“O reino dos céus é semelhante a um tesouro que, oculto no campo, foi achado e escondido por
um homem, o qual, movido de gozo, foi vender tudo o que possuía e comprou
aquele campo.
É semelhante,
ainda, a um negociante que buscava boas pérolas, e, tendo achado uma de grande
valor, foi vender tudo o que possuía e a comprou.” Jesus / Mat. 13:44-46
Nestas duas
parábolas tão singelas quão expressivas, Jesus compara o reino dos céus a “um
tesouro oculto no campo” e a “uma pérola de grande valor”, dizendo que aquele
que tem a ventura de achá-los, é tomado de tal gozo que não titubeia em dispor
de todos os seus haveres para adquiri-los.
Esse tesouro ou
essa pérola, é bem de ver-se, não é senão a alma humana. “O reino dos céus está
dentro de vós”, dissera de outra feita o Divino Mestre, deixando bem claro que
o reino celestial significa, não um lugar no espaço, mas algo que se verifica
no íntimo de cada um.
Geralmente,
procura o homem edificar a felicidade sobre as posses materiais, a ascendência
social, a fama ou a saúde, mas estas coisas são precárias e incertas, pois
podem durar, no máximo, uma existência, enquanto um terremoto, uma enchente, um
incêndio, os azares da fortuna, uns micróbios em seu sangue ou determinado
humor em seus fluidos orgânicos não as arruinarem por completo.
Jazem ocultas, a
milhões de criaturas, coisas mais belas e grandiosas: os bens espirituais, que
são, aliás, os únicos valores reais e duradouros, ante os quais aquilo tudo
pouco ou quase nada importa.
Possuir esses
bens espirituais, as virtudes cristãs, é conquistar o reino dos céus, porque o
conhecimento e o amor de Deus nos fazem desfrutar tal estado de paz e de
alegria que nada e ninguém conseguirá destruir ou perturbar.
Por isso, como
diz a parábola, quando alguém “descobre” no campo de si mesmo esse tesouro de
tão subido valor, que é a própria alma, e a sabe imortal, e fadada a alcançar o
mais excelso destino: sua integração à única Realidade Absoluta — Deus! — todas
as ilusões da materialidade, todas as gloriosas do mundo, e até mesmo o
bem-estar do corpo físico, se tornam de somenos importância. E tão, cheio de
júbilo, sabendo que a felicidade verdadeira depende, não daquilo que se tem,
mas daquilo que se é, vai “vender tudo o que possui”, isto é, desprender-se das
pseudo-propriedades e distinções terrenas, para cuidar precipuamente do
enriquecimento de sua Consciência Espiritual, a mais preciosa das pérolas, cuja
posse vale o sacrifício de todos os bens de menos valor, de tudo aquilo que
considerava importante e valioso em sua vida.
*
Não se entenda,
o que seria errôneo, que a posse dos valores espirituais seja incompatível com
a posse das coisas materiais. Não. O que se quer salientar é que para o nosso
progresso espiritual faz-se mister vivermos mais intensa e sinceramente em
função dos ideais superiores, dedicando-lhes maior atenção do que às aquisições
materiais, que devem constituir-se apenas um meio de realizarmos os nossos
objetivos, e não um fim em si mesmo.
Quem se disponha
a assim proceder, sobrepondo os interesses da alma a quaisquer outros, não deve
temer que lhe venha a faltar o necessário à subsistência, porquanto Jesus nos
assevera, no seu Evangelho, que, “se buscarmos primeiramente o reino de Deus e
a sua Justiça, todas as outras coisas nos serão dadas por acréscimo”.
Livro: PARÁBOLAS
EVANGÉLICAS
RODOLFO
CALLIGARIS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário