A avareza, ou
seja, o apego exagerado aos bens terrenos, é um resquício de animalidade que o
homem, malgrado séculos e séculos de civilização, ainda não conseguiu vencer.
Na Fase
sub-humana de sua evolução, quando o instinto de conservação sobrelevava a
qualquer outro, determinando-lhe o modus vivendi, sempre que conseguia
alimentos em abundância, entupia-se de tanto comer porque não sabia se no dia
seguinte poderia fazê-lo.
Ainda hoje, não
é outra a preocupação dos avarentos: guardam e protegem com unhas e dentes seus
haveres materiais, com receio de que, num futuro propinquo ou longínquio, lhes
venha a faltar o indispensável à subsistência.
Muitas vezes, o
que conseguiram amealhar é mais que suficiente para garantir-lhes largos anos
de vida, a salvo de problemas financeiros, podendo, por conseguinte,
satisfazer-se com as boas coisas deste mundo.
Encarecendo,
porém, em demasia, a necessidade de prevenir-se contra as incertezas do “amanhã”,
não se permitem qualquer gozo que implique gasto de dinheiro, impondo, desse
modo, a si mesmo e aos que vivem sob sua dependência econômica, um regime de
miséria simplesmente execrável.
Assim, conquanto
tenham a ilusão de possuir fortuna na verdade são são por ela possuídos, e ao
invés de disporem dela, como senhores, a ela se subordinam, quais meros
escravos.
A avareza torna
o homem insensível, endurece-lhe o coração, sufoca-lhe os sentimentos nobres,
fazendo que repila sistemátivamente quantos apelos lhe sejam feitos em nome da
solidariedade humana. Redu-lo a indigente moral digno de lástima, muito mais
infeliz que os próprios mendigos aos quais recusa uma esmola.
Sim, porque os
avarentos atravessam a existência insatisfeitos e intranqüilos, desejando, por
um lado, aumentar cada vez mais seus cabedais, temendo, por outro, que alguém
lhos roube.
Ao transporem as
fronteiras da morte – di-lo o Espiritismo – longe de cessarem, aí é que suas
aflições se exacerbam.
Imanizados ao “seu”
tesouro, assistem, desesperados, à partilha do mesmo entre os familiares, que
em lugar de preces agradecidas, quase sempre só lhes dirigem chacotas e
impropérios, verberando-lhes a sovinice.
Não podendo
impedir tal divisão, acompanham os passos dos herdeiros e, vendo-os dissiparem
em pouco tempo, o que levaram anos e anos para acumular, enfurecem-se, esbravejam,
choram, sofrendo a cada cédula despendida uma apunhalada atravessar-lhes o
peito.
Segundo o
Evangelho, ser avarento é incluir-se entre os adoradores de Mamon, o que vale
dizer, confiar mais no poder do dinheiro do que na Providência Divina, prendendo-se
às ilusões terrenas em detrimento da conquista do reino do céu.
Alijemos, pois,
de nós esse vício desprezível.
Deus é pai
amantíssimo e, creiamo-lo jamais deixou ou deixará sem socorro a nenhum de Seus
filhos.
Como disse Jesus
no sermão da Montanha, se Ele não descuida das flores e das aves, vestindo-as e
alimentando-as com carinhoso desvelo, quanto mais o não fará por nós?
Se repararmos
bem, haveremos de perceber que, graças à Sua infinita misericórdia, nossa sorte
é mais ditosa do que o merecemos, não sendo melhor ainda por culpa nossa
exclusivamente.
É que, mantendo
as mãos fechadas, segurando avaramente o que temos, ficamos com esse gesto,
impossibilitados de receber as muitas dádivas que Deus está a nos ofertar,
constantemente, para que nada nos falte e vivamos, todos, alegres e venturosos.
Livro: Páginas
de Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
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