A minha
família, Senhor, é um pequeno jardim plantado entre as tribulações do mundo e
onde colho, diariamente, as flores da alegria e as bênçãos do refazimento.
Quando juntos, a vida corre harmoniosa e serena qual se fôssemos um pequeno
mundo à parte, isolados do torvelinho humano pelos laços inquebrantáveis da
simpatia, do carinho e da compreensão mútua... No entanto, sei que tudo se
transforma, se altera, se dilui e se recompõe nem sempre da forma como
desejamos. Aqueles que eu amo, Senhor, hoje amparados em meu coração pelos
laços de sublime afeto, amanhã poderão se encontrar em experiências das quais
não me será permitido fazer parte... Enfrentarão, talvez, tempestades e
angústias que não poderei aplacar, por mais queira; encontrarão desenganos que
meus cuidados serão incapazes de afastar e conhecerão, quem sabe, pessoas que
os levarão para longe de mim, deixando um ninho vazio e lembranças, apenas, de
um tempo feliz e melhor...
Hoje, quando
olho para minha família e me embriago entre afagos e carícias, não devo mais
esquecer que eles, assim como eu, Te pertencem, para que Tu, Divino Condutor,
os guie pelos caminhos que melhor lhes auxiliem a evolução, caminhos estes que
nem sempre serão os meus caminhos... Por isso, embora grato pela felicidade que
me proporcionastes ao permitir que tantos corações queridos renascessem junto
de mim, rogo-lhe não permita que o egoísmo me isole com eles em meu ninho de
amor, transformando-os em bonecos de deliciosa manipulação e fazendo-os sofrer
mais tarde, quando o vento da provação afastar para bem distante a minha
possibilidade de protegê-los, agravando com isso os sofrimentos que por ventura
venham a experimentar. Rogo-lhe, Senhor, igualmente, que eu jamais deixe de
anotar junto a mim os outros irmãos de jornada, nem sempre aquinhoados pela
mesma sorte, a vagar desprovidos do pão da ternura e do bálsamo do amor e da
compreensão. Abra meus olhos, Pai, para a vida em torno, a fim de que eu
assinale a presença de tantas outras almas merecedoras de todo o meu carinho e
atenção, do modo como eu dispenso carinho e atenção aos meus familiares, para
que um dia, quando chegar o momento de entregar os meus amados à vida, eu não
sucumba, infeliz e vazio, entre o remorso, a saudade e a solidão.
Assim seja!
André Luiz / Chico Xavier.
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