Se perdoardes
aos homens as ofensas que vos fazem, também vosso Pai celestial vos perdoará os
vossos pecados. Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos
perdoará os vossos pecados". - Jesus / Mateus,
VI: 14-15
De 14 a 16 de
janeiro/2000 foi realizado, em São Paulo, um seminário com Divaldo Pereira
Franco, sobre o perdão. Registramos aqui algumas das reflexões sobre o
importante tema, como foram colocadas no aludido evento:
O perdão na
visão da Psicologia profunda é dar o direito de cada um ser como é. E também a
nós o direito de sermos como somos. Se o próximo é assim, não nos cabe
modificá-lo, mas se estou assim, tenho dever de modificar-me para melhor. Não
posso impor-me ao outro, porque minhas palavras serão apenas propostas. Eu que
estou desejando ser feliz tenho a psicologia da minha autotransformação. E
nunca devolverei mal por mal; procurarei sempre retribuir o mal com o bem. Se o
outro é um caluniador, não posso me permitir ser igual a ele. Toda vez que fico
com raiva a pessoa está me manipulando, e eu não deixo ninguém me manipular.
Não posso permitir que um desequilibrado me oriente. Sou eu a pessoa saudável;
não devo dar a ele a importância que se atribui. Devo olhá-lo como um terapeuta
olha um doente. Se tenho uma visão diferente da vida, e se desejo transmitir
esta visão, é nobre; mas não posso esperar que o outro a acate, porque ele está
em outro nível de evolução. Devo dar o direito ao outro de ser inferior, se isto
lhe agrade. Se achamos que ele nos ofendeu, a nossa é uma situação simpática.
Se ele nos caluniou, tanto eu como ele sabemos que é mentira dele. Se nos
traiu, somos a vítima e ele sabe que é nosso algoz. Então o problema é da
consciência dele. Não devemos cultivar animosidade, e sim perdoar. Não ficarmos
manipulados, dominados pelo ódio, odiando também.
Esquecer é outra
coisa. Na luz da Psicologia profunda o perdão não tem nada a ver com o
esquecimento. Na visão espiritualista o perdão é o total esquecimento. São dois
pontos diferentes. Não devolver o mal depende de mim; esquecer depende da minha
memória. Muita coisa eu queria esquecer e simplesmente não esqueço. Se dou um
golpe num móvel e causou uma lesão nos tecidos da mão, essa lesão só vai desaparecer
com o tempo, quando o organismo se recompor. Eu posso reconhecer que não devia
ter feito, mas esse reconhecimento não tira o dano que causei. À luz da
Psicologia profunda, o perdão é exatamente não devolver o mal. Tenha a raiva,
mas não a conserve que faz muito mal. Á predominância da natureza animal, sobre
a espiritual, questão 742 do Livro dos Espíritos. Sentimos o impacto e não
temos como evitar a raiva, é fisiológico, reagimos no momento. Mas conservar a
mágoa é da minha vontade. Se eu conservar a mágoa tenho um transtorno
psicológico, sou masoquista, gosto de sofrer. É tão maravilhoso quando a gente
ouve: Coitado! E aí fica pior. O outro vai embora e a gente fica aquele
depósito de lixo, intoxicando-se. O racional é nos libertarmos de tudo que nos
perturba. Somos seres inteligentes e possuímos os mecanismos de libertação.
Geralmente
dizemos: Mas ele não devia ter feito isto comigo. Mas fez, o problema é dele.
Quem rouba, quem furta é que é o ladrão. Já está encarcerado na consciência
culpada. A visão psicológica do perdão é diferente da visão espiritualista do
perdão. Como seres emocionais sentimos o impacto da agressão, mas não devemos
nos revoltarmos, e trabalhemos para esquecer.
A medida que
formos trabalhando, a mágoa, a ofensa, vai perdendo o significado. A medida que
vamos descobrindo nossos valores, ela vai desaparecendo. Quando estamos de bom
humor, ouvimos até desaforo e dizemos: "Sabe que você tem razão?"
Quando levantamos de mau humor, só de a pessoa nos olhar, perguntamos: "Qual
é o caso?" Não é o ato em si; é conforme nós recebemos o ato."
Divaldo conta o caso de alguém que, na festa de aniversário, recebeu de uma
pessoa que não gostava dela, como presente, um vaso de porcelana, com um
bilhete: "Recebe o meu presente, e dentro dele o que você merece".
Dentro dele havia dejetos humanos. No aniversário da pessoa que havia enviado
tal "presente", o nosso personagem lhe enviou o mesmo vaso, com os
dizeres: "Estou devolvendo o vasilhame. O seu conteúdo coloquei num pé de
roseira, e estou lhe enviando as rosas que saíram dali". É um ato de
perdão, devolver em luz o que se recebe em trevas.
O esquecimento
somente vem quando a memória se encarrega de diluir a impressão negativa, o que
demanda tempo, reflexão e auto-superação.
Perdão não é
conivência com a coisa errada. Quando uma pessoa me agride, eu não estou de
acordo com ele; simplesmente não estou contra ele. Se meu filho age
erradamente, está aturdido emocionalmente, é ingrato, faz tudo quando me
desagrada como se fosse de propósito, eu não estou de acordo, é lógico. Mas eu
não posso ficar contra ele. Porque mais do que nunca ele precisa de mim; ele
está doente. Não é normal, isto é, não é saudável uma atitude assim. Mas então
eu tenho o direito de me sacrificar? Sim, se aceitou a maternidade, a
paternidade, não há condição difícil. Ser co-criador é ser co-participador.
Será que Deus nos abandona toda vez que somos ingratos para com ele? que
blasfemamos, que fazemos tudo quanto não devemos? Então o perdão não é
conivência com a coisa errada. Não é uma atitude para fingir que tudo está bem.
Alguém nos prejudica e nos pede desculpa. Respondemos: "Ok! mas ele me
paga". É melhor enfrentar a realidade. Quando alguém nos disser "me
desculpe", responderemos "Não posso. Hoje, eu não posso. Estou muito
magoado". A gente diz: "eu te perdôo!" e no outro dia amanhece
com dor de cabeça, porque não digeriu. O que devemos é não devolver o mal que
nos foi feito. A pessoa nos diz uma palavra grave, e nós conseguimos segurar.
Aí ela diz "você me desculpe, eu não tive a intenção... Você vai
perdoar?" — Estou pensando. — Mas então não perdoa? você não é espírita?
sou espírita, mas, agora, não tenho condição de perdoar, agora me dê licença...
Geralmente, dizemos: "Perdôo de todo o meu coração"; perdoa, mas com
ele nunca mais. E ainda pensamos: "Quem me fizer, faça bem feito, porque
não vai ter outra oportunidade". Entretanto, o meu problema não é com ele,
é comigo. Seja gentil com você. Se eu me permito viver magoado, ressentido,
sofrendo, como vou amar o outro? Eu mereço ter uma vida melhor. Ao chegar ao
escritório: "Bom dia!", o outro responde: "não vejo porque seja
tão bom assim". Não nos ofendermos com isso; se ele está de mau humor é
problema dele, A doença do mau humor requer tratamento psiquiátrico.
Seja gentil com
você. Ame-se. Não permita que ninguém torne sua vida insuportável, nem para
você, nem para os outros.
Divaldo conta o
caso da pessoa que foi visitar um hospital de doentes mentais e lhe chamou a
atenção, o psiquiatra. Noventa por cento dos agitados passavam perto do
psiquiatra, uns diziam: Dr. já estou curado; ele respondia: Ok!; outros falavam
absurdos, e ele ouvia, silenciava, ou concordava, e continuava a caminhada. No
final, o visitante perguntou o por que da atitude dele, ao que respondeu: Eu
sou saudável, não posso me atingir com o que dizem ou fazem, pois são
doentes... E aí podemos perguntar: Será que a Terra não é um grande
hospital?...
A pessoa
saudável não faz o mal conscientemente a ninguém. Mas quando está de mal
consigo, agride o outro. Então seja gentil com você; seja honesto; está com
raiva, admita. Estou magoado, etc. Reprimir esses ressentimentos vai ficar lhe
prejudicando. Digira sua raiva; digira o ressentimento. Não os mantenha.
Necessário deixar cicatrizar; às vezes fica uma cicatriz e é necessário uma
cirurgia.
Devemos nos
empenhar em descobrir os nossos pontos vulneráveis. E Divaldo narra uma
experiência pessoal. "Depois de anos de auto-análise, descobriu alguns
pontos vulneráveis e começou a trabalhar esses pontos. Notou que atendendo o
público, às vezes ficava irritado. E descobriu que o ponto vulnerável era o
cansaço. Quando ia ficando cansado perdia um pouco a lucidez. O autógrafo é a
oportunidade de ter um contacto com as pessoas. Alguns são tímidos, não chegam
para conversar, pensam que vai incomodar. Mas o atendimento às vezes é
prolongado. Começa 18h30 e vai até 1h30, 2h da manhã ainda está em pé. Quando a
fila estava grande, ficava ansioso. Fez sua autoterapia: Está ali porque quer;
faz porque gosta. Certo dia, uma senhora, o anjo bom, lhe disse: "Pelo
menos me olhe". O sangue subiu, voltou. — Muito obrigado, porque a senhora
acaba de me ajudar. "Como me fez bem. Descobri o ponto vulnerável".
Devemos dar o
direito de a pessoa ser agressiva, mas não nos dar o direito de revidar a
agressão. A raiva é semelhante a uma labareda, ou um raio. Pode provocar danos
incalculáveis. É inesperada. O rancor é calculado. É necessário que aprendamos
a colocar um para-raio e evitemos os tóxicos do rancor. Porque esse rancor nos
dá prazer. Observamos mesmo entre os companheiros espíritas. Quando alguém que
não lhe é simpático sofre algum dano, algum sofrimento, a pessoa diz: "Ah!
já esperava. Quando não faço, Deus faz por mim". Deus é pai dele; do outro
só é padrasto.
Não tenha prazer
na infelicidade de alguém. Se devemos ter compaixão de quem sofre, devemos
sentir prazer com a felicidade dos outros. Por seu intermédio, Bezerra de
Menezes fez uma prece em que pede em favor dos que fazem os outros sofrerem.
Geralmente pedimos pelos que sofrem, mas os que fazem sofrer estão em situação
pior. Geralmente, quando alguém progride nós temos inveja. Deus sabe como ele
conseguiu tal coisa. Devemos alegrar-nos com o triunfo dos outros. É uma forma
de perdoar a vida, por não nos haver dado aquilo que outro recebeu. Saúde,
sucesso financeiro, são responsabilidades, provações.
Autor: José Argemiro da Silveira
Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de
2000
http://www.oespiritismo.com.br
Estudando O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec
Guerras
742. Que é que
impele o homem à guerra?
Resposta: Predominância
da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões.
No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem - o do mais forte. Por
isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o
homem progride, menos freqüente se torna a guerra, porque ele lhe evita as
causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.”
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