93. O sufixo ig
indica “fazer”, isto é, “tornar” tal como o designa a raiz à qual é
acrescentado; p. ex.: bela belo, beligi embelezar; klara claro, límpido,
klarigi clarificar (também “esclarecer, explicar”); blanka branco, blankigi
branquear (alvejar, tornar branco); ruĝa vermelho, ruĝigi avermelhar,
enrubescer; ruino ruína, ruinigi arruinar; kruco cruz, krucigi cruzar (por em
forma de cruz); kun com, kunigi juntar; tro demais, troigi exagerar.
Junto a raízes
verbais, indica:
a) provocar a
realização do ato indicado pela raiz; p. ex.: decidi decidir, decidigi fazer decidir,
- i. e. fazer tomar uma resoluçâo; devi dever, devigi obrigar; envii invejar,
enviigi fazer inveja; esti ser, estigi formar, causar;
b) fazer que
seja. . . ; p. ex.: koni conhecer, konigi tornar conhecido, revelar; senti
sentir, sentigi fazer que seja sentido; aŭdi ouvir, aŭdigi fazer que seja
ouvido; havi ter, havigi fazer ter-se, proporcionar.
c) Ao verbo
“fazer” está muito ligado o verbo “mandar”, de sorte que o sufixo ig, com
raízes verbais, se presta à formação de verbos cuja significação é “mandar”
seguido do infinitivo referente ao verbo da raiz; p. ex.: Venigu la servistinon
— Mande vir a criada. Mi farigis paron da ŝuoj Mandei fazer um par de sapatos.
NOTA — Não
somente verbos se podem criar com ig, mas também substantivos, adjetivos e
advérbios. P. ex.: kontenta satisfeito, kontentigo satisfação (i. e.
justificação, indenização); nulo zero, nuligo anulação; laca cansado, laciga
cansativo; devi dever, deviga obrigatório; neĝo blindige blanka — neve
ofuscantemente branca (blinda cego, blindigi cegar).
94. Com este
sufixo pode formar-se o verbo igi, que naturalmente significa “fazer” (ou “mandar”),
mas de aplicação restrita: o complemento de igi só pode ser verbo. Assim, em vez
de supozigi (fazer supor) é legítimo desdobrar em igi supozi; em vez de
konstruigi (fazer, ou mandar, construir) pode-se dizer igi konstrui. Não se
diga, entretanto, p. ex. igi bela, igi publika, igi reĝo, etc.; com adjetivos
etc. o verbo “fazer” é mesmo fari, isto é, fari bela, fari publika, fari reĝo.
P. ex.: A cólera fazia-a bela — La kolero faris ŝin bela. Façam público este
meu desejo —Faru publika ĉi tiun mian deziron. Fizeram-no rei - Oni faris lin
reĝo. A ninguém fiz chorar, a ninguém fiz desgraçado — Neniun mi IGIS plori,
neniun mi FARIS malfeliĉa. (Note-se o predicativo bela,publika, reĝo, malfeliĉa
em nominativo!).
95. O sufixo iĝ
indica “fazer-se”, isto é, “tornar-se” tal como o designa a raiz à qual se junta;
p. ex.: beliĝi embelezar-se; ruĝiĝi avermelhar-se, ruborizar-se (corar); bruta
bruto, brutiĝi embrutecer-se: pala pálido, paliĝi empalidecer (ficar. pálido);
alia outro, aliigi mudar (tornar outro), aliiĝi transformar-se (tornar-se outro
ou diferente); edziĝi casar-se (o homem); edziniĝi casar-se (a mulher);geedziĝi
casarem-se (tornarem-se casal); mateno manhã, mateniĝi amanhecer; al a
(preposição), aliĝi aderir; stari estar de pé, stariĝi levantar-se, por-se de
pé; sidi estar sentado, sidiĝi sentar-se; kuŝi estar deitado, kuŝiĝi deitar-se;
genui estar ajoelhado, genuiĝi ajoelhar-se.
NOTA — Outras
categorias gramaticais, além de verbos, podem derivar-se com o sufixo iĝ,
porquanto aos verbos terminados em iĝi correspondem substantivos, adjetivos e
advérbios; p. ex.: sufokiĝi sufocar-se, sufokiĝo sufocação; naskiĝi nascer,
naskiĝo nascimento; distingiĝi distinguir-se, distingiĝo distinção, distingiĝa
distinto; etc.
Por sua própria
natureza, as palavras que encerrem este sufixo implicam uma ideia “passiva”, enquanto
as formadas com ig acarretam uma ideia “ativa”. Assim, p. ex.: unuigi unificar,
unuiĝi unificar-se. Teríamos, então: Esperanto celas la unuigon de la popoloj —
O Esperanto visa a unificação dos povos (= feita por ele ), isto é: Esperanto
celas unuigi la popolojn. Mas: Per Esperanto fine fariĝos la unuiĝo de la
popolojn — Pelo Esperanto finalmente se dará a unificação dos povos (= feita
pelos povos mesmos); isto é: Per Esperanto la popoloj fine unuiĝos. Outro
exemplo: Humiliĝo venkas ĉiajn provojn de humiligado - A humilhação (= que a
própria pessoa se impõe) vence todas as tentativas de humilhação (= que outrem
queira impor).
96. O sufixo iĝ
daria lugar ao verbo iĝi, com a espontânea significação de “fazer-se”, ou “tornar-se”,
ensejando-se, destarte, modos de dizer como, p. ex.: iĝi ruĝa, iĝi alia, iĝi
edzo, etc. Embora se encontrem estas expressões, quer na moderna literatura,
quer em gramáticas e dicionários, não recomendamos o emprego de iĝi, como
vocábulo autônomo; Zamenhof só usava, nestes casos, fariĝi. Sempre digamos,
portanto: fariĝi ruĝa, fariĝi alia, fariĝi edzo, etc., não: iĝi ruĝa, iĝi alia
e quejandos barbarismos.
97. O sufixo ig
serve também para tornar transitivo um verbo intransitivo, p. ex.: ĉesi cessar,
chegar a termo,ĉesigi fazer cessar; kuŝi estar deitado, kuŝigi deitar (por
deitado); starigi levantar, por de pé; sidigi assentar, por sentado; venigi
fazer (ou “mandar”) vir, mandar buscar; akordi estar de acordo, akordigi pôr de
acordo; morti morrer, mortigi matar; daŭri durar, daŭrigi continuar, dar
continuação; pluvi chover, pluvigi fazer chover; etc. Tais verbos, assim transitivados,
chamam-se factitivos.
98. O sufixo iĝ
presta-se ao inverso, isto é, a tornar intransitivo um verbo transitivo, p.
ex.: komenci começar, dar começo, komenciĝi começar, ter começo, iniciar-se;
fini terminar, pôr termo, finiĝi terminar, chegar a termo; veki acordar, tirar
do sono, vekiĝi acordar, tirar-se do sono.
99. O sufixo iĝ,
conforme temos verificado, exprime a ideia de “passagem de um estado para
outro”; por outro lado, o prefixo ek pode ser usado para indicar “ação
incipiente”. Estas duas noções, certas vezes, se confundem, sendo, pois,
natural que então se possam concretizar com iĝ ou com ek. Assim, p. ex.:
stariĝi ou ekstari, sidiĝi ou eksidi, genuiĝi ou ekgenui, sciiĝi ou ekscii,
koleriĝi ou ekkoleri (= encolerizar-se), timiĝi ou ektimi (= assustar-se),
estiĝi ou ekesti (= começar a existir, formar-se etc.), e ainda outros.
100. Verbos
assim derivados geralmente equivalem, em Português, a verbos acompanhados de
pronome oblíquo (me, te, se,.. . ). Em alguns casos, em vez do sufixo iĝ pode
empregar-se mesmo o pronome oblíquo do Esperanto, em acusativo. Assim: troviĝi
ou sin trovi (= acharse), turniĝi ou sin turni (= girar, rodar), ĵetiĝi ou sin
ĵeti (= lançar-se), volviĝi ou sin volvi (= enrolar-se), dividiĝi ou sin dividi
(= dividir-se), leviĝi ou sin levi (= levantar-se), sidiĝi ou sin sidigi (=
assentar-se), kuŝi ou sin kuŝigi (= deitar-se), etc.
101. É certo que
nem sempre se pode empregar indiferentemente, seja iĝ ou ek, seja iĝ ou sin -i;
nosso intento aqui foi mostrar os grandes recursos de que dispõe o Esperanto
neste capítulo. Eis, entretanto, alguns exemplos que mostrarão diferença de
sentido entre iĝ e sin -i: La infano ruliĝadis de branĉo al branĉo — A criança
rolou (= foi rolando) de galho em galho. La infano sin ruladis sur la lito — A
criança rolava no leito. Mia ĉapo deflugis de mia kapo kaj pendiĝis sur arbo —
Meu gorro voou de minha cabeça e ficou pendurado numa árvore. Laca de la vivo,
li pendigis sin sur arbo - Cansado da vida, enforcou-se numa árvore.
La limako
malrapide sin trenis sur la tero - A lesma lentamente se arrastava pelo chão.
La horoj treniĝadis maldiligente — As horas se arrastavam preguiçosamente.
Nestes exemplos
pode perceber-se que, se foi o próprio indivíduo que executou a ação sobre si
mesmo, com o seu próprio esfôrço, por sua vontade, a forma usada foi a composta
do verbo com o pronome sin: tem-se, então, um verdadeiro “reflexo”; os verbos
com iĝ dizem que a ação foi independente do sujeito, foi involuntária: é a voz
chamada “média” ou “medial”.
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