Como se sabe, os
grandes expoentes das artes jamais se deram por satisfeitos com aquilo que
conseguiram realizar, não obstante suas produções se constituíssem de
verdadeiras obras-primas; os cientistas, da mesma forma, desenvolvem
permanentemente renovados esforços para aperfeiçoar tudo quanto existe a
serviço do conforto e do bem-estar da Humanidade, fenômeno esse que prova a
insaciedade do espírito em seus anseios de glória e de progresso.
Mesmo entre as
criaturas comuns, que nada têm de geniais, existirá quem não sinta, latente,
dentro de si, esse desejo, sempre insatisfeito, de aprender, de conhecer coisas
novas, de dilatar a esfera de seus conhecimentos, de desbravar os mistérios da
natureza, de percorrer, um por um, todos os meandros das artes e das ciências?
Não cremos, a
menos que se trate de seres anormais, porqüanto esse impulso é natural e
inerente à espécie humana; natural, dizemos, porque decorrente da idéia inata
que se acha enraizada nas profundezas de sua consciência psíquica — a da
certeza de sua imortalidade e de sua semelhança com o Criador, ao Qual se
dirige, tal qual as plantas heliotrópicas se voltam para o Sol quando ele
esplende no horizonte.
Sim, a intuição
da imortalidade é um fato, mesmo naqueles a quem a desilusão desta vida ou o
orgulho fátuo levaram a abraçar as teorias malsãs do materialismo dissolvente,
que por ai campeia, nestes últimos tempos, conturbando razões e anulando
caracteres.
Ora, se a vida
se limitasse ao insignificante ciclo do berço ao túmulo, se tudo findasse com a
morte ou se a sobrevivência da alma se verificasse em condições tais que não
comportasse nenhuma espécie de atividade, qual a origem, a causa, o motivo
dessa sede de saber, desses desejos veementes de progresso, que não cessam
jamais, a que nos referimos linhas acima?
Mas, não; a vida
atual não é senão uma das fases da vida infindável, e a morte,
consequentemente, não pode ser o término, porém simplesmente a junção, isto é,
o umbral pelo qual passamos da vida corpórea para a vida espiritual, donde
volveremos ao proscênio da Terra, a fim de representarmos os inúmeros atos do
drama grandioso e sublime que se chama Evolução.
Temos, dentro de
nós, em estado virtual, os germens dos nossos futuros desenvolvimentos. Como,
porém, assimilar todos os conhecimentos do gênio e adquirir todas as virtudes
da santidade numa única existência? Impossível! Daí a lei sábia e bendita dos
renascimentos.
Ser bom não é
tudo. Ser sábio não basta. É preciso ser bom e sábio.
Urge, no
entanto, crescer primeiramente em virtude e depois em sabedoria, porque a
virtude do ignorante (a palavra ignorante, aqui, não tem o sentido pejorativo em
que é empregada comumente) pode ser utilizada, perfeitamente, em benefício da
coletividade, ao passo que a sabedoria nas mãos de um malvado pode converter-se
numa arma terrível. Haja vista o que vai pelas chamadas grandes nações, onde os
homens têm a inteligência prenhe de conhecimentos científicos, mas conservam
seus corações. duros, fechados aos códigos da moral evangélica.
O virtuoso sem
sabedoria é um fruto silvestre: não satisfaz à vista, mas sacia a fome. O sábio
sem virtude é uma flor artificial: tem beleza, mas não tem perfume.
Jesus é o
protótipo da bondade e da sabedoria conjugadas e desenvolvidas em grau máximo.
Imitá-lo, seguir-lhe as pegadas, eis o nosso alvo. Aliás, ele mesmo o disse:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.
Aqueles, cuja
razão não pode, ainda, admitir a realidade das vidas sucessivas, como meio de
depuração e perfectibilidade dos espíritos, em seu heliotropismo para Deus,
lancem as suas vistas para os inúmeros povos disseminados pelo planeta,
identifiquem-se com seus usos e costumes, bem assim com seus valores materiais
e espirituais. Comparem, depois, o patrimônio cultural de cada um e
verificarão, assombrados, quanto é enorme a diferença que separa os bárbaros e
os selvagens (alguns até antropófagos), que habitam determinadas regiões do globo,
dos homens civilizados das grandes metrópoles.
O contraste é
chocante, mas perfeitamente explicável, desde que os consideremos como
espíritos em diversos graus de adiantamento, aglutinados em suas respectivas esferas.
Exclua-se,
porém, a hipótese (digamos assim) reencarnacionista, isto é, negue-se aos
brutos o direito ou a possibilidade de se adaptarem, através de múltiplas
existências, aos centros urbanos, e estar-se-á negando a Providência Divina,
emprestando a Deus paixões que Ele não tem e preferências que aberram dos Seus
soberanos atributos.
A lei da
reencarnação ou pluralidade das existências, por conseguinte, por atestar a
justiça e a sabedoria de Deus, constitui o único meio através do qual poderemos
atingir a meta dos nossos destinos, destinos esses consubstanciados naquelas
imorredouras palavras do Cristo: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
Celestial”. (Capítulo 6º, questão 753 e seguintes).
Livro: Leis
Morais.
Rodolfo Calligaris.
Estudando O
Livro dos Espíritos – Allan Kardec.
Crueldade
753. Por que
razão a crueldade forma o caráter predominante dos povos primitivos?
Nos povos
primitivos, como lhes chamas, a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se
entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades
além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam e é o que os
torna, em geral, cruéis. Demais, os povos de imperfeito desenvolvimento se
conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são
simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa
influência.
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