O conhecimento
da vida futura e a sua conseqüente aceitação tranqüila, como decorrência de uma
conscientização em tomo da realidade espiritual, produz, no homem, um clima
moral que lhe molda o caráter com vigor, tomando-o sereno e forte em quaisquer circunstâncias.
Sabendo que as
injunções físicas e os eventuais sucessos terrenos fazem parte de uma
programática que não se encerra no túmulo, antes, a partir dali se desdobra
natural e continuamente, logra enfrentar todas as ocorrências com calma e
lucidez mental, considerando a brevidade em que transcorrerão ditas
dificuldades, quando assim o forem, ante o infinito do tempo que dispõe à frente,
convidativo.
As metas se lhe
deslocam do plano imediatista, gozador, para outra dimensão em que o prazer não
se faça acompanhar de fadiga, nem a ilusória felicidade seja sucedida pela
frustração, quando não pela amargura.
A certeza da
vida espiritual dilata a visão e retempera o ânimo daquele que se enquadra no
seu contexto superior, contrapondo-se às aflitivas situações do ponto de vista
puramente material.
Diante das
graves ocorrências não receia, antes renova a coragem para enfrentar com tranqüila
altivez e resolver o problema que lhe surge como desafio.
No alarido decorrente
da precipitação, mantém-se em austera postura, não se perturbando com o
desencontro das opiniões, nem com a balbúrdia que obnubila a consciência,
distorcendo a realidade na sua configuração legítima.
Sabe encarar a
dor e a dificuldade não como castigo ou vitória do mal transitório, porém, como
um chamamento à sua fé e um teste à sua capacidade de discernimento, com o conseqüente
equilíbrio da ação bem dirigida.
Sabe que somente
ocorre o que lhe é melhor para o progresso do espírito, por isso não malbarata
o tempo na avaliação dos danos, quando estes se produzem, examinando os
resultados proveitosos, de que se poderá utilizar no futuro, impedindo a
repetição da ocorrência negativa.
Não recua,
porque conhece com lógica que todas as coisas a Deus pertencem, e os fatos
obedecem a um traçado superior como resultado das atitudes pretéritas de que o
endividado não se consegue evadir.
Doma as más
inclinações, impedindo que elas o tomem nos momentos mais ásperos, ocasiões em
que se deve recolher à oração e à vigilância, ao invés de tombar inerme nas
urdiduras da irresponsabilidade de qualquer natureza.
Decide, em
definitivo, as normativas de comportamento com que estabiliza as emoções; dá
direção às aspirações, livrando-se, de uma por todas as vezes, da instabilidade
e da alucinação.
Medita no ensino
evangélico, quanto possível, de cujo hábito salutar haure força e vitalidade
para não soçobrar entre os escombros das águas encapeladas das paixões
inferiores.
Amadurece com a
dor ao invés de exasperar-se com ela; solidariza-se com o padecente, antes que
dele afastar-se; cultiva o otimismo em detrimento das construções mentais
deletérias; silencia as diatribes sem as revidar; confia no futuro porque
marcha inexoravelmete para ele...
Vive a fé que
esposa e, de forma alguma duvida da divina interferência e magnanimidade do
Pai, sempre e sem cessar.
Combate o bom
combate do bem contra o mal e quando os fracos receiam, murmuram ou planejam
afastar-se da luta, o homem que confia no futuro espiritual persevera, investe
tudo, doa-se mais, mesmo que aparentemente a sós se lhe afigure uma loucura a perseverança
e insistência nos propósitos superiores acalentados.
Isto porque ele
tem certeza de que, embora abandonado pelos compares e afeiçoados, que ora têm
outros interesses e pretendem seguir adiante, não está sozinho, nem tombará.
E, se porventura
os resultados não corresponderem aos chamados triunfos humanos, ainda assim,
rejubila-se em face da tranqüilidade que mantém quanto aos roteiros do Senhor,
que nos permite escolher a parte que melhor apraz, demorando-se em paz por
haver selecionado a melhor para si e para o meio onde foi chamado a servir e a
crescer...
No futuro
espiritual que o aguarda, o homem de fé nas realidades imortais do espírito
eterno, tem consciência de que reencontrará aqueles que o não quiseram ou não
puderam acompanhá-lo, que foram causas diretas ou não das suas aflições e sacrifícios,
em condições, sem dúvida, onde não haverá lugar para equívocos nem deserções,
sob a luz meridiana da consciência, livre dos anestésicos da leviandade e da
ilusão.
Por tais e
incontáveis outras razões, o espírita, cientificado e consciente do seu futuro
espiritual, faz-se um verdadeiro cristão, um homem probo e bom a serviço do
Cristo, na Terra, sem exigências nem petulâncias, seguro de que, simplesmente
como servo que reconhece a própria pequenez, apenas cumpre o seu dever.
Livro:
Terapêutica de Emergência.
Espíritos
Diversos / Divaldo Franco.
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