Clamas que o tempo está curto;
Contudo, o tempo replica:
- “Não me gastes sem proveito,
Simplifica, simplifica.”
E’ muita conta a buscar-te...
Armazém, loja, botica...
Aprende a viver com pouco,
Simplifica, simplifica.
Incompreensões, chicotadas?
Calúnia, miséra, trica?
Não carregues fardo inútil,
Simplifica, simplifica.
Encontras no próprio lar
Parente que fere e implica?
Desculpa sem reclamar,
Simplifica, simplifica.
Se alguém te injuria em rosto,
Se te espanca ou sacrifica,
Olvida a loucura e segue...
Simplifica, simplifica.
Recebes dos mais amados
Ofensas que não se explica?
Esquece a lama da estrada,
Simplifica, simplifica.
Alegas duro cansaço,
Queres casa imensa e rica;
Foge disso enquanto é tempo,
Simplifica, simplifica.
Crês amparar a família
Pelo vintém que se estica?
Excesso cria ambição.
Simplifica, simplifica.
Dizes que o mundo é de pedra,
Que as provas chegam em bica;
Não deites limão nos olhos,
Simplifica, simplifica.
Recorres, em pranto, ao Mestre,
Na luta que te complica,
E Jesus pede em silêncio:
Simplifica, simplifica.
Poeta
fluminense, nascido em Vassouras - cidade serrana do Estado do Rio de Janeiro -
a 14 de abril de 1880.
Procedente de
lar muito pobre, filho de Casimiro Augusto da Cunha e Maria dos Santos Cunha,
teve uma única irmã, Leonor. Órfão de pai aos 7 anos, freqüentou apenas o curso
primário. Espírita convicto, torna-se cego de um olho aos 14 anos após
acidente, vindo a perder completamente a outra visão aos 16 anos. Ainda jovem
iniciou sua colaboração na imprensa vassourense. Foi um dos fundadores do
Centro Espírita "Bezerra de Menezes" em Vassouras.
Aos 29 anos, em
04 de dezembro de 1909, casou-se com Carlota Mattoso Cunha, companheira
dedicada e carinhosa, que muito o auxiliou nos afazeres literários, passando
para o papel as poesias ditadas pelo poeta. Tiveram dois filhos: Dalpes e
Delba, nomes dados em referencia à ilha de Elba e aos montes Alpes. O filho
desencarnou ainda criança; a filha casou-se, residindo na capital fluminense,
tendo desencarnado em junho de 1993.
Espírito jovial,
exemplo de resignação e grande força moral, apesar da cegueira e dos parcos
estudos, Casimiro Cunha era um poeta nato, tendo produzido mais de 10 livros,
dentre eles " Violetas ", " Efêmeros
", " Aves Implumes ", " Singelos ", "
Perispíritos " (1912), além do livro póstumo " Álbum de Delba "
(1923). No entanto, não teve maior projeção no cenáculo literário do seu tempo,
mau grado a suavidade da sua musa e os inatos talentos literários.
Merece registro
a profunda amizade existente entre Casimiro Cunha e Batuíra, que ajudava o
amigo vassourense, divulgando suas poesias nas colunas da revista espírita
" Verdade e Luz" fundada por Batuíra em 25 de maio de 1890, na
capital paulista. A convite de Casimiro, Batuíra esteve algumas vezes em
Vassouras para divulgar a doutrina espírita naquela região.
É de Casimiro
Cunha a poesia " Vassouras à tardinha " (publicada no livro "
Fatos Vassourenses " de Jorge Pinto e no livro " Paisagens
Fluminenses " de Jacy Pacheco) e o soneto " No Exílio " do livro
" Sonetos Brasileiros " de Laudelino Freire.
Numa casa
singela da Rua Caetano Furquin, nº 288 em Vassouras, encontramos uma lembrança
de amigos, conterrâneos e admiradores, com os seguintes dizeres: "Aqui
nasceu e morreu Casimiro Cunha, maravilhoso poeta vassourense que muito cantou,
amou e honrou sua terra natal".
Forte no
infortúnio, que sabia aproveitar no enobrecimento de sua fé, Casimiro Cunha,
voltou-se às paragens celestiais e adotou a linguagem dos anjos para se
comunicar com os homens. Sua poesia é bela, terna, envolta em névoa de
tristeza, uma exaltação à morte, evidenciando, contudo, a resignação do
espírito que buscava sublimar todo o sofrimento que lhe ia na alma.
Lembramos aqui
as palavras do amigo e companheiro de ideal, poeta e jornalista valenciano,
radicado em Vassouras, Manoel Quintão, que soube definir como poucos a grandeza
espiritual de Casimiro Cunha, no prefácio do livro "Singelos",
publicado em 1904:
"Livro de
um cego que fechou os olhos às misérias da Terra, para melhor escrever as
belezas do Céu".
Casimiro Cunha
desencarnou aos 34 anos em 7 de novembro de 1914 deixando vasta e preciosa obra
literária. Foi sepultado no Cemitério Municipal de Vassouras, imortalizado com
o seguinte epitáfio: "O poeta
vassourense Casimiro Cunha e seu filho Dalpes".
Desencarnado,
continuou a brindar-nos com seus versos, através da mediunidade abençoada de
Chico Xavier com" Cartilha da Natureza", "Cartas do Evangelho
", " Gotas de Luz ", " Juca Lambisca " e participação
em inúmeras antologias.
Hoje, Casimiro
Cunha é o inspirador da Divulgação Braille Casimiro Cunha, departamento do GEEM
- Grupo Espírita Emmanuel de São Bernardo do Campo, cujo objetivo é a
divulgação da Doutrina Espírita para os deficientes visuais.
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