bens da inteligência e da cultura,
abrelhes o Espiritismo, com a perspectiva da reencarnação, panoramas de
renovamento.
O
“nascer de novo”, do maravilhoso diálogo de Jesus com Nicodemos;
o “nascer da água e do Espírito”, e não o “nascer” simbolizando, apenas, a
renovação espiritual sem o resgate dos crimes cometidos, constitui mensagem de
esperança para as almas que choram nos vales sombrios — embora transitórios
— dos planos inferiores.
A
reencarnação — a chamada “bênção do recomeço — acena a
todos os falidos do caminho, a todos que fracassarem em sucessivos
tentames.
Ofertalhes a
certeza de novas existências reparadoras e de aprimoramento.
Oferecelhes,
como se fosse um carinhoso “recado de Deus” aos seus filhos mais infelizes,
oportunidade para que voltem ao mundo; — sim, a Reencarnação é um amoroso
recado de Deus à Humanidade!
Permitelhes o
retorno à ribalta terrestre, para, com atos positivos do Bem, neutralizarem os
perniciosos efeitos gerados por atos negativos do Mal — nos desvios
da Inteligência e na perversa aplicação da Cultura não evangelizada.
Quando se fala
ou escreve sobre Reencarnação, é imperioso se pense em cultura,
porque, sem a repetição de experiências — dezenas, centenas de vezes, os
primeiros homens seriam, ainda, uns brutos, uns selvagens.
Como aprenderam?
Com quem
aprenderam?
Com o
Espiritismo — que prega e difunde o intercâmbio espiritual
entre os mundos moradas do Pai - não é difícil compreendermos
como e com quem aprenderam os primeiros homens, os terrícolas.
Livro: Estudando
O Evangelho.
Martins Peralva.
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