“... Jesus lhes respondeu: É por causa da
vossa incredulidade. Porque eu vô-lo digo em verdade: se tivésseis fé como um
grão de mostarda, diríeis a esta montanha: transporta-te daqui para ali, e ela
se transportaria, e nada vos seria impossível.” (Evangelho Segundo o
Espiritismo – Allan Kardec,Capítulo 19, item 1.)
Fé é sentimento
instintivo que nasce com o espírito. Crença inata, impulso íntimo fundamentado
na "certeza absoluta" de que o Poder Divino, em toda e qualquer situação, está
sempre promovendo e ampliando nosso crescimento pessoal.
Essa convicção
inabalável na “Sabedoria Divina”, que é a própria Inteligência que rege a tudo
e a todos, atinge sua plenitude nas criaturas mais evoluídas. Tais valores se
encontravam inicialmente em estado embriomírio e, ao longo das encarnações
sucessivas, estruturaram-se entre as experiências do sentimento e do raciocínio.
Como em todas as
manifestações de progresso, também esse impulso intuitivo do ser humano ligado
às faixas da fé é resultado de um desenvolvimento lento e progressivo.
Por exemplo, a
criança não pode manifestar a habilidade de falar, sem ter atravessado as fases
básicas da fonética, isto é, resmungar, balbuciar, soletrar e silabar.
Desse modo, o
ser imaturo, apesar de criado com esse sentimento instintivo da fé, também
atravessa um vasto período de desenvolvimento, que não se dá por mudanças
abruptas, mas por uma série de sensações e percepções, às vezes mais ou menos
demoradas, conforme a vontade e a determinação do próprio espírito.
Conseqüentemente,
a fé plena não é só conquista repentina que aparece quando queremos; é também
trabalho desenvolvido e assimilado ao longo do tempo.
Ela pulsa em
todas as criaturas vivas e agita-se nas menores criações do Universo.
Encontra-se na
renovação do mineral rompido, que se restaura a si mesmo; aparece no
fototropismo das plantas em crescimento; impulsiona o “relógio interno”, que
incita as aves a efetuar suas migrações, quase na mesma época em todos os anos;
aguça o “regresso ao lar”, ou seja, estrutura a capacidade de orientação e
localização observada em certos animais domésticos.
A fé também
estimula o homem selvagem a nutrir a crença na existência de um ser supremo,
que eles adoram nos fenômenos e elementos da Natureza.
Entendemos,
dessa forma, que a fé não equivale a uma “muleta vantajosa” que nos ajuda
somente em nossas etapas difíceis, nem “providências de última hora” para
alcançarmos nossos caprichos imediatistas. Ter fé é auscultar e perceber as “verdadeiras
intenções” da ação divina em nós e, acima de tudo, é o discernimento de que
tudo está absolutamente certo.
Nada está errado
conosco, pois o que chamamos de “imperfeição” no mundo são apenas as lições não
aprendidas ou não entendidas, que precisam ser recapituladas, a fim de que
possamos nos conhecer melhor, assim como as leis que regem nossa existência.
Ter fé em Deus é
reconhecer que a Natureza, “Arte Divina”, garante nossa própria evolução. Mesmo
quando tudo pareça ruir em nossa volta, é ainda a fé amplamente desenvolvida
que nos dará a certeza de que, mesmo assim, estaremos sempre ganhando, ainda
que momentaneamente não possamos decifrar o ganho com clareza e nitidez.
No Universo nada
existe que não tenha sua razão de ser. Tudo aquilo que parece desastroso e
negativo em nossa existência, nada mais é que a vida articulando caminhos, para
que possamos chegar onde estão nossos reais anseios de progresso, felicidade e
prazer. A criatura que aprendeu a ver o encadear dos fatos de sua vida, além de
cooperar e fluir com ela, percebe que aquilo que lhe parecia negativo era
apenas um “caminho preparatório” para alcançar posteriormente um Bem Maior e
definitivo para si mesma.
As grandes
tragédias não significam castigos e punições, porém maiores possibilidades
futuras para a obtenção de uma melhoria de vida íntima e, paralelamente, de
plenitude existencial.
Em face dessas
realidades, a fé aperfeiçoada faz com que possamos avaliar em todas as
ocorrências uma constante renovação enriquecedora. Quando todas as árvores
estão despidas, é que se inicia um novo ciclo em que elas reúnem suas forças
embrionárias e instintivas da fé para novamente se vestir de folhas, flores e frutos.
Tudo na Natureza
obedece a “ritmos”. São processos da vida em ação. No final de um ciclo, nossa
energia declina para, logo em seguida, reunirmos mais forças para uma nova
incursão renovadora.
A cada nova
etapa de crescimento, talvez nos sintamos temerosos e inseguros, a exemplo de certos animais
que perdem momentaneamente seus revestimentos protetores. Depois, no entanto,
nos sentiremos melhor adaptados, ao nos cobrirmos com elementos e estruturas
mais eficientes, e que nos permitam prosseguir mais ajustados em nosso novo
estágio evolutivo. Assim acontece com todos. Seremos atingidos por um “sereno
bem-estar” quando visualizarmos antecipadamente as porvindouras oportunidades
de reconforto, prosperidade e segurança que a vida nos trará após atravessarmos
os “ciclos amargos” do renascimento interior.
A confiança em
que tudo está justo e certo e em que não há nada a fazer, a não ser melhorar o
nosso próprio modo de ver e entender as coisas, alicerça-se nas palavras de
Jesus: “até os fios de cabelo da nossa cabeça estão todos contados” ( Jesus –
Lucas 12:7). É a convicção perfeitamente ajustada a uma compreensão ilimitada
dos desígnios infalíveis e corretos da Providência Divina.
Em muitas
ocasiões, somente usando os recursos interpretativos da fé, nos grandes choques
e tragédias, é que podemos notar o “processo de atualização” que a vida nos
oferece, porquanto o significado de um acontecimento é captado em plenitude
apenas quando “decifrado”.
É o único
caminho que nos permitirá encontrar a verdadeira compreensão e entendimento dos
fatos em si.
Entretanto,
quando não traduzimos no decorrer dos acontecimentos nossos episódios
existenciais, sentimos que nossa vida vai-se tornando inexpressiva, sem nenhum
sentido, porque vamos perdendo contato com as mensagens silenciosas e sábias
que a vida nos endereça.
Aqui estão
algumas interpretações de fatos aparentemente negativos, quando na realidade
são profundamente positivos:
— Para vencermos
a doença é necessário interpretar o que o sintoma quer nos alertar sobre o que
precisamos fazer ou mudar para harmonizar nosso psiquismo descontrolado.
— Sucessivos
acontecimentos de “abandono” e “decepção” em nossa vida são mensagens
silenciosas alertando-nos que nosso “grau de ilusão” ultrapassou os limites
permitidos.
— Perda de
criaturas queridas pode ser a lição que nos vai livrar de atitudes possessivas
e de apegos patológicos, tanto para quem parte como para quem fica.
— Alucinação e
loucura podem nos adestrar para maiores valorizações da realidade,
afastando-nos de fantasias e aparências.
— Vícios de
qualquer matiz podem estabelecer nos indivíduos normas corretivas na vida
interior, a fim de que aprendam a lidar e a controlar melhor suas emoções e
sentimentos.
— Traição
afetiva pode nos exercitar na fiscalização de nosso “grau de confiabilidade” e “vulnerabilidade”
perante os outros.
— Desprezo ou
desconsideração podem ser emissões educativas, impulsionando-nos a um maior amor a nós
próprios.
O ser humano de
fé não é crédulo nem fanático; é antes o indivíduo que distingue os lucros e
vantagens inseridos nos processos da vida. Compreende a seqüência de fatos
interconectados aprimorando-se paulatinamente para intensificar sua
estabilidade e harmonia e, como conseqüência, seu engrandecimento espiritual.
Em síntese, a fé
como força instintiva da alma guarda em si possibilidades transcendentes e
poderes infinitos. Ao ampliá-la, o homem se potencializa vigorosamente, fluindo
e contribuindo com o próprio ritmo da vida como um todo.
O “grão de
mostarda”, na comparação de Jesus Cristo, representa a minúscula semente como sendo o “impulso
imanente” que começa a se formar no “princípio inteligente”, nos primeiros
degraus dos reinos da Natureza. Ao longo dos tempos, se transmuta,
desenvolvendo potencialidades inatas, e, futuramente, se transforma num ser
completo e de ações poderosas.
Devemos
compreender, por fim, que o “poder da fé” realmente “transporta montanhas” e
que para o espírito nada é inacessível, pois, quando percebe a razão de tudo e
interpreta com exatidão a sabedoria de Deus, a vida para ele não tem fronteiras.
Ao ampliarmos
nossa consciência na fé, sentiremos uma inefável serenidade íntima, porque
conseguimos entender perfeitamente que, no Universo, tudo está “como deve ser”;
não existe atraso nem erro, somente a manutenção e a segurança do “Poder Divino”
garantindo a estabilidade e o aperfeiçoamento de suas criaturas e criações.
Livro: Renovando
Atitudes.
Espírito: Hammed
Médium:
Francisco do Espírito Santo Neto.
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