“Não penseis que
eu tenha vindo trazer a paz à terra, não vim trazer a paz, mas a espada,
porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a
nora; e o homem terá por inimigos os de sua própria casa.” Jesus / Mateus,
10:34-36.
“Vim para lançar
fogo à terra, e o que é que desejo senão que ele se acenda? Tenho que receber
um batismo e quão ansioso me sinto para que ele se cumpra! Julgais que eu tenha
vindo trazer a paz à Terra? Não, eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão,
pois, estarão divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra
três. O pai estará em divisão com o filho e o filho com o pai, e a mãe com a
filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra.” Jesus /
Lucas, 12:49-53.
Estranhas palavras
para aquele cujo nascimento foi saudado pela milícia celestial com este suave
cântico: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na Terra aos homens, a quem
ele quer bem!”. Lucas, 2:14.
Não contradizem
frontalmente estas outras, por ele mesmo proferidas no terno colóquio que teve
com seus discípulos, pouco antes de ser crucificado: “A paz vos deixo, a minha
paz vos dou, eu não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração,
nem fique sobressaltado?”. Jesus / João, 14:27.
Tomadas em
sentido literal, não há dúvida de que seriam um desmentido ao seu caráter
afável e bondoso, assim como ao pacifismo de sua missão.
Penetrando-se,
porém, seu verdadeiro significado, elas dão o testemunho da altíssima sabedoria
de Jesus, pois encerram a previsão do que ocorreria no mundo, ao longo dos
séculos, até o triunfo dos postulados cristãos.
Sua referência à
divisão e à inimizade que se estabeleceriam entre membros de uma mesma família
(a cristandade), é uma alusão às numerosas igrejas que vieram a formar-se sob a
égide do Evangelho, cada qual pretendendo possuir o monopólio da verdade e das
graças celestiais, mas que, olvidando completamente o preceito básico do mesmo:
“O amor ao próximo” entraram a lançar maldições umas contra as outras e,
substituindo a cruz pela espada, praticaram, em nome de Deus!, os mais
impiedosos e cruéis assassínios que imaginar se possa.
Culpa da
doutrina de Jesus? Não, pois toda ela é calcada na caridade, na brandura e na
tolerância.
Responsabilidade
total, absoluta, isto sim, daqueles que a interpretaram falsamente,
transformando-a em instrumento apropriado à satisfação de seus desejos espúrios
de domínio e exploração dos povos!
Quanto às
expressões: “vim para lançar fogo à Terra, e o que é que desejo senão que ele
se acenda? Tenho que receber um batismo, e quão ansioso me sinto para que ele
se cumpra”, significa que os novos princípios por ele expostos haveriam de,
certamente, encontrar forte resistência, porquanto não é próprio da natureza
humana o modificar-se ràpidamente, aceitando de pronto inovações em seus
hábitos e instituições, menos ainda quando impliquem sacrifício pessoal ou
infirmem posições que se tenha interesse em manter.
Esse batismo de
fogo, pelo qual Jesus se mostrava ansioso, não era outra coisa, senão a luta
que os belos e nobres ideais do Cristianismo precisou enfrentar, e continua
enfrentando, para que os privilégios, a tirania e o fanatismo venham a
desaparecer da face da Terra, cedendo lugar a uma ordem social fundada na
justiça, na liberdade e na concórdia.
Trabalhemos todos,
na medida de nossas forças, para que seja apressada essa nova era, porque só
então poderá a felicidade fazer morada em nossos corações.
Livro: Páginas
de Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
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