"Em
síntese, o homem das últimas dezenas de séculos representa a humanidade
vitoriosa, emergindo da bestialidade primária. Desta condição participamos nós,
os desencarnados, em número de muitos milhões de espíritos ainda pesados, por
não havermos, até o momento, alijado todo o conteúdo de qualidades inferiores
de nossa organização perispiritual; tal circunstância nos compele a viver,
após a morte física, em formações afins, em sociedades realmente avançadas, mas
semelhantes aos agrupamentos terrestres. Oscilamos entre a liberação e a
reencarnação, aperfeiçoando-nos, burilando-nos, progredindo, até conseguir,
pelo refinamento próprio, o acesso a expressões sublimes da Vida Superior, que
ainda não nos é dado compreender. Nos dois lados da existência, em que nos
movimentamos e dentro dos quais se encontram o nascimento e a morte do corpo denso,
como portas de comunicação, o trabalho construtivo é a nossa bênção,
aparelhando-nos para o futuro divino." (No Mundo Maio – André Luiz / Chico
Xavier.
Isolado na concha milagrosa do corpo, o espírito está reduzido em suas
percepções a limites que se fazem necessários. A esfera sensorial funciona, para ele, à maneira de câmara abafadora. Visão, audição, tato, padecem enormes
restrições. O cérebro físico é um gabinete escuro,
proporcionando-lhe ensejo de recapitular e reaprender.
Conhecimentos adquiridos e hábitos profundamente arraigados nos séculos aí jazem na forma
estática de intuições e tendências. Forças inexploradas e infinitos recursos
nele dormem, aguardando a alavanca da vontade para se externarem no rumo da
superconsciência.
No
templo miraculoso da carne, em que as células são tijolos vivos na construção
da forma, nossa alma permanece provisoriamente encerrada, em temporário olvido,
mas não absoluto, porque, se transporta consigo mais vasto patrimônio de
experiência, é torturada por indefiníveis anseios de retorno à espiritualidade
superior, demorando-se, enquanto no mundo opaco, em singulares e reiterados
desajustes.
Dentro da grade
dos sentidos fisiológicos, porém, o espírito recebe gloriosas oportunidades de
trabalho no labor de auto-superação.
Sob as
constrições naturais do plano físico, é obrigado a lapidar-se por dentro, a consolidar
qualidades que o santificam e, sobretudo, a estender-se e a dilatar-se em
influência, pavimentando o caminho da própria elevação.
Aprisionado no
castelo corpóreo, os sentidos são exíguas frestas de luz, possibilitando-lhe
observações convenientemente dosadas, a fim de que valorize, no máximo, os seus
recursos no espaço e no tempo. Na existência carnal, encontra multiplicados meios de exercício e luta
para a aquisição e fixação dos dons de que necessita para respirar em mais
altos climas.
Pela
necessidade, o verme se arrasta das profundezas para a luz.
Pela
necessidade, a abelha se transporta a enormes distâncias, à procura de flores
que lhe garantam o fabrico do mel.
Assim também,
pela necessidade de sublimação, o espírito atravessa extensos túneis de sombra,
na Terra, de modo a estender os poderes que lhe são peculiares.
Sofrendo limitações, improvisa novos meios para a subida aos cimos da
luz, marcando a própria senda com sinais de uma compreensão mais nobre do
quadro em que sonha e se agita. Torturado pela sede de Infinito, cresce com a dor que o repreende e com
o trabalho que o santifica. As faculdades sensoriais são insignificantes réstias de claridade
descerrando-lhe leves notícias do prodigioso reino da luz.
E quando sabe utilizar as sombras do palácio corporal que o aprisiona
temporariamente, no desenvolvimento de suas faculdades divinas, meditando e
agindo no bem, pouco a pouco tece as asas de amor e sabedoria com que, mais tarde,
desferirá venturosamente os vôos sublimes e supremos, na direção da Eternidade. (Roteiro – Emmanuel / Chico Xavier)
As incógnitas da
vida exterior, com os desafios delas resultantes, são as mesmas; entretanto, se
a criatura aspira efetivamente a realizar uma tomada de contas encontra neste
novo mundo surpresas, muito fascinantes, no estudo e redescoberta de si mesma.
Somos, cada um de nós, um astro de inteligência a perquirir e a aperfeiçoar por
nós próprios. (E A Vida Continua – André Luiz / Chico Xavier).
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