Circuncisão
Circuncisão
masculina é a remoção do prepúcio do pénis humano. No procedimento mais comum,
o prepúcio é aberto, as aderências removidas e a pele separada da glande.
Posteriormente é colocado um grampo próprio para estabilizar o pénis e a pele
do prepúcio é cortada. O procedimento também pode ser realizado sem um
instrumento próprio. Para diminuir as dores e a ansiedade pode por vezes ser
usada anestesia local ou de aplicação tópica, embora a anestesia geral seja
também uma opção em adultos e crianças. Na maior parte dos casos, a circuncisão
é uma cirurgia planeada e realizada em bebés e crianças por motivos culturais e
religiosos. No entanto, em alguns casos pode ser realizada como tratamento
médico para uma série de doenças, entre as quais casos problemáticos de fimose,
infeções crónicas do trato urinário e balanopostite que não responda a outros
tratamentos. No entanto, está contra-indicada em casos de determinadas
anormalidades da estrutura genital ou má condição física geral.
A circuncisão no
geral está associada à diminuição da incidência de formas cancerígenas do vírus
do papiloma humano e à diminuição do risco de infeções do trato urinário e de
cancro do pénis.No entanto, a prevenção destas condições não justifica a
circuncisão de rotina em crianças.Os estudos sobre potenciais efeitos
protetores contra outras doenças sexualmente transmissíveis ainda não foram
conclusivos. Uma revisão de 2010 verificou que as circuncisões realizadas por
médicos apresentavam uma taxa de complicações de 1,5% em bebés e 6% em crianças
mais velhas, com alguns casos de complicações graves. Entre as complicações mais
comuns estão hemorragias, infeções e a remoção de demasiada ou insuficiente
pele do prepúcio. As taxas de complicações são maiores quando o procedimento é
efetuado por alguém inexperiente, em condições de pouca higiene ou quando a
criança é mais velha. A circuncisão não aparenta ter impacto negativo na função
sexual.
As evidências
sustentam ainda que a circuncisão masculina diminui o risco de infeção por VIH
entre homens heterossexuais na África subsariana. No entanto, as evidências de possíveis
benefícios para homossexuais masculinos são menos claras. Além disso, a eficácia de usar a circuncisão
como método de prevenção do VIH em países desenvolvidos ainda não está
esclarecida. Por este motivo, a Organização Mundial de Saúde recomenda que a
seja considerado o recurso à circuncisão como parte integrante de programas de
prevenção de VIH em regiões com elevada prevalência de VIH, como na África
subsariana. Com a exceção da posição da OMS para regiões com elevada
prevalência de VIH, as posições das principais organizações de medicina do
mundo em relação à circuncisão planeada de bebés e crianças variam, desde
aquelas que que consideram que não apresenta benefícios ao mesmo tempo que
apresenta riscos significativos, até às que consideram que apresenta alguns
benefícios de saúde que superam eventuais pequenos riscos. Nenhuma das
principais organizações de saúde recomenda nem a proibição da prática, nem a
circuncisão universal de todas as pessoas do sexo masculino.
Estima-se que
cerca de um terço dos homens em todo o mundo seja circuncidado. A prática é comum no mundo islâmico, nos
Estados Unidos, em partes do sudeste asiático e de África, e em Israel onde é
praticamente universal por motivos religiosos. Por outro lado, é relativamente
rara na Europa, na América Latina, em partes do sul de África e em grande parte
da Ásia. Desconhece-se com precisão a origem da circuncisão. O mais antigo
documento escrito é proveniente do Antigo Egito. A circuncisão entre bebés e
por motivos que não sejam de saúde está na origem de um debate ético sobre
questões de consentimento informado e direitos humanos, sendo por isso um
procedimento controverso. Têm sido propostas várias teorias para a sua origem,
incluindo como forma de sacrifício religioso ou um rito de passagem que marca a
entrada de um rapaz na idade adulta. No Judaísmo, a circuncisão faz parte da
lei religiosa e é uma prática comum entre muçulmanos, cristãos coptas e
ortodoxos etíopes. O termo "circuncisão" tem origem no latim
circumcidere, que significa "cortar à volta".
Origem e fatores
culturais e religiosos.
Em algumas
culturas a circuncisão no início da puberdade é rito de passagem masculino que
marca, ou originalmente marcava, a maioridade, e manteve-se como tradição
cultural atualmente desvinculada de aspectos sociais e jurídicos, como na
Turquia e povos do nordeste da África. Como muitos dos ritos de passagem
masculinos, era um exercício e uma prova de estoicismo, por ser feita sem
lenitivos em região de alta sensibilidade tátil. Serve ainda como um sinal
identitário permanente, como prova de pertencimento a um grupo social ou
religioso.
Na cultura
judaica.
Embora alguns
acreditem que os hebreus tenham assimilado a prática da circuncisão dos
egípcios, não há sinais consistentes que apoiem essa teoria. O mais provável é
que os próprios hebreus tenham, em suas raízes mais remotas da época
patriarcal, inserido tal prática em seus costumes de maneira independente a
quaisquer outros povos, mantendo a tradição em suas práticas religiosas até à
presente época.
No Antigo
Israel, a circuncisão tinha de ser realizada no 8.º dia do nascimento. Tem o
sentido de um sinal da aliança entre Deus e Abraão e seus descendentes e de um
rito de inserção no povo eleito. Deus terá tornado obrigatória a prática da
circuncisão masculina para Abraão, um ano antes de nascer Isaque. Todos os
homens da casa de Abraão, tanto seus descendentes como dependentes, estavam
incluídos, e todos os escravos receberam em si este «sinal do pacto», com o
qual entregavam a Deus a sua aliança de carne (anel prepucial), mostrando a
reciprocidade deste ato de fé no corpo (Levítico).
A circuncisão
torna-se um requisito obrigatório na Lei dada a Moisés (Levítico 12:2-3). Isto
era tão importante que, mesmo que o 8.º dia calhasse no sabá, a circuncisão
teria de se realizar. No primeiro século da Era Cristã, era costume social entre
os judeus dar nome ao recém-nascido do sexo masculino no momento da
circuncisão. Mas os profetas do Antigo Testamento mostravam que mais importante
do que a circuncisão literal é a circuncisão figurativa ou «circuncisão do
coração» (Deuteronômio 10:16; Deuteronômio 30:6; Jeremias 4:4; Jeremias 9:25).
Aos judeus insensíveis às palavras dos profetas chama-se figurativamente
«incircuncisos» (Jeremias 6:10; Atos 7:51).
Sempre no oitavo
dia.
«Com base na
consideração das determinações de vitamina K e de protrombina, o dia perfeito
para se realizar uma circuncisão é o oitavo dia» (citação de «Nenhuma Dessas
Doenças», Dr. S. I. McMillen, 1986, pág. 21, em inglês). Seguir esta regra
ajudava a evitar o perigo de uma grande hemorragia. A circuncisão era
usualmente feita pelo chefe de família. Mais tarde, passou-se a recorrer a uma
pessoa especialmente preparada. Um mohel, no caso dos judeus, geralmente um
médico, circuncidador, ou então uma pessoa que tenha conhecimento da cirurgia, e
das rezas realizadas, no processo. Deus instituiu este ato para distinguir o
seu povo de outros povos, sendo que o homem deveria obedecer ao mandado Dele.
Uma outra interpretação aponta para uma prática de higiene, para poupar o povo
a doenças indesejáveis, tornando-a uma prática de fé.
A circuncisão de
Jesus.
De acordo com a
Bíblia, completados os oito dias que determina a tradição judaica, Jesus Cristo
foi apresentado ao templo de Jerusalém por sua família para ser circuncidado,
quando então foi abençoado por Simeão e Ana. O prepúcio retirado de Jesus é
conhecido como prepúcio sagrado. Considerado uma relíquia ao longo da história,
sua posse foi reclamada ou contestada por diversas igrejas e catedrais. Há
vários milagres e poderes atribuídos a esta relíquia, muito cobiçada no período
medieval.
Influência da
cultura grega.
A influência da
cultura grega começou a predominar no Médio Oriente e culminou no abandono da
circuncisão por muitos povos. Mas, quando o rei sírio Antíoco IV Epifânio
proscreveu a circuncisão, deparou-se com mães judias dispostas antes a morrer
do que a negar aos seus filhos o «sinal do pacto». Anos mais tarde, o imperador
romano Adriano (117-138) obteve a mesma reação quando proibiu aos judeus
circuncidar seus recém-nascidos. No intuito de evitar zombaria e ridículo,
alguns atletas judeus que desejavam participar nos jogos helenísticos
procuravam tornar-se «incircuncisos» por meio de uma operação destinada a
restabelecer certa semelhança de prepúcio.
A circuncisão e
o cristianismo.
Com a fundação
do Cristianismo, a circuncisão deixou de ser um requisito religioso obrigatório
para os judeus cristãos, embora não fosse expressamente proibida (Atos
15:6-29). A perspetiva da Igreja Católica é contrária à circuncisão (rito
judaico) desde os primeiros dias. Conforme o Papa Eugênio IV oficializou na
Bula de União com os Coptas, de 1442, a Igreja manda a todos os seus fieis que
«…não pratiquem a circuncisão, seja antes ou depois do batismo, pois, ponham ou
não sua esperança nela, ela não pode ser observada sem a perda da salvação
eterna»
Circuncisão como
medida profilática
Circuncisão no
mundo.
Os defensores da
circuncisão afirmam que existe um valor prático na circuncisão masculina, como
ato médico. E também como medida de higiene já que impede a acumulação de uma
secreção genital chamada esmegma, no espaço entre a glande e o prepúcio que a
recobre. Se não for removido, o esmegma torna-se mal cheiroso e campo de
cultivo de bactérias, que causam grande irritação e são foco de infeções[carece
de fontes]. O esmegma acumula-se também no clitóris e nos pequenos lábios, o
que justificaria a combatida circuncisão ou mutilação genital feminina. É
realizada em certos casos de fimose e parafimose ou quando a glande masculina
não pode ser libertada. Para estes últimos casos, existe, como alternativa à
circuncisão, uma terapia local de creme esteroide que parece ser eficaz; e,
mesmo quando esta falha, há ainda a prepucioplastia, uma cirurgia que corrige o
prepúcio sem o remover.
Excessivamente
longo prepúcio pode ser uma indicação para a circuncisão.
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