Entre os
chamados “pecados capitais” do gênero humano, nenhum outro há sido tão
condenado quanto a luxúria, considerando-se tal todos os abusos e extravagâncias
sexuais.
Trata-se, com
efeito, de um vício de conseqüências terrivelmente danosas: gera enfermidades,
avilta caracteres, produz loucuras, inspira crimes, arruína lares, destrói
civilizações.
Em toda a face
da terra, milhões de indivíduos, diariamente, são por ele levados ao
desmantelamento físico, mental e espiritual, contaminando-se, portanto, um
flagelo da humanidade.
Lamentàvelmene, porém,
até aqui, muito se tem falado e escrito sobre sexo, mas apenas para exprobrá-lo
e apontar-lhe os aspectos escabrosos, negativos, quando fora de maior proveito
explicá-lo, à luz da Ciência, realçar-lhe as nobilíssimas funções, educando as
criaturas para que o não pervertam, antes o utilizem qual precioso instrumento
de equilíbrio psicossomático, como de fato o é.
O Espiritismo,
trazendo novas luzes sobre o assunto, esclarece-nos que o sexo é faculdade
criadora da alma, a serviço do Amor, sendo os órgãos genitais masculinos e
femininos apenas o seu aparelhamento de exteriorização, assim como os olhos o
são para a vista, o cérebro para o pensamento etc. (No Mundo Maior, cap. XI – André
Luiz / Chico Xavier).
Tal faculdade, a
principio, manifesta-se, assim, como mero desejo, satisfazendo-se com a posse.
Isso, todavia, é apenas o primeiro estágio de um processo evolutivo que deve
alcançar a sublimação, transformando-se, gradativamente, em simpatia, carinho,
devotamento, renúncia e sacrifício.
Aqui na terra, é
enorme o número daqueles que se demoram em expressar amor exclusivamente
através do ato sexual.
Outros,
conquanto se tenham adiantado um pouco, conhecendo a simpatia e o carinho, são,
no entretanto, mui ciumentos, demonstrando que o egoísmo ainda impera em seus
corações.
Uns poucos ascenderam,
já, à face do amor-devotamento, em que o amante vive mais para os seres amados
do que para si mesmo, havendo igualmente, posto que raros, os que, por amor,
são capazes dos mais belos gestos de renúncia.
Quanto ao
amor-sacrifício, só o encontramos nos santos. Sua exemplificação máxima é a que
nos foi dada por Jesus.
Assim, entre o
amor inconsciente e animalizado do bruto, e o amor divinizado do Cristo, há uma
longa e gloriosa trajetória, ou seja, todo um aprendizado de autodomínio,
disciplina, responsabilidade, abnegação e ternura, a demandar de cada alma,
experiências cruciantes e purificadoras, que só em milênios, vida após vida, se
logrará cumprir.
Auxiliemos,
então, todos os que, situados nos primeiros degraus da Sabedoria, padecem as
angústias do sexo, ensinando-lhes que a felicidade verdadeira não se obtém tão
somente com o comprazimento do instinto.
Embora a muitos
custe crer, o sexo é, como dissemos acima, uma faculdade da alma e não do corpo
físico, oferecendo-nos vastos horizontes e mundos sempre novos, em que
expandirmos novos anseios de amar e ser amados. Pode, pois, cada qual, dar
vazão aos seus impulsos e descarregar suas tensões em várias atividades nobres,
canalizando suas energias para as funções da mente e do coração.
Oportuno, nesta
altura, desfazer o equivoco de que a contenção do ato sexual, praticada em nome
de um ideal de pureza, venha a constituir-se causa de recalques e frustrações
capazes de gerar perturbações neuróticas.
A psicologia
moderna afirma, ao contrário, que a disciplina moral é absolutamente necessária
para a saúde física e mental do homem, o que vale dizer, para a sua integração
e paz interior.
Urge, pois,
afastar nosso pensamento da lubricidade, desvencilhar-nos das malhas do
instinto e, inspirados no amor cristão, buscarmos, em cada dia da vida, burilar
nossos sentimentos, aperfeiçoando-lhes as manifestações.
Estudar ou
escrever páginas edificantes, esculpir ou pintar uma obra de arte, cantar ou
executar uma peça musical, assim como dedicar-nos a uma instituição de amparo à
infância abandonada ou à velhice desvalida, socorrer os enfermos, prover às
necessidades da pobreza, eis alguns dos excelentes meios de que podemos
valer-nos, no sentido de aprimoramento de nossas forças criadoras.
Utilizando-os
estaremos realizando nossa libertação espiritual, aproximando-nos cada vez mais
da unidade e da harmonização com Deus.
Livro: Páginas
do Espiritismo Cristão.
Rodolfo
Calligaris.
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