O ser humano
sente a necessidade da liberdade de pensar e agir como inerente a si mesmo.
Essa inclinação
à liberdade decorre da própria natureza do Espírito, criado simples e
ignorante, mas dotado de vontade, inteligência, instinto e livre-arbítrio.
É curial que,
simples e ignorante, sua liberdade é limitada pela sua condição. Não se pode
conceber uma criatura limitada dotada de qualidades sem limites.
À medida que o
ser cresce, ampliam-se seus poderes, na mesma proporção.
A liberdade
individual aumenta com o crescimento intelectual e moral do Espírito, mas o
homem nunca poderá jactar-se de gozar da liberdade absoluta. (“O Livro dos
Espíritos”- q. 825).
A melhor forma
de conceber-se a liberdade consiste em vinculá-la sempre à responsabilidade que
lhe corresponde.
Desde que o
homem vive na Terra tem exercitado seu livre-arbítrio, mesmo sem a noção clara
do que ele representa.
O homem das eras
primitivas e o indivíduo brutalizado e ignorante dos dias atuais jamais
deixaram de gozar de certa liberdade, limitada pelo determinismo da lei divina.
Mesmo as
múltiplas formas de escravidão jamais conseguiram dominar a liberdade do
pensamento íntimo do escravo, “pois que não há como pôr-lhe peias.”
É de grande
profundidade o ensino dos Espíritos Superiores, a partir do século passado,
quando trataram da Liberdade como lei moral.
Se comparado o
que ficou consignado em “O Livro dos Espíritos” a respeito da liberdade de
consciência e da liberdade de pensar, com o que ficou consagrado na “Declaração
Universal dos Direitos do Homem”, cerca de um século depois, verifica-se que a
idéia espírita influiu e está presente no importante documento das Nações
Unidas, para o bem da Humanidade.
Resta buscar-se
a conscientização de todas as populações terrestres para a aceitação e a
prática de princípios fundamentais, inalienáveis, inerentes à natureza do homem.
*
O clamor pela
liberdade acentua-se na época moderna, após o fim da
Idade Medieval, com o Renascimento, o
Iluminismo do século XVIII e a
Revolução Francesa.
Os séculos XIX e
XX foram de lutas e de consolidação em prol das idéias libertadoras.
Usos, costumes,
abusos, predominância do mais forte, preconceitos contra a mulher, ignorância a
respeito de sua própria natureza, instituições absolutistas e autocratas
predominaram por milênios na vivência do homem na Terra.
Apesar do
chamamento das vozes dos grandes missionários de todos os tempos, o cultivo da
liberdade, para se firmar, necessitou a necessita da evolução e do progresso
dos conhecimentos e dos sentimentos humanos, para afirmação de uma consciência
mais esclarecida.
Somente após
consolidadas determinadas conquistas intelectuais e morais, pôde o homem
compreender o verdadeiro sentido de apelos como o do filósofo grego – “Homem,
conhece-te a ti mesmo” – ou do Cristo – “Conhecereis a verdade e a verdade vos
libertará”.
De outro lado, a
Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus, somente poderia ser
recebida e firmar-se em um mundo já liberto, pelo menos em parte, do
autoritarismo, do absolutismo e do fanatismo autocrático.
Por isso é que o
Espiritismo, como idéia e como doutrina consolidada e codificada só veio ao
mundo em meados do século das luzes, quando considerável parcela da Humanidade
estabeleceu em sua legislação princípios fundamentados na liberdade de pensar e
na liberdade de consciência, apesar da oposição sistemática dos opressores
políticos e religiosos.
O escravagismo,
o absolutismo e o fanatismo, formas de dominação do homem pelo homem,
encontraram nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade oposições firmes
e lúcidas em favor das reformulações nas organizações políticas e sociais.
Esses esforços
de libertação, preparados nos dois último s séculos, dos quais a Doutrina dos
Espíritos é um exemplo claro, tendem a espraiar-se no próximo futuro.
Torna-se
necessário conduzi-los com equilíbrio e sabedoria para que não haja
retrocessos.
A liberdade,
esse bem inefável, não deve ser entendida em termos absolutos que ela não
comporta, mas com as limitações naturais da responsabilidade, repetimos.
Liberdade
absoluta para todos seria o império do caos e dos maus.
À liberdade deve
ser entendida em termos de realização do Bem, não do mal.
Ela está
vinculada ao determinismo divino no sentido do Bem, da
Perfeição, do Amor.
Por isso não se
justificam, em nome da liberdade, as trangressões morais de todas as ordens, os
crimes, as práticas desagregadoras da família e da sociedade, a
irresponsabilidade dos meios de comunicação, e da mídia, o coletivismo
opressor, o individualismo irresponsável, enfim, todas as manifestações do mal.
Não se confunde
pois, a liberdade, apanágio do homem para a realização do Bem, com a
licenciosidade, que a criatura invoca como se fosse liberdade, para pensar e
realizar o que bem entende, mesmo que contrário ao estabelecido nas leis de
Deus e de César.
O mal é criação
dos homens e não dos princípios que eles pretendem encarnar e defender, em nome
da liberdade.
*
A Doutrina
Espírita está profunda e estreitamente vinculada à liberdade, no sentido que
procuramos evidenciar neste pequeno trabalho.
Os espíritas
estudiosos convencem-se dessa verdade, que é axiomática.
Na divisão das
leis morais os Espíritos Reveladores dedicam um capítulo inteiro à Lei de
Liberdade.
Modernamente, a
liberdade está na cogitação das massas humanas, dos governos, das organizações
e instituições humanas, das religiões, das filosofias.
Mas é preciso
segurança no entendimento do que seja liberdade, para não confundi-la com
licença para tudo.
A Doutrina nos
dá essa segurança, mostrando-nos os erros em torno da natureza e dos objetivos
da lei divina da liberdade.
A liberdade é
alcançada pelo trabalho digno, pelo amor, pela justiça e pela caridade.
Tanto mais livre
será o Espírito quanto mais progredir no conhecimento das verdades eternas e na
conquista das virtudes.
O erro é vínculo
com a escravidão e com o mal e com tudo que afasta o homem da abnegação e do
devotamento aos semelhantes, ou seja, de tudo o que o afasta da justiça, do
amor, da caridade, da solidariedade, da fraternidade.
A liberdade, no
Movimento Espírita, é a vivência da compreensão mútua por todos, é o auxílio e
o apoio recíprocos, no terreno físico ou no moral.
É também a
humildade em ação, o combate permanente à vaidade, ao egotismo, ao
personalismo, como preocupação permanente do adepto sincero.
É o respeito à
lei divina e às leis humanas para promoção da paz e da concórdia no seio da
sociedade.
O Cristo é o
libertador de todos os que seguem sua Mensagem e aquele que conquista essa
liberdade é digno de gozá-la.
REFORMADOR - REVISTA
DE ESPIRITISMO CRISTÃO
ANO 117 /
NOVEMBRO, 1999 / Nº 2.048
Fundador:
Augusto Elias da Silva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário