- I -
O jovem de riso
triste,
Entregue à
prostituição,
Teu drama tem
mil raízes,
Que antecedem a
Platão...
Já na História
Religiosa,
Tu surges,
voluptuosa,
Frente aos
deuses de granito...
Desde o culto de
Astarté,
Tu bailavas nua,
até,
Na Fenícia e lá
no Egito!
– II –
Na Índia – o
culto de Falo,
De Siva – o deus
de dois sexos,
Nos grandes
ritos eróticos
Deixavas deuses
perplexos...
Na imensa
Mesopotâmia
Rolavas na mesma
infâmia,
– Em templos de
Babilônia!
Estas no culto a
Milita...
E nos ritos de
Afrodita,
Deusa lúbrica da
insônia!
– III –
Também nos
templos de Baco,
E outros deuses
imorais,
– Mercúrio,
Vênus ou Lesbos,
Dançavas nas
saturnais!
Eras então a
deidade
Da eterna
fecundidade...
A prostituta
sagrada!
Alugavas os teus
dotes
Por ordem dos
sacerdotes,
– Nos templos,
não na calçada!
– IV –
Depois, os
cínicos bonzos,
De um modo um
tanto poltrão,
Mandaram fosses
às ruas
Fazer a
prostituição...
E casas de
tolerância
São erguidas com
abundância
No vasto Império
de Roma!
Mulher,
prazeres, bebida!
Eis a bandeira
da Vida!
– A ruína de
Sodoma...
– V –
E moças de pele
branca
São vendidas no
mercado;
Todas menores de
idade,
Como rebanhos de
gado!
Muitas são
filhas de escravos,
As outras, de
pais ignavos;
Enchem-se mil
lupanares!
Surge Calígula,
então,
E explora a
prostituição
Com taxas bem
singulares!
– VI –
Ó jovem de riso
triste,
Teu romance é
bem complexo;
Vem de longe a
grande rede,
Que explora os
vícios do sexo!
Passa o tempo,
ano após ano,
E cai o Império
Romano!
Estamos na Idade
Média...
Sangrando em
terríveis noites,
Terás torturas e
açoites
Em satânica
tragédia!...
– VII –
E em caso de
reincidência,
Terás a
mutilação,
Do nariz e das
orelhas!
– Eis a Lei de
Repressão!
Fizeram de ti um
rato
Fugindo às
garras do gato
No esterqueiro
medieval...
Prisão – em meio
ao excremento!
Açoite – ao
invés de argumento!
Abuso – ao invés
de Moral!
– VIII –
Mas o comércio
não pára?
Problema sem
solução?
A fome enfrenta
o pudor?
Aumenta a
prostituição?
E o Governo, teu
parceiro,
Enche os cofres
de dinheiro,
Com o Ministro
da Fazenda...
Não combate teu
comércio,
Mas pagarás o
sestércio!
– Quer teu
imposto de renda!
– IX –
Alicerces estão
podres
Da Sociedade
atual...
Tornou-se
ridículo o Homem
Quando fala
contra o Mal...
Olhai a culta
Paris!
Exploram a
meretriz
Mais de
trezentos hotéis!
E há casas
clandestinas
Que recebem só
meninas!
Multiplicam-se
os bordéis...
– X –
Ó jovem de riso
triste,
Já enferma e sem
ilusão,
Lamento ver-te a
vagar
No lodo da
perdição...
Nasceste em um
ambiente
Pobre, cruel,
negligente,
Onde faltava
ternura...
E veio o
primeiro engano!
Então, traçaste
o teu plano!
Dinheiro! Amor!
Aventura!
– XI –
Mas era inda
criança!
E vivias na
penúria...
Quem te trouxe
às ruas, praças,
Não foi jamais a
luxúria!
Não tinhas
educação!
Não te deram
profissão!
E o mundo a te
cobiçar...
E o hoje o mundo
critica,
O Brasil, a
Martinica,
Quando vais pro
lupanar!
– XII –
Mas muitos que
te criticam,
Procuram teu
leito imundo,
E dizem-te belas
frases,
Como qualquer
vagabundo...
Talvez o próprio
Juiz
Procure uma
meretriz
Nas horas mortas
da noite...
E depois
proclama as penas
Para as murchas
açucenas:
Dá-lhes três
dúzias de açoite!
– XIII –
Pobre jovem de
olhar triste,
Presa no mundo
dos vícios,
Quantas de tuas
amigas
Hoje dormem nos
hospícios!
Exploraram-nas
vadios,
Homens com falta
de brios,
Traficantes,
jogadores!
Vida tranqüila?
– Quimeras!
Que nesse meio
de feras,
Há olhos
aterradores!...
– XIV –
Ó moças
agrilhoadas
No duro viver
malquisto,
Lembrai-vos de
Madalena
Libertada pelo
Cristo!
Há Espíritos
burlescos
Envolvendo-vos,
grotescos,
E o jogo não
percebeis!
Que desça do Céu
a Luz!
Socorrei-vos de
Jesus!
– E honrai a
Tábua das Leis!
Castro Alves / Jorge
Rizzini
Livro: Antologia
do Mais Além.
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