“E navegando,
Ele adormeceu; sobreveio uma
tempestade de ventos no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em
perigo. E chegando-se a Ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, estamos
perecendo. E Ele levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e
cessaram, e fez-se bonança. E disse-lhes: Onde está fossa fé – Jesus / Lucas,
8: 23-24.
Conhecedores da
bondade e da justiça divina, realizadas através das sucessivas reencarnações
com que somos agraciados, deveríamos entender e aceitar com tranqüilidade e paciência
as perturbações e sofrimentos que porventura nos acometem. Entretanto, não é
isso o que geralmente sucede.
Quando o
sofrimento bate à nossa porta, muitas vezes, a melancolia, a tristeza, o
desespero e a apatia recaem sobre nós.
As belas
palavras de coragem e ânimo que, em muitas ocasiões, nós mesmos proferimos,
tentando levantar irmãos cambalidos, não nos fazem efeito algum, ecoam em
nossas mentes, mas não se fixam, e diminuem suas freqüências até
extinguirem-se.
Os livros e as
orações que antes nos estimulavam, convidando-nos a elevar o pensamento a
regiões de paz e alegria, já não conseguem erguer-nos a um centímetro do solo
enrijecido pela frieza de nossas emoções.
Os problemas
parecem não ter fim muito menos soluções. Por mais que tentemos imaginar saídas,
nada se aclara, nada se abre.
Nosso pensamento
se fixa nas dificuldades como uma única idéia, e nela revira-se e remói-se, não
dando espaço e nem condições para que surja, desse lodaçal em que nos
emaranhamos, uma flor simbolizando a esperança que nunca deveria esmorecer.
Nossas preces
tornam-se súplicas, nas quais o lamento confunde-se com o ceticismo. O desespero
faz-nos acreditar não estarmos sendo ouvidos, e nem tampouco atendidos em
nossas solicitações.
Nesse momento,
então, sentimo-nos sós, desalentados, tristes e com medo. Medo do que supomos
acontecer, do que nossa mente intranqüila e febril espera que aconteça.
Até esse ponto,
quase todos nós já chegamos em determinados momentos de nossas existências. Os problemas,
as situações, os motivos devem ter sido os mais variados possíveis, mas o
sentimento de impotência com relação a eles, com certeza, foi o mesmo.
O que difere em
cada um de nós é a maneira como lidamos com as situações: se nos resignamos e
procuramos entender a vontade de Deus; se mesmo enfraquecidos na fé persistimos
e aguardamos a Providência Divina; se a orientação intuitiva dirigida a nós
pelos protetores espirituais se fez ouvida e a paciência tornou-se absoluta. E,
se mesmo com o fel da revolta, suportamos essa tormenta em nossas existências,
com certeza algo ganhamos, adquirimos para o nosso espírito (que somos nós,
nossa essência eterna). A Vida mostrou-nos sua importância, ficamos com ela e,
portanto, vencemos.
Este é o grande
momento em que a vida é repensada, a fé questionada e os valores ponderados. Todo
aquele que prossegue mesmo em dor entende que a vida é o bem de maior valia que
o Criador nos concede, preparando-nos para limpar nossas almas as manchas do
passado, encaminhando-nos para um glorioso porvir.
Infelizmente, há
aqueles para quem a vida perde seu significado sublime, as vozes de intercessores
encarnados e desencarnados não se fazem ouvir, o desencanto lhes anuvia a mente
e o coração já não se esforça pelo ritmo da existência.
O medo e a
desilusão entorpecem-lhes os sentidos, e a vida tão almejada, tão cobiçada por
todas as criaturas que dela necessitam, é arrancada por vontade própria,
contrariando os desígnios do alto e dando início a um período de suplícios,
permeando ambos os planos de existência, para que a lei faça seu justo
equilíbrio.
Livro: O Valor
da Vida.
Humberto Pazian.
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